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Posts Tagged ‘peace’

Porque o mal se espalhou

14 jan

É verdade que o mal é ausência do bem, assim interpretou Agostinho de Hipona sobre a essência do Ser que é o bem e sua falta como a produz, em nossos posts anteriores também discorremos sobre as virtudes cardeais afirmando que além da Justiça, que é relativamente pensada nos dias atuais, existe a prudência e a sabedoria que deveriam acompanha-las.
As virtudes teologais: fé, esperança e Amor devem acompanhá-las, porém também elas foram comprometidas pela ausência de sabedoria, mais do que desinformação e pós- verdade, é tempo de desconhecimento e ignorância, até mesmo escolar, primária.
Também o poder, através de valores estruturais e formas autoritárias de exercê-lo, contribui para a intolerância e o desprezo pelo conhecimento e valores morais, isto levado a um limite social e estrutural chegamos a guerra.
A prudência e a tolerância entram então não como virtudes secundárias, mas essenciais.
Não há esperança, nem amor e nem fé, onde a intolerância e a exclusão fazem parte do dia-a-dia e infelizmente este discurso está até mesmo na boca daquele que falam do Amor, do respeito ao Outro e da inclusão.
Isto acontece porque as relações são dualistas e não trinitárias, além de mim e o Outro deveria haver um terceiro incluído, na física quântica isto já foi descoberto como um princípio até mesmo da matéria, portanto não é apenas divino, é a própria realidade.
Assim em diversas épocas de nossa história foi por meio da violência que impérios e ditadores impuseram suas vontades e ideologias, não sem o consentimento de boa parte da população, por isso lembramos da má educação, seja através de campanhas de propaganda, seja pela própria escolarização empobrecida e malformada, as duas questões estão ligadas.
É preciso por isto estar atentos a gestão em todos os níveis, desde as nossas casas, bairros e condomínios até as estruturas de poder, pequenas ações ilegítimas, educação para empatia, convivência, limpeza e até mesmo o lazer devem ser observadas e orientadas pelos gestores e órgãos públicos no sentido de preservar o espaço comum e os bens públicos.
O zelo pela honestidade, pela transparência, pelo diálogo respeitoso entre opiniões que não são necessariamente opostos, mas diferentes ainda que em direções completamente divergentes não deve ser motivo de ódio e violência, é sempre possível o diálogo.
O mal precisa da polarização, da radicalização dualista (na negação, há um sentido bom que é ir a raiz de um problema), porém a pura desavença como forma de justificar e propagar a violência é só uma forma arrogante de poder.

 

Entre a guerra e a esperança

13 jan

Crescem em todo o mundo rumores de novas guerras, até mesmo os pacíficos Canadá e Groenlândia foram ameaçados por falas incompreensíveis do novo governo dos EUA de Donald Trump que toma posse em breve, a queda do governo Trudeau no Canadá, que foi comemorada pela população, demonstra as recentes fragilidades do país.

A guerra no leste europeu segue com pesadas baixas e agora já há muitos bombardeios em território russo: campos de petróleo e localizações estratégicas militares como as de Engels, a base aérea de Rostov do Don e da região de Lipetsk, enquanto a Ucrânia perde soldados e territórios. 

Também as bases dos rebeldes Houthis no Iêmen foram bombardeadas por Israel, gerando protestos em vários países árabes, o conflito segue com várias denuncias de organizações humanitárias e aliados antissemitas.

A tensão também ficou elevada com a pose do ditador Nicolas Maduro na Venezuela que segue sem qualquer possibilidade de solução pacífica por uma crise que já está além do ideológico, os governos do Chile e da Colômbia também contestam as fraudes nas eleições de lá, e o governo que aparentemente foi eleito Gonzales Urrutia chegou a ameaçar que iria à Venezuela para a posse, mas recuou após a prisão e soltura de sua vice Maria Corina Machado.

Também a guerra comercial entre China e EUA ganham novos contornos com o bloqueio de envio de materiais chineses para 28 empresas consideradas de uso suspeito de serviram tanto a propósitos civis quanto militares, em especial, aquelas que ajudam Taiwan a se armar.

