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Arquivo para junho, 2024

Tensões e pressão pela paz

17 jun

A cúpula do G7 conseguiu reunir 90 países se reuniu sem a presença da Rússia e sem o aval da China que considerou fundamental a participação da Rússia, a reação do Kremlin foi de ironia em relação a reunião que exige que o território da Ucrânia seja mantido em toda sua integridade, apesar da vitória diplomática de Zelensky a batalha bélica segue cruel.

Na quinta feira (13/06) os EUA assinaram um pacto de cooperação de dez anos com a Ucrânia, o que coloca em nível de igualdade com a parceria com Israel, porém um navio nuclear russo que chegou a Cuba eleva o nível de tensão próximo a famosa crise dos mísseis na década de 60, embora hoje o envolvimento mundial na crise seja muito maior já que boa parte da Europa se sente ameaçada pelas incursões militares russas e a militarização é crescente assim como uma guinada política mais nacionalista evolui.

Além dos 7 países que compõe o G7 US, UK, Canada, Canadá, Itália, Japão e França, mais 82 países compareceram a reunião que discutiu um possível acordo de paz na guerra do leste europeu, destaca-se a presença do Papa Francisco, lembrando que o Vaticano é também um estado soberano.

Destaque também para o primeiro-ministro Modi da Índia defendendo o bem-estar do Sul Global, enfatizando a importância de África nos assuntos globais, um ponto que escapa em muito debates, mas alguns aspectos do colonialismo ainda sobrevivem, tanto no aspecto econômico quanto o cultural, e a defesa destes países é essencial.

Em 1918 com o fim da primeira guerra mundial o presidente Americano Woodrow Wilson (foto) fez uma proposta de uma “paz sem vencedores” ainda que a Alemanha deveria ser melhor analisada no acordo, ela é importante para entender as diversas possibilidades para a paz hoje (na foto os países do Tratado de Versalhes, 1919, que estabeleceu as fronteiras).

Pouco conhecida, os 14 pontos que estabeleciam uma nova política de paz depois da segunda guerra mundial, conhecida como 14 pontos eram os seguintes: 1. Diplomacia aberta sem tratados secretos, 2. Livre comércio económico nos mares durante a guerra e a paz, 3. Condições comerciais iguais, 4. Diminuir os armamentos entre todas as nações, 5. Ajustar as reivindicações coloniais, 6. Evacuação de todas as Potências Centrais da Rússia e permitir-lhe definir a sua própria independência, 7. Bélgica será evacuada e restaurada, 8. Retorno da região da Alsácia-Lorena e de todos os territórios franceses, 9. Reajustar as fronteiras italianas, 10. À Áustria-Hungria será dada uma oportunidade de autodeterminação,11. Redesenhar as fronteiras da região dos Balcãs criando a Roménia, a Sérvia e o Montenegro, 12. Criação de um Estado turco com livre comércio garantido nos Dardanelos, 13. Criação de um estado polaco independente e 14. Criação da Liga das Nações.

Hoje existem questões nova como as reais fronteiras da Ucrânia, a inexistência de um território para o povo palestino (o Hamas é só um grupo desta nação), o esquecido povo Curdo, os conflitos na região da Caxemira (há uma indiana e uma paquistanesa), o fim dos conflitos e tensões na África que escondem novos colonialismo e algumas garantias de paz nas fronteiras da Rússia que podem muito bem serem entendidas (a Rússia chama de regiões “neutras”) e a tensão complexa Taiwan x China.

Enfim não é algo impossível, mas é preciso desenhar um mapa global da paz e isolar governos e grupos que atentam contra a liberdade e autonomia dos povos.

 

Narrações de uma vida futura

14 jun

Muitas são as visões e até profecias sobre a policrise contemporânea, ela extrapola o pensamento e chega até a vida social, a política e as guerras em escalada preocupante, mas a pergunta é quais a razões para ter esperança, e ao mesmo tempo aquilo que Edgar Morin chamou de “resistência do espírito” , nos trechos finais de A crise da narração de Byung-Chul, ele critica a política atual: “as narrativas políticas oferecem a perspectiva de uma nova ordem das coisas, pintam mundos possíveis … nós nos arrastamos de uma crise para a outra. A política é reduzida à solução de problemas. Hoje falta-nos justamente narrativas futuras que nos dão esperanças.” (Han, 2023, p. 132).

A solução de problemas pontuais e emergenciais são são a solução da crise, as “obras” podem ser visíveis e trazer popularidade aos governantes, mas deveriam ter tanto a perspectiva de longo prazo quanto noção que são as soluções de curto prazo implantadas com parcimônia que encaminham para respostas duradoras, sustentáveis e eficazes e conclui Byung-Chul: “toda ação que transforma o mundo pressupõe uma narração” (idem) e assim poucos são os casos de respostas imediatas que sejam de fato duradouras e eficientes.

