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Escutar aquela voz “interior”
Qual a voz do mundo que escutamos? ou temos capacidade de desenvolver e saber escutar uma voz interior, tanto Hannah Arendt quanto Byung-Chul desenvolvem isto claramente, porém é preciso recuperar as raízes alemães, por isso Byung-Chul em suas traduções deixa de propósito os termos dispostos [gestimmtes] e ouvir e se colocar de acordo com a voz [stimme].
Assim ele explica como o ser-no-mundo originário articula o correntes e o estar disposto, “não podemos dispor da disposição, antes somos lançados nela, não a atividade”, mas o “corresponder” significa àquilo que “se dirige a nós como voz [Stimme] do ser” (p. 67), assim ouvir e escutar atentamente precede a ação e se dá à disposição.
Assim o “corresponder ouve a voz do chamado […] é sempre necessário … não apenas por acaso e às vezes, um disposto [gestimmtes]”, onde “o falar do corresponder recebe sua precisão” … “antes, ela concebe ao pensado uma De-finição [Be-Stimmheit]” (Han, 2023, p. 68), que vem dos o texto de Heidegger “O que é isto – A filosofia”
Explica Han: “pensar já é sempre disposto; ou seja, exposto a uma disposição que o fundamenta”, e citando novamente o texto de Heidegger: “todo pensar essencial exige que seus pensamentos e proposições sejam extraídos renovadamente, como minério, da disposição fundamental” (Heidegger, citado na p. 69).
Este pensar é no seu amigo, o que os gregos chamavam de pathos e Heidegger recupera, mas lembra na raízes latina o paschein*: “sofrer, aguentar, suportar, entregar, deixar-se carregar, deixar-se de-finir por [algo]” (p. 69), e acrescento aqui, [ou alguém] se pensar novamente na diferença que Arendt e Han fazem entre imortalidade e eternidade, grifo *nosso do hebraico (פַּסחָא), lembrando nosso post anterior sobre a “paixão civilizatória”.
Assim, pode-se reduzir (simplificar é sempre complicado), que podemos ouvir uma voz interior da consciência, mas Heideggeer e Han lembram que a disposição antecede a isto, quer dizer, muitas vezes estamos “escutando” porque temos funções auditivas, mas não temos a disposição e a atenção para de fato ouvir o que a consciência manda.
É claro que ter consciência é muito mais que ter convicções, muitas vezes nossas certezas e convicções atrapalham ouvir esta voz, porque somos humanos e erramos, queremos o eterno, mas nos contentamos como que é passageiro, ouvir exige “meditar”.
Pensar numa verdadeira “pachein” pode ajudar nos momentos de dificuldades, de contrariedades, enfim tudo o que de certa forma é normal na vida e devemos passar, enfim a paixão boa ou má é passagem para um outro lado.
HAN, B.-C. Vita Contemplativa Ou sobre a inatividade. Trad. Lucas Machado, Petrópolis: RJ, 2023.
A grande paixão civilizatória
Guerras militares, guerras de mercado, situações endêmicas (a dengue atualmente no Brasil, por exemplo) e uma retórica polarizadora sem fim é uma crise civilizatória, a base não é a situação conjuntural de agora, ela vem desde o início da colonização e se agravou com duas guerras mundiais.
Parecia no final da segunda grande guerra que com a ONU, o estabelecimento de direitos humanos e os acordos nucleares que tínhamos encontrado a saída, porém a base de todo este processo, temos postado aqui, é um pensamento idealista, que a polarização chama de neoliberal e o outro polo de comunista, porém toda guerra é de pilhéria e morte de inocentes.
Reunidos pela OTAN, os ministros da Defesa europeus (foto) salientaram em reunião finalizada no domingo (13/04), que apesar das negociações dos Estados Unidos com a Rússia, que ambos consideram avanços, a Europa desacredita porque as agressões da Rússia continuam, e ameaçam a região.
Não importa a retórica, a base de todo pensamento idealista/iluminista é um estado forte e muitos países não abandonam este pensamento, a