Há esperança num quadro tão belicoso?  e a resposta sempre será sim, é bom lembrar que nestes momentos sempre surgiram líderes que proclamaram a paz: Mahatma Gandhi, o líder americano Martin Luther King, lideres religiosos sinceros (os que promovem a guerra devem ser colocados sob suspeita) e todos os milhões de pessoas que sabem que a guerra não traz benefícios e que em última instancia querem sempre o domínio de um povo sobre o outro.

Ainda que estas pessoas pareçam “idiotas” e ingênuas, a literatura é farta destes personagens, como já citamos na semana passada os personagens de Dostoiévski, lembro também de um filme dirigido pelo argentino Sebastián Boresztein (Um conto chinês, foto) que fala de uma amizade inesperada entre um ranzinza vendedor de ferragens e um migrante chinês chamado Jun.

A paz é sempre desejada em corações generosos e serenos, o conflito vive na cabeça de pessoas que olhar a todos com suspeita, veem inimigos onde não existem, ainda que falem de paz, o que querem é subjugar os que tem visões de mundo, cultura ou religião diferente.

 

Dostoiévski e a guerra

06 jan

Imaginar que toda literatura russa seja soviética, é antes de tudo a-histórico porque grandes mestres da literatura são anteriores ao período soviético: Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Anton Tchecov (1860-1904) e Leon Tostói (1828-1910), sem falar de Gogol, Pushkin e outros.

Dostoievski foi um mestre em explorar as questões éticas e espirituais em seus personagens, também aborda questões de fé, redenção e a busca pela verdade.

Dostoievski esteve preso por motivos políticos, seu estilo de literatura era realista, porém do ponto de vista filosófico para dar uma conotação mais precisa era um existencialista, suas ideias anti-czar (a monarquia russa) fazem muitos interpretes o colocam como “revolucionário”.

Dostoievsky pertenceu a um grupo conhecido como Circulo Petrashevsky, apesar de serem de correntes diferentes, eram majoritariamente progressistas e queriam o fim do feudalismo russo.

Entre suas obras mais conhecidas estão: Os irmãos Karamazov, O idiota e Crime e Castigo, embora sejam dramas éticos e existencialistas, há no interior destas obras o ideal do pan-eslavismo, um ideal de unidade entre todas as nações cristãs ortodoxas e eslavas e neste sentido eram conservadores, já que outras correntes defendiam a integração à Europa.

O Idiota, foi um romance iniciado em setembro de 1867 quando o autor estava em Genebra e concluído em janeiro de 1869 na cidade de Florença, só isto indicaria seu caráter universal e com temas que extrapolam o âmbito literário e político.

O idiota narra a estória do jovem príncipe Míchkin que, após vários anos em um sanatório na Suíça, regressa a Rússia e se depara com um mundo atolado na indolência e na vida material.

Ao contrário do título, o personagem visto por muitos como idiota por se recusar a valores e ao espírito de indolência regressando ao seu país, sente-se um idiota até certo ponto, porém nos ensina que é possível viver fora dos padrões antiéticos e imorais do seu tempo.

O personagem resolve ser cortês e sincero num mundo corrompido e escreve o autor sobre ele: “Ninguém deve esperar mais do que isso, de mim. Talvez aqui também me olhem como uma criança; não faz mal” e complementa: “Mas posso eu ser idiota, agora, se me sinto apto a ver, por mim próprio, que todo o mundo me toma por um idiota? Quando cheguei, pensei: “Bem sei que me tomam por um idiota; todavia tenho discernimento e eles não se dão conta disso!…”.

Assim o drama russo de viver o pan-eslavismo ou a integração ao ocidente já estava presente.

 

Testemunhar e agir na paz

03 jan

Pode parecer que a paz vista como uma nova maneira de pensar as relações pessoais e sociais, seja algo intimista ou pura “interioridade” (ela é complemento da exterioridade), mas não é, pois é possível agir conforme esta paz diferente daquela concebida como apenas humana.