Há uma narração bastante conhecida que uma jovem pergunta ao senhor que plantava tâmaras “por que o senhor perde tempo plantando o que não vai colher “, o senhor virou e respondeu: se todos pensassem como você, ninguém colheria tâmaras.

A ideia que as coisas podem ser rápidas e simples está no storytelling atual: como emagrecer sem esforço, como aprender este ou aquele trabalho complexo em poucas lições, como falar de maneira clara e simples de um problema com solução complexa e muitas outras formulas “mágicas” que pouco tem de imaginação e encantamento, são narrativas que visam venda e consumo de facilidades e de produtos cuja eficácia é questionável.

A primeira ideia então entender soluções a médio e longo prazo, segundo é desconfiar de soluções fáceis que não sejam duradouras e terceiro admitir que um problema complexo

necessita de uma narração mais demorada e de escuta silenciosa de diversas vozes e diversos ouvintes capazes de ouvir com paciência.

A um ditado bíblico que diz que o Reino de Deus é como um grão de mostarda (uma das menores sementes), você a planta, em anos ela cresce e vira uma árvore frondosa e só depende de sua própria natureza e de um tempo de espera.

Diz Byung-Chul Han em seu parágrafo final: “no mundo do storytelling, tudo é reduzido ao consumo. Isso nos cega para narrações, outros modos de vida, outras percepções e realidades” (p. 132-133).

Han, Byung-Chul. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: ed. Vozes, 2023.

 

A justiça, o justo e a moral

13 jun

As três palavras são importantes num momento de grande crise do pensamento (o que é), o que é ideia, e a ideia de justiça ou do justo, explorada por pensadores atuais como Jurgen Habermas (citamos em post anterior sobre a questão da inclusão do Outro) e citamos de passagem os dois volumes de Paul Ricoeur o Justo (o volume dois publicado pela Martins Fontes) embora o próprio autor diga que é um ensaio, ele penetra num aspecto mais profundo, a questão da verdade e da moral.

A leitura do texto a Inclusão do Outro de Habermas, esclarece que em termos filosóficos, que a moral em John Rawls, em termos kantianos tem diferenças entre o liberalismo político original de Kant e o republicano kantiano que é como Rawls o defende, isto bastaria, mas há uma longa análise no Volume 1 de Paul Ricouer sobre a justiça em Rawls.

Para entender o livro 2 de Ricoeur é preciso entender que para os gregos a filosofia primeira é aquela que para eles, e a retomada ontológica tem a ver com isto, a metafísica como questões sobre o Ser, a existência, a causa e o sentido da realidade e a physis (natureza) devem ser colocados de modo precedente à segunda os aspectos ligados à lógica e a ética.

O livro 2 aborda aquilo que parece mais essencial em Ricoeur, embora confesse que se trata de um ensaio, sua meta é “justificar a tese de que a filosofia teorética e a filosofia prática são de níveis iguais; como nenhuma dela é filosofia primeira em relação àquilo que Stanislas Breton caracterizou como função meta- (eu mesmo .. defendia essa reformulação da metafísica nos termos da função meta-, na qual seriam unidos “os gêneros máximos” da dialética dos últimos diálogos de Platão e a especulação aristotélica sobre a pluralidade dos sentido de ser ou do ente) “ (Ricoeur,  2008, p. 63) … mas não falou (inicialmente era escrito de uma conferência) disto e sim das duas filosofia segundas.

Sua análise está fundada “num primeiro momento, pensar a justiça e a verdade uma sem a outra; num segundo momento, pensa-las de modo da pressuposição recíproca ou cruzada” (Ricoeur, 2008, p. 64) e esta empreitada “nada tem de revolucionária, situa-se na linha das especulações sobre os transcendentais …” (idem).

Ao abordar o primeiro estágio da análise: “Pensei na declaração de Rawls no início de Théorie de la justice: “A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, assim cmo a verdade é a primeira virtude das teorias” (pg. 65) e ali o autor retoma a parte ética de outro texto seu: Soi-même comme um autre, para “garantir o estatuto eminente da justiça”.

A ideia desenvolvida ali é que está tríade leva a “eqüidade”, não é o dualismo entre o Eu e o Outro (o próximo usa também Ricoeur), “a tríade pertence ao eixo horizontal não consiste absolutamente na simples justaposição entre o si, o próximo e o distante; é a mesma dialética do si. O querer viver bem enraíza o projeto moral da vida, no desejo e na carência, como marca a estrutura gramatical do querer … mas sem a mediação dos outros dois termos da tríade, o quer vida boa se perderia na nebulosa das figuras variáveis da felicidade … eu diria que o curto-circuito entre o querer vida boa e a felicidade resultado do desconhecimento da constituição dialética do si” (pg. 66).

O autor formula a ideia da distante nestes termos: “justa distância, meio-termo entre a pouquíssima distância própria a muitos sonhos de fusão emocional e o excesso da distância alimentado pela arrogância, pelo desprezo, pelo ódio ao estranho, desconhecido. Eu veria na virtude da hospitalidade a impressão emblemática mais próxima desta cultura da justa distância” (pg. 66).