Esta paz interior, que não é a que desenvolvemos no post anterior, não é aquilo que os gregos chamavam de ataxia, paz de espírito livre de medo, e nem a aponia, ausência de dor, que seriam os estados ideais de vida, a dor e o medo existem, em especial em momentos de crise.

Na verdade, é esta má relação com a dor e com o medo que faz a sociedade mergulhar mais fundo em sua crise, a busca do prazer sem medidas e a ausência do temor de atitudes e ações cotidianas contrárias a paz no mundo, as guerras começam em pequenas ações de ódio.

Comprometer com a paz, no âmbito da verdade pode inclusive colocar até mesmo a vida em risco, afirma Tomás de Aquino: “Quem diz verdades perde amizades”, mas é preciso dizer que sua verdade não é lógica e sim onto-lógica, ou seja, segue uma lógica do Ser.

Retomamos já em posts anterior a questão das virtudes cardeais, apontadas especialmente por Philippa Foot (filósofa inglesa), em Tomás de Aquino encontramos a conexão entre a paz e estas virtudes: justiça, sabedoria, prudência e caridade, para o Aquinate a paz se concretiza em meios aos homens se estas virtudes auxiliarem a produção desta paz desejada pela humanidade.

Tomas de Aquino entende a paz também num sentido mais amplo: “a paz é a tranquilidade do modo, da espécie e da ordem” (Aquino, 2019) ( Vale ressaltar que, por ordem, entende-se que cada coisa está no seu devido lugar) .

Assim junto as virtudes da justiça, sabedoria e prudência, deve-se ter o vínculo da caridade, que não simples apreço ou amor mundano, a caridade não unifica só os apetites de indivíduos, também leva cada homem a amar o seu próximo como a  si mesmo, isto é, a querer realizar os desejos e necessidades do próximo como se fosse os seus.

Diz o doutor Angélico: ““Paz nada mais é do que a unidade dos afetos, o que é próprio de Deus somente, porque é pela caridade – que só procede de Deus –que os corações são unidos. De fato, Deus sabe reunir e unir, porque Deus é Amor, que é o vínculo da perfeição” (Aquino 2019).

Assim esta paz desejada depende mais que o amor divino, coloca-lo em prática em nossa vida e em nosso dia a dia, iluminar relações conflituosas com a concórdia e a unidade.  

SANTO  TOMAS  DE  AQUINO. Corpus  Thomisticum. [S.  l.]:  Fundação  Tomás  de  Aquino, 2019. Disponível em: http://www.corpusthomisticum.org, acesso: dezembro 2024.

 

Permanecer em paz

02 jan

Dia 1º. de janeiro é conhecido como dia mundial da paz, ontem não postamos por ser feriado e fizemos o propósito de quatro livros que leremos e postaremos no correr do ano.

O que é a paz, já falamos da paz da desconhecida (pela maioria) na Sassânida, chamada de paz ibérica (527-531) e sobre a paz cristã: “Eu vos dou a paz, mas não como o mundo dá” (Jo 14:27), os sinais sombrios do ano que se inicia são indicativos para entender melhor esta paz.

Diga o que pensa, tente ser coerente em suas ações e palavras, mas não espere nem concordância, nem aplausos, em geral a verdade quando é dura nunca é bem aceita, cada vez mais temos um mundo de narrativas e bipolarização e cada um fica com sua “estória”.

Diz o ditado popular que nunca guerra o primeiro que morre é a verdade, e se tem uma posição justa e coerente (é impossível isto sem uma posição moral, e lembro as virtudes cardiais descritas por Philippa Foot), se é templo da paz (a paz vem do alto) prepare-se.

Também em termos sociais, aqueles que se envolvem em conflitos e eles não tem poucas situações para isto hoje, é preciso permanecer em paz e ter serenidade e resiliência.

Por outro lado, aqueles que sofrem com problemas sociais e econômicos imaginam que a saída espiritual resolve, como se o divino fosse uma casa de crédito ou a solução de problemas estruturais, é preciso caminhar junto com outros que sejam serenos e bons administradores.

Procure alternativas de médio e longo prazo, as imediatas são panaceias, em especial naquilo que é financeiro, e muito cuidado por que os ventos sopram na direção contrária.

Enfim mantenham a paz interior, busquem soluções práticas para coisas práticas e sejam serenos.

 

As reais possibilidades da paz

30 dez

Um balanço de 2024 sobre a guerra é desastroso, o conflito que eclodiu em Gaza, com as forças de Israel invadindo aquele território e realizando ações que são condenáveis pelos atos de crueldade e dificuldades de acesso dos organismos internacionais de socorro, o aumento do conflito no leste Europeu, agora com também agressões em território russo e as ameaças da China sobre Taiwan traçam um quadro muito triste e preocupante.

O governo eleito americano que toma posse agora em janeiro, Donald Trump prometeu que poria um fim imediato na guerra, o problema é que as 4 províncias dominadas pela Rússia pela força: Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, não estão em questão, embora a Rússia diga que é possível “alguns ajustes de fronteira”, e exige a Ucrânia fora da OTAN.

Assim a Rússia ganharia 18% do território Ucrânia, mas teme que um acordo de “cessar fogo” seja apenas para a Ucrânia tomar folego e se rearmar, a continuar na atual escalada um maior envolvimento das nações europeias pode tonar o conflito fora dos limites de negociações.

O outro polo preocupante é a escalada da guerra no Oriente Médio, Israel não recua de suas pretensões em eliminar seus inimigos na região, porém o faz fora dos limites humanitários e daquilo que é considerado abominável, mesmo sabendo que a guerra já um desastre humanitário, o bombardeio de escolas, hospitais, o último que funcionava precariamente parece também fora de operação em Gaza, ultrapassa o limite e torna os responsáveis acusados de crime de guerra, claro o ataque terrorista de 8 de outubro com reféns de Israel ultrapassou também qualquer limite do razoável.

Há motivos para se cogitar a paz, sim pois isto gera uma tensão mundial, enfraquece a economia e atinge os povos mais vulneráveis trazendo mais miséria e fome, a rigor não deve interessar a ninguém, mas há um raciocínio trágico das guerras que é saber “se o meu inimigo perdeu mais”, já que todos perdem, e os mais frágeis são os primeiros a serem atingidos.

O mundo se encontra polarizado, até mesmo aqueles que deveriam ser os mais ardentes defensores da paz se entregaram ao jogo bipolar do ódio ao inimigo, sem possibilidade de diálogo e de entender um ponto de vista diferente, todos dizem “isto não é razoável”.

Assim buscamos freneticamente nas mídias sociais aqueles julgamentos e ódios que nos favorecem, sem perceber que nos tornamos influenciados por esta bipolaridade e este clima hostil entre povos, posições políticas e um diálogo racional sobre suas posições e ideias.

Há sempre esperança de uma renovação no processo civilizatório, no momento parece encalhado e retrocedendo a níveis absurdos educação, saúde, cultual, político e até mesmo espiritual, que se tornou um negócio e sem nenhum exercício de analisar sequer o patrimônio sobre o qual a maioria das religiões foram construídas: solidariedade, socorro aos vulneráveis, maior equilíbrio social e ambientes de valores e virtudes verdadeiramente espirituais.

 

Sabedoria e Humildade

06 dez

Não são grandes aqueles que se arrogam grandes, ou que recebem grandes honrarias, na verdade estão mais ligados a um poder temporal que a uma sabedoria divina, são apenas os que se contentam com alegrias e honrarias passageiras e muitas vezes ligadas só ao interesse.

Outras palavras correlatas à verdadeira humildade incluem: naturalidade, simplicidade, singeleza, despretensão, despojamento e desafetação, o mundo contemporâneo de narrativas imediatistas e passageiras são claramente ligadas à pretensão e à afetação, pela visibilidade fácil que conseguem imaginam que são “sábios” porém tem um público imediatista midiático.