A justiça no eixo vertical, aquele do poder e da norma é vista pelo autor assim: “no eixo vertical que leva à preeminência da sabedoria prática e, com ela, da justiça como equidade, pode-se fazer uma primeira observação referente à relação entre bondade e justiça. A relação não é nem de identidade, nem de diferença; a bondade caracteriza a meta do desejo mais profundo e, assim, pertence à gramática do querer. A justiça como justa distância entre o si e o outro, encontrado como distante, é a figura inteiramente desenvolvida da bondade. Sob o signo de justiça, o bem torna-se bem comum” (pg. 67).

Considero a tríade o si, o outro e o distante, se visto também como uma alteridade transcendente, há um outro “desconhecido” e que pode ser divino e portador de mensagens, na teoria das redes por exemplo o “elo fraco” é considerado fundamental, o ensaio de Ricoeur é rico, porém ao retomar a questão do imperativo categórico kantiano, que justifica o idealismo político, creio que Habermas está correto em afirmar que este é o deslise na consistente “Uma Teoria da Justiça” de John Rawls atual e muito influente.

Uma parte da leitura bíblica pode ampliar o conceito deste distante como alteridade transcendente (Mt 5,20): “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”, que no sentido deontológico poder-se-ia dizer “não entrareis na verdade da justiça”.

Uma parte da leitura bíblica pode ampliar o conceito deste distante como alteridade transcendente (Mt 5,20): “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”, que no sentido deontológico poder-se-ia dizer “não entrareis na verdade da justiça”.

RICOEUR, P. Justo 2: justiça e verdade e outros estudos. Trad. Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

 

 

 

A linguagem esquecida dos acadianos

12 jun

Muitas narrações do passado eram gravadas em murais, assim a famosa pedra de Roseta, ajudou a desvendar a linguagem síria, a bíblia e seus estudiosos (os exegetas são uma parte pequena de interpretes mais ortodoxos da bíblia) conservaram o aramaico e o hebraico antigo, depois de século de estudo vários pesquisadores, entre eles o pesquisador irlandês Martin Worthington ajudou a desvendar um mural de vários encontrados em escavações na cidade  de Dūr-Šarrukīn, na antiga Assíria e atual Iraque.

Historiadores identificaram na parede um padrão repetido um leão, um pássaro, um touro, uma árvore e um arado, porém seu significado permanecia desconhecido.

Debruçados sobre estes estudos, o professor da Escola de Linguagens, Literaturas e Estudos Culturais do Trinity College, em Dublin, afirma que as imagens nos murais representam o nome do rei Sargão II e as constelações reforçam o seu poder imperial na época, sendo um dos primeiros grandes impérios ocidentais.

As palavras assírias dos cinco símbolos colocados na ordem correta funcionariam como um som que daria origem ao nome “Sargão” (šargīnu), e assim significaria o poder impedir do rei Sargão II e o período histórico tem um grande significado tanto para a origem das culturas árabes antigas, como semitas e acadianos, já postamos aqui a extensão semita e cuja junção com os hebreus deu origem ao nome contemporâneo de origem semita, porém os acadianos não se confundem com esta origem antiga.

Eles formaram o primeiro grande império centralizado na região, são anteriores ao período babilônico e por isto sua importância histórica, os semitas eram um povo distinto e politeísta e não se misturavam com o numeroso grupo semita da época (islâmicos, judeus e cristãos descendem desta linha) e o império acadiano os dominou por 180 anos.

O nome semita vem de Sem, filho de Noé (o cara que construiu a arca), enquanto os acadianos permaneceriam incógnitos nesta origem, porém o mural certamente é acadiano.

O mural representaria também constelações específicas, algumas familiares como as constelações de Leão e Touro, a ave representa Áquila, uma constelação do hemisfério norte, o arado daria o nome de uma constelações antiga babilônica, epinnu, hoje conhecida fazendo parte de Andrômeda e Triângulo Boreal.

A interpretação mais polêmica defendida por Worthington defende que a árvore na pronuncia acadiano é isu, semelhante à de isu, antiga constelação da Mandíbula e assim completaria a sua análise dando origem ao nome do rei Sargão II (šargīnu), Worthington também é conhecido por ajudar nos roteiros atuais de Eternos, da Marvel, e Godzilla II: Rei dos Monstros e isto dá para entender um pouco melhor sua personalidade e gosto pelas narrações antigas.

“O efeito dos cinco símbolos foi colocar o nome de Sargão nos céus, por toda a eternidade – uma maneira inteligente de tornar o nome do rei imortal. E, é claro, a ideia de indivíduos extravagantes escreverem seus nomes em edifícios não é exclusiva da antiga Assíria”, diz o Worthington, assim de uma forma acadiana o rei arrumou uma forma de escrever pelas paredes de todo o reino: “Sargão esteve aqui” e perpetuou seu nome na história, imperadores e ditadores sempre se acharam deuses.