Um outro equívoco mais difícil de compreender são correlatos de humildade de interpretação cotidiana, como por exemplo: submissão, obediência, respeito, acatamento, sujeição e passividade, isto refere-se a pessoas humildes sim, mas com dificuldade de discernimento, mesmo a obediência sendo uma virtude elogiável, ela pode tornar-se subserviente e danosa.

No livro Perto do coração selvagem, a escritora Clarice Lispector escreveu: “aceito tudo o que vem de mim porque não tenho conhecimento das causas e é possível que esteja pisando no vital sem saber, é essa a minha maior humildade”, assim pode-se ser obediente conscientemente.

A ex-primeira ministra de Israel (1969-1974), Golda Meyer, disse certa vez a Moshé Dayan, militar e político da época: “Não seja humilde, você não é tão importante como imagina”, isto dá uma conotação muito boa do valor da humildade.

O que se opõe a humildade é a soberba, não são poucos os orgulhosos, vaidosos, falsos profetas, fariseus ou apenas mundanos que possuem este vício, em termos bíblicos foi a soberba que fez um dos arcanjos da alta hierarquia querer se igualar a Deus, a parte contém parte do Todo, mas não é o Todo, e também é falso a narrativa que tudo é fragmentário.

Em todas passagens bíblicas que Jesus realiza milagres, sempre diz ao interlocutor: “tua fé te salvou”, os soberbos, fariseus e idólatras querem atribuir a si ou ao seu grupo as intervenções divinas das quais apenas participam na invocação, por sinal, muitos deles não acreditam que a invocação seja válida e assim condenam os intercessores, embora façam o mesmo.

A soberba explica muitos males: a guerra, a ganância, a desobrigação de cuidados com os que precisam, o desrespeito a natureza (pretender dominá-la) e especialmente o poder e o desrespeito.

Assim a humildade é o antídoto eficaz para todos estes males, é preciso empatia e respeito com todos, porem cada um tem uma singularidade própria e um propósito próprio. 

 

E a Europa não acordou

02 dez

A criação do euro, apesar da polêmica saída da Inglaterra, não o Reino Unido, porque a Escócia tentou fazer um referente sobre a questão e o Parlamento britânico rejeitou, a tentativa de criar um conceito e uma política europeia não fracassou, apenas não avançou no essencial.

Porém suas profundas raízes humanistas e culturais foram sufocadas pelas ideologias idealistas e iluministas. 

O livro Se a Europa despertar (acordasse, na versão de Portugal) traça linhas essenciais do que seria a Europa verdadeira, suas fronteiras e suas bases étnicas, qual seria sua identidade religiosa praticamente abandonada, não são as imigrações que deterioram esta visão de identidade e unidade, mas a pergunta que faz Sloterdijk em seu livro é que cena desenham os Europeus nos seus momentos históricos decisivos? Quais as ideias que os animam, as ilusões que os mobilizam? E não é difícil apontar seus equívocos tanto quanto as bases étnicas como as culturais.

Também o padre Manuel Antunes, o livro Repensar Portugal escrito antes da União Europeia, dizia que seu país deveria voltar-se para a Europa, antes era um cantinho da Europa que lhe dava as costas e se voltava para as colônias africanas, no livro dava linhas de repensar o país.

A colonização e as Guerras, intestinais, porque houveram as guerras religiosas no período final do renascimento, e a paz de Vestfália tratado que retirava a questão religiosa das disputas, porém a Europa teve outras disputas de fronteiras e étnicas, até culminar em duas guerras mundiais.

Elas acabam envolvendo todo o mundo, porque há interesses que extrapolam as fronteiras, porém é preciso compreender que uma verdadeira identidade e unidade europeia ainda não se construiu, abriu-se as fronteiras, mas agora elas parecem incertas e ameaçadas com o envolvimento na guerra do leste europeu.

A tese principal de Sloterdijk neste livro é que o modelo de colonização que deu a Europa a ideia de um Império de Centro (como o autor a chama) e que abriu um vácuo no pós-guerra que criou uma geração de intelectuais que buscou um novo modelo imperial, assim o autor conclui que não se conseguiu entender que ela não é mais um centro e tem dificuldade com isto.