 

O outro como categoria política

11 jun

Na história da filosofia o Ser, o Ente e a Essência foram três categorias metafísicas fundamentais, como a filosofia moderna jogou a “agua suja com a criança dentro da bacia”, além do esquecimento do Ser como aponta Heidegger e seus interpretes e diálogos (Hannah Arendt, Hans-Georg Gadamer, Peter Sloterdijk, Byung-Chul Han e outros), há também uma categoria redescoberta, ou até mesmo nova de fora da cultura religiosa: o Outro, visto como o “próximo”, o “irmão” ou o “fiel”.

Paul Ricoeur escreveu sobre o próximo e o sócio, para diferenciar na relação utilitária moderna as relações entre ambos, mas também Lévinas (O tempo e o outro), Martin Buber (Eu e Tu) e Byung-Chul Han, em análise mais contemporânea escreveu A Expulsão do Outro, mas a obra de Junger Habermas “A inclusão do Outro – Estudos de Teoria Política” é aquela, como diz o título, que trata de incluir esta análise no seio da polis moderna, diz na introdução:  “defendo o conteúdo racional de uma moral baseada no mesmo respeito por todos e na responsabilidade solidária geral de cada um pelo outro” (Habermas, 2002, p. 7) e condena a desconfiança de um universalismo marcado mais pelo apelo a diferença do que “o mesmo respeito para todos se estende àquelas que são congêneres, mas à pessoa do outro ou dos outros em sua alteridade” (idem).

Diz o autor: esta comunidade moral não é apenas a mera inclusão do Outro (pg. 8)”, mas a “inclusão do outro” significa que as fronteiras da comunidade estão abertas a todos – também e justamente àqueles que são estranhos que são estranhos um ao outro – e querem continuar sendo estranhos e constitui exclusivamente pela ideia de discriminação e sofrimento” (pg. 8 e toda primeira parte do livro se refere a esta questão.

Na Segunda parte refere-se a uma réplica e uma discussão com John Rawls, que foi convidado pelo editor do Journal of Philosophy, onde analisa em termos de conceitos, as instituições morais que norteiam Rawls e esclarece que sua réplica também serve ao intuito de esclarecer “as diferenças entre o liberalismo político e um republicano kantiano como eu o entendo” (pg. 8), lembro que também Paul Ricoeur “O justo ou essência” escrito em dois volumes, também abortou as ideias de John Rawls.

A terceira parte do livro “pretende contribuir para o esclarecimento de uma controvérsia que voltou a surgir na Alemanha depois da reunificação. Continuo a fiar a linha que iniciei outrora num ensaio sobre `Cidadania e Identidade Nacional’ “(pg. 8), mas sabia o autor que o tema seria tão atual para os dias de hoje.

A quarta parte, foi uma das motivações desta postagem, já que Byung-Chul Han fala da paz eterna de Kant, o autor fala sobre os direitos humanos a nível global e nacional (na Alemanha evidentemente), por ocasião do bicentenário texto sobre a Paz pérpétua de Kant, “A luz da nossa experiência histórica”.

O livro terá a quinta parte não menos instigante sobre a “a teoria do discurso a respeito da concepção de democracia e de Estado de direito” (pg. 9) e isto tudo é apenas o prefácio do autor, e o primeiro tópico é sobre o aspecto cognitivo da moral, que deve ser anterior aos demais capítulo, pois apresenta seus fundamentos.

Escreve o autor: “as manifestações morais trazem consigo um potencial de motivos que pode ser atualizada a cada disputa moral” (pg. 10) e assim “as regras morais operam fazendo referências a si mesmas” (idem) e estabelecerá “para isto dois níveis acoplados de modo retroativo entre si” (pg. 12).

No primeiro nível, elas dirigem a ação social de forma imediata, na medida em que comprometem a vontade dos atores e orientam-na de modo determinado” (pg. 12).

No segundo nível, “elas regulam os posicionamentos críticos em caso de conflito … não diz apenas com os membros da comunidade devem se comportar … coloca motivos para dirimir consensualmente os respeitos conflitos de ação” e vê isto de modo muito análogo aos jogos de linguagens de Wittgenstein onde se estabelece uma polifonia.

O tema se aproxima da Crise da Narração de Byung-Chul Han porque ambos, e isto inclui também John Rawls e Martin Buber ainda que de modo bastante diferente, pois Han esclarece: “o rosto exige distância. Ele é um Tu, e não um Isso disponível” (pg. 96), e penetrando na Teoria Comunicativa, grande tese Habermas, Han vê tanto na sua ideia de psicopolítica no Enxame na perspectiva digital, que a única possibilidade de simetria é o respeito, as relações de poder são assimétricas, e para ele também as comunicativas.