As guerras então são um caminho trazem de volta a ideia de império, o contrário que Sloterdijk propôs em seu livro que seria abandonar este modelo, também é a conclusão do padre Manuel Antunes que acrescenta um modelo de “democracia social” a Portugal.

Sloterdijk, P. Se a Europa despertar. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.

 

A sabedoria e amor na hominização

28 nov

Sabedoria não é o mesmo que inteligência, cultura ou astúcia, é algo límpido e puro que é vida plena, assim é também uma virtude, chamada de cardeal junto à justiça, fortaleza e prudência.

A cultura é ligada a tradição cultural dos povos, pode e deve estar ligada a sabedoria porque é o único caminho que pode ajudar o processo civilizatório (ou de hominização como chamada Edgar Morin) tornar-se um caminho seguro e sustentável.

Aqueles que precisam dominar pela força caminham pelo caminho do poder, ali pode haver algo de inteligência, em geral há, porém é usada no sentido contrário ao civilizatório, o argumento que as guerras ajudaram a evolução só é válido porque tiraram lições amargas da guerra, que poderiam tirar se a inteligência fosse de falto elevada e imbuída do amor.

Sabedoria e amor na hominização

A astúcia é a mais perigosa inteligência porque em geral liga-se ao poder e a opressão, cria caminhos inteligentes, mas repletos de armadilhas para si e para os outros, não é caminho de solidariedade e comunhão entre os povos e culturas.

Assim a virtude da natureza é aquela que mais aproxima o homem da consciência divina, ou da nossa divina consciência, e assim o homem encontra um caminho sólido para sua hominização.

O sábio sabe viver na pobreza e riqueza, sabe dominar-se na guerra, a prudência é a virtude que mais se alia neste aspecto, sabe viver na paz, não se agita com ela porque sabe que é o verdadeiro estado de graça, aqueles que precisam de bens ou de abundância para viver bem estão mais próximos dos vícios do que das virtudes.

Junto ao amor, a virtude da sabedoria contém as outras, alia-se a prudência, a coragem (fortaleza) e a justiça, não a dos homens que é imperfeita e sem misericórdia, mas a divina.

 

Os falsos profetas e a esperança

26 nov

A má religião e as falsas profecias são aquelas que não anunciam a boa nova, não há nenhuma leitura histórica ou verdadeiramente profética daquilo que é o reino divino: a paz e a esperança.

Sim é verdade que estamos em tempos sombrios, mas ainda assim é preciso anunciar a paz e a esperança, que o homem até hoje construiu a civilização sobre guerras e vinganças é fato, porém foi a paz e esperança que desenvolveu a agricultura, o comércio e a produção de bens sociais, mesmo em meio às guerras a esperança sobreviveu e fez estrada.

São maus leitores bíblicos, quando os discípulos perguntaram quando os tempos de destruição viriam, diz a leitura Lc 21:8-9, “Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”

Continua a leitura sobre conflitos mundiais (Lc 21:10-11): “e Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu”, mas esta não é a profecia e sim aquilo que os homens farão antes de um tempo de paz e de verdadeiro processo civilizatório no planeta.

Aprendemos mais pela dor do que pela razão e pelo amor, ainda que estes tempos se digam racionais, a visão do todo, da Terra como uma pátria comum a todos povos e nações ainda não chegou, impera o poder mundano, as tentativas de saques e de vinganças entre os povos, e não há nada de divino nisto, é apenas a insanidade de um racionalismo raso e antissocial.

A esperança é que conduzirá os homens a um outro patamar civilizatório, que socorrerá os pobres, que renovará a vida e os modelos saudáveis de desenvolvimento, até mesmo aquilo que é considerado um princípio de sustentabilidade, não consegue gerir os recursos terrestres.

Uma nova civilização será aquela que sobreviveu destes tempos sombrios e sem temperança, como dizem as virtudes cardeais esquecidas (post da semana passada da filósofa Philippa Foot): temperança, sabedoria e prudência e coragem (fortaleza) são virtudes morais esquecidas, mas não de todos.