Quem é o Outro, aquele com que me encontro e que muitas vezes é muito diferente de mim, se ele me deseja a paz, diz a passagem bíblica, sentaremos e cearemos juntos,

HABERMAS, J. A inclusão do outro – Estudos de Teoria política. Trad. Georg Sperber, Paulo Astor. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 2002.

HAN, Byung-Chul. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: ed. Vozes, 2023.

 

O desencantamento do mundo e a esperança

10 jun

A guerra é o ápice do desencantamento, mas ela se reproduz nas narrativas, nas intolerâncias e pequenas guerras do dia a dia que provocam a expulsão do Outro, principalmente quando há interpretações e visões diferentes do que são os “fatos”, mas se valem de pequenas guerras ocultas em suas narrativas e num contexto restrito onde ela é válida.

O desencantamento do mundo, agora retomado pela crise da narração de Byung-Chul Han, já foi tema de Max Weber que referiu-se ao fenômeno como um processo no qual o sujeito moderno passou a se despir de costumes e crenças baseados em tradições herdadas ou aprendidas sob os pilares fixos das religiões ou da “magia”, nada mais convergente com Han, porém é importante entender como isto penetrou na linguagem.

Para ser coerente com o tema, o capítulo final da Crise da narração (há outro em sei que é o Storyselling, mas opto pela resistência do espírito), o qual postamos anotações a semana passada, começa com a narração de Peter Nadás, de uma aldeia que se reunia ao redor de uma grande pereira selvagem, e ali contam história uns aos outros, ela forma uma comunidade narrativa “que carregam valores e normas, vinculam intimamente valores e normas” (Han, 2023, p. 121), nela a aldeia se entrega a “contemplação ritual”.

Nadás fala ao final de seu ensaio: “anda me lembro como, nas noites quentes de verão, a aldeia costumava cantar baixinho […] sob a grande pereira selvagem […] Hoje não há mais dessas árvores, e o canto da aldeia emudeceu” (Há, 2023, p. 122 citando Nadás), e “essa comunidade sem comunicação dá lugar à comunicação sem comunidade”.

Ele imagina como outros autores, cita até a Pax Eterna de Kant, porém também sua filosofia construiu a narrativa moderna, e diz como sonhou Edgar Morin e imagina um universalismo radical “uma família mundial” para além da nação e da identidade (pg. 125) e diz “a poesia eleva cada indivíduo por meio de uma conexão peculiar com todo o resto” citando Schriften Novalis, e esta comunidade narrativa rejeita a excludente narrativa da identidade.

“A ação política em sentido enfático pressupõe uma narrativa” (pg. 126) e pressupõe uma coerência narrativa, relembra Hannah Arendt “pois a ação  e o discurso, cuja estreita interrelação na concepção grega de política já discutimos [neste blog também], são de fato as duas atividades que, em última instância, sempre resultam em um história, ou seja, em um processo que, por mais arbitrário e por acaso que seja em seus eventos e causas individuais, ainda assim tem coerência suficiente para poder ser narrado” (Han, 2023, p. 127), lembro em posts anteriores a ideia de Arendt também utilizada por Byung-Chul de vita activa e vita comtemplativa.

Do capítulo final aproveito o seu “Viver é narrar. Os seres humanos, como animal narrans, diferem dos animais por serem capazes de realizar novas formas de vida por meio da narração. A narração tem o poder de um novo começo” (pg. 132) que é um sinal de esperança para a humanidade em uma crise crescente.

Han, Byung-Chul. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: ed. Vozes, 2023.

 

Desencantamento, narração e dor

07 jun

Chul Han lembra de um hábito muito conhecido em muitas sociedades que é o fato de contar histórias para as crianças dormirem, lembro que é antigo, pois são famosas As fábulas de Esopo (Grécia antiga), os contos dos Irmãos Grimm, as histórias organizadas por Charles Perrault e muitos outros, Han vai escolher uma história pouco conhecida (pelo menos aqui no Brasil) de Paul Maar do jovem Konrad que não sabia narrar e sua irmã Susanne que pede que ele conte uma história para ela dormir.

Os pais por outro lado gostavam de narrar, eram “quase viciados nisto” e quando o pai termina de contar uma história a mãe escreve R de Roland no papel e quando a mãe termina de contar história o pai escreve um O de Olivia, mas os pais percebem que Konrad não consegue narrar história e o mandam para um certa senhorita Muhse, ele chega a uma casa pequena e a senhorita que sabe que ele veio aprender a contar histórias pede que ele suba uma escada e leve um pacotinho para a irmã, mas a escada parece infinita até que encontra uma parede que se abre como uma porta.

Lá dentro está tudo escuro e vê uma coruja com voz e conversas estranhas e percebe que não tem piso e cai num longo encontrando ao final a senhorita Muhse que lhe dá outro pacote e pede que leve ao irmão dela no térreo pois não entregou o primeiro, Konrad fica confuso pois pensava ter caído para o térreo, e ele novamente cai nas “estranhas escuras” da casa e novamente chega a senhorita Muhse, que agora fuma um charuto fino, sabe que ele não entregou o pacote e lhe dá outro novamente, ele diz “não estou aqui para entregar pacotinhos, estou aqui para aprender a narrar”, ela vê que é um caso perdido, abre uma porta na parede e diz: “Boa triagem e tudo de pão” (ela sempre muda os ditados) e desta vez está de volta a casa dos pais (páginas 74 a 77).

Os pais e irmãzinha estão tomando café da manhã e ele diz animado: “tenho que contar para vocês. Vocês não vão acreditar no que vivi …”, o mundo de Konrad agora é outro e agora os pais escrevem K (de Konrad) no papel que eles anotavam suas narrações.

O desencantamento do mundo é quando tudo é reduzido a causalidade, a facticidade (as narrativas de hoje dizem os fatos não mentem, mas sob uma interpretação parcial), Walter Benjamin diz que “as crianças são os últimos habitantes do mundo encantado” (pg. 79), diria não há mais no mundo “adulto”: leveza, empatia e imaginação.

“As crianças de hoje caçam informações como ovos de Páscoa digitais” (pg. 80), hoje a “falta de interioridade narrativa distingue as fotografias das imagens de recordação … as fotografias retratam o dado sem internalizá-lo … não querem dizer nada … “  e é por isto que concluo que dados podem não ser, e quase sempre não são, informações.

Mais difícil ainda é entender o que é conhecimento como vivência: “a narrativa se opõe a facticidade cronológica” (pg. 81), lembra Han lendo Marcel Proust e também Benjamin que a aura é justamente a “distância do olhar que desperta no objeto observado” (pg. 82) e lembrará também Karl Kraus citado em Benjamin: “quanto mais de perto se olha para uma palavra, mais distante ela parece estar” (pg. 83).

A memória desnarrativizada é como uma “loja de sucatas” aqui o autor lembra Paul Virilio (Informação e Apocalipse) sendo o “depósito abarrotado de todo tipo de imagens completamente desordenadas, mal preservadas e de símbolos desgastados” (pg. 84), onde se torna “amontoado de dados ou informações [que] não tem uma história. Ele não é narrativo, mas cumulativo” (pg. 84).

Termina este capítulo de forma muito agradável e sensível, depois de citar trechos das obras de Susan Sontag, Adorno e Gershom Scholem, parafraseando este último escreve: “O fogo mítico na floresta foi esquecido. Não sabemos mais fazer orações. Também não somos capazes de meditações secretas” (pg. 89) e diria aproveitando o tópico Dor do livro “Coração de Heidegger: sobre o conceito de tonalidade” (veja posts anteriores) não sabemos mais o significado da dor, do afeto e perdemos qualquer noção do “todo”.

Han, B.C. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: Vozes, 2023. 

 

Narração, cultura digital e oralidade

06 jun

Ainda no trecho sobre a Pobreza e experiência, citando Walter Benjamin escreveu Byung-Chul: “Ficamos pobres. Abandonamos uma depois da outra todas as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las muitas um centésimo do seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do ´atual’. A crise econômica está diante da porta, atrás dela está uma sombra a próxima guerra” (Han, 2023, pg. 37-38, citando Pobreza e Experiência de Benjamin), era o limiar da 2ª. guerra mundial.

Em que a modernidade resume a felicidade, esclarece o autor “a felicidade não é um acontecimento pontual (pg. 43), hoje “quando tudo nos lança em um frenesi da atualidade, quando estamos no meio da tempestade de contingências, somos infelizes” (pg. 44), relembra Marcel Proust “Em busca do tempo perdido” que entendeu o “resgate do passado como tarefa do narrador” (pg. 45) e a vida moderna como “uma atrofia muscular”.

Discordando de Heidegger para reafirmar sua importância contextual (também para hoje): “Ser e tempo não é uma análise atemporal da existência humana, mas um reflexo da crise temporal da modernidade” (pg. 45), “o ser-si-mesmo de Heidegger é anterior ao contexto narrativo da vida produzido posteriormente. O ser-a-i se assegura de si mesmo antes de narrar a si mesmo uma história coerente referente ao mundo da interioridade” (pg. 47) e isto explica o livro que postamos anteriormente aqui O coração de Heidegger.

Após um discurso de algumas páginas sobre as novas mídias:  Phono sapiens, os selfies, o Facebook, é uma fixação do autor ainda que reconheça Benjamin anterior a isto, ainda que diga de modo correto: “eles são alinhados de forma sindética, sem nenhum nexo narrativo” (pg. 51), reconhece que sempre “A memória humana faz escolhas. Nesse aspecto, ela se diferencia de um banco de dados”, uma precisão técnica fundamental, por há quem confunda e as vezes ele também, com dados sem informação e informação sem conhecimento.

É anterior até mesmo ao surgimento da prensa de Gutenberg e pertence à cultura oral: “a narração autobiográfica pressupõe uma reflexão posterior sobre o que foi vivido, um trabalho de recordação consciente” (pg. 53) enquanto “a qualidade dos dados é melhor quanto menos consciência eles contêm” (idem), porém é preciso lembrar a busca semântica, a ligação dos dados (linked data) e o uso da Inteligência Artificial para a narração (é possivel com ética e supervisão humana) que tornem possível uma consciência além do “consciente libidinal” (idem) sem ética nem moral, sem o esquecimento do ser.

Sem citar a cultura oral, mas o trecho lembra ela: “se tudo o que foi vivenciado estiver presente sem distância, ou seja, estiver disponível, a recordação reaparece” (pg. 56) e acrescenta: “uma reprodução sem falhas da vivência não é uma narrativa, mas um relatório ou registro” (ibidem) e lembra que quem quiser narrar ou recordar “precisa ser capaz de esquecer ou deixar escapar muita coisa” (pg. 57) e não pode estar falando de outra coisa que não seja a cultura escrita, pois a oral é capaz de esquecer detalhes porém vai sempre recordar o que é vivido e através dela lembrar o essencial e lembrar a tradição.

Lembrar os mestres das culturas, seus ensinamentos e vivencias não é outra coisa senão a cultura oral, a cultura escrita é um “banco de dados”, uma memória sem reflexão.

Sem citar a cultura oral, mas o trecho lembra ela: “se tudo o que foi vivenciado estiver presente sem distância, ou seja, estiver disponível, a recordação reaparece” (pg. 56) e acrescenta: “uma reprodução sem falhas da vivência não é uma narrativa, mas um relatório ou registro” (ibidem) e lembra que quem quiser narrar ou recordar “precisa ser capaz de esquecer ou deixar escapar muita coisa” (pg. 57) e não pode estar falando de outra coisa que não seja a cultura escrita, pois a oral é capaz de esquecer detalhes porém vai sempre recordar o que é vivido e através dela lembrar o essencial e lembrar a tradição.

Lembrar os mestres das culturas, seus ensinamentos e vivencias não é outra coisa senão a cultura oral, a cultura escrita é um “banco de dados”, uma memória sem reflexão.

HAN, B.C. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: Vozes, 2023. 

 

Experiência, narrativas e visão de futuro

05 jun

No capítulo que Byung-Chul Han trata da pobreza da experiência da modernidade, lembrando que não se trata apenas da vida digital pois é anterior a ela, ele conta a fábula de um homem no leito de morte que conta aos seus filhos que há um tesouro escondido em seu vinhedo (pg. 31), e depois de cavarem muito finalmente entendem que as vinhas daquelas terras produziam que qualquer outra (Han, 2023, pg. 31),  em um detalhe importante explica que “é característico da experiência que ela possa ser narrada de uma geração para a outra” e isto é o que se perdeu na narrativa do storytelling.

A narração pressupõe tradição e continuidade (Han, pg. 34) e é ela que “cria um contínuo histórico” enquanto a pobreza de experiência é “animado pelo páthos do novo” que “generaliza a nova barbárie e a transforma no princípio do novo: A essa estirpe de construtores pertenceu Descartes, que baseou sua filosofia numa única certeza – penso, logo existo – e dela partiu” (pags. 34 e 35).

Lembra Paul Scheerbart que em seu ensaio Arquitetura de vidro “fala da beleza que surgiria na Terra se o vidro fosse usado em todos os lugares” (pg. 38) e curiosamente a arquitetura moderna está cheia desta “metáfora” (lembro aqui também a arquitetura do plástico de Jeff Koon com seu ballon Vênus de plástico do livro de Han A salvação do belo), agora o vidro: “um mundo cheio de edifícios de vidros brilhantes, coloridos e suspensos, [onde] as pessoas seriam mais felizes” (pg. 38), e elas conferem uma aura especial como um meio para o futuro, porém conforme explica Han: “o futuro é uma aparição de algo longínquo” (pag. 39) que só o presente não pode conferir, isto é um ‘sentimento de iniciante”, que não fica na superfície e que concebe uma “forma de vida diferente”.

A exausta modernidade tardia é alheia ao “sentimento de iniciante” (pag. 40), “não professamos nada”, estamos “confortáveis” à conveniência e ao like (idem), “as informações fragmentam o tempo … reduzido a uma faixa estreita das coisas atuais”, acrescentaria que não temos leitura, conhecimento e reflexão sobre as coisas anteriores e que fizeram a história da cultura e do próprio conhecimento, não este reduzido a fração cartesiana da razão.

Estamos numa cultura de “solução de problemas … na forma de um tempo compactado” (pag. 41), porém o autor não deixa escapar uma visão de futuro: “ a vida é mais do que a solução de problemas … aqueles que só solucionam problemas já não possuem futuro … a narração desvela o futuro, somente ela nos dá esperança” (pag. 41).

A narração está presente no fundo de diversas culturas das religiosas às sociais e políticas, os povos as construíram mais que seus governantes e imperadores que a elas sucumbiram, Napoleão não deixou uma França imperial, mas resignada, Bismark e Hitler não deixaram uma Alemanha soberba, mas sábia onde a filosofia encontrou raízes, a submissão colonial das Américas e da África, do Oriente onde ainda há lapsos de colonialismo, deixaram povos mais resilientes e em busca de sua própria narração, há vida debaixo do pó que ditadores e colonizadores nos quiseram reduzir, também lembro as culturas orientais e ocidentais de narração religiosa, não são menos importantes, as sustentam.

Claro há neste meio também storytelling, falsos profetas e “pastores” que buscam a escravização religiosa, porém o ensinamento bíblico e oriental é diferente e sendo uma narração não pode ser confundido com leitura estereotipadas e segmentadas, também elas sofreram com o cartesianismo e idealismo, quando estes “religiosos falsos” que exigem uma “narrativa moderna” e que dê conta do storytelling atual.

Já naquele tempo indagavam Jesus sobre a existência da vida eterna, Ele lembra a passagem da sarça ardente em que Moisés falara diretamente com Deus (Mc 1,26): “Quanto ao fato da ressurreição dos mortos, não lestes, no livro de Moisés, na passagem da sarça ardente, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’?” e ao contrário de negar a narração antiga reafirma que ela é parte da tradição e que ali já se escrevia uma nova realidade.

HAN, B.C. A crise da narração, trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: Vozes, 2023. 

 

Violência, manipulação e resistência

04 jun

Edgar Morin pediu em entrevista que diante de uma situação de policrise enfrentemos ela com uma resistência do espírito, a força de caráter, de oposição ao ódio e de oposição a pequenos atos desonestos, mas o mais difícil é a resistência espiritual as narrativas que vão da política a religiosidade.

Esclarecendo como fizemos no post anterior, que ao usar Walter Benjamim que faleceu na década de 40, o que ele citava era sobre a imprensa preocupada com notícias quentes e nem sempre em pensar e digerir com profundidade a “lentidão” como propõe Byung-Chul Han os fatos da realidades, afirma Byung-Chul: “A digitalização põe em movimento o processo que Benjamin, devido à sua época, não podia prever … associa a informação com a imprensa. Á imprensa é um meio de comunicação que segue à narração e ao romance” (Han, pg. 27), lembrando que é a visão romântica que inicia um processo de morte da narração.

Já havíamos citado em posts anterior Karl Kraus (1874-1936), poeta e jornalista austríaco forte opositor da 1ª. guerra mundial, um espírito de resistência da época, alertava as ideias em ebulição nacionalista e militarista, da qual a imprensa era parceira, e via na guerra uma manifestação da loucura coletiva da humanidade.

Em época de vazio espiritual é muito comum o espirito bélico e passional crescer, não faltam espíritos exaltados e sem nenhuma reflexão em todas mídias, a ordem é promover a desordem, a moral é promover o imoral, desta loucura se alimentam espíritos bélicos e doentios, precisam da loucura coletiva para sua loucura da guerra prosperar.

Em um período ainda anterior, o regime da informação [desordenada] afirmava George Büchner (1813-1837), citando por Byung-Chul: “somos marionetes, cujos fios são puxados por poderes desconhecidos; não somos nada, nada nós mesmos” (Han, 2023, pg. 29), agora “os poderes estão se tornando mais sutis e invisíveis,, de modo que não temos mais consciência dele. Nós até confundimos isso com liberdade” (Idem).

A pobreza da experiência da narração, também apontada por Benjamim e citada por Han: “que foi feito de tudo isso ? Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas ?” (Han, 2023, pg. 31), é certo não há neutralidade, mas entre duas forças bélicas é possível um poder de resistência que as denunciem.

É como na leitura bíblica os fariseus que querem colocar Jesus em posição favorável ao império romano, para vê-lo como traidor, ou em oposição para enunciá-lo como rebelde.

Em leitura bíblica, dai a Cesar o que é de Cesar (Mc 12,16-17): “ Eles levaram a moeda, e Jesus perguntou: “De quem é a figura e a inscrição que estão nessa moeda?” Eles responderam: “De César”. Então Jesus disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. E eles ficaram admirados com Jesus, pois não era um ato aliado e sim mostrar de que lado está o poder e de que lado estão os homens pacíficos e que querem de fato o bem comum de todos.

Depois de inúmeras alianças com os fariseus, no ano 70 d.C. o império Romano destruiu o segundo templo judaico e cuja reconstrução sonham até o dia de hoje, ambos perderam, também o império romano caiu no ano de 476 ao líder germano Odoacro (na foto os visigodos saqueando Roma), os bárbaros já haviam minado o poder político, financeiro e militar do Império.

HAN, B.C. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis, RJ: Vozes, 2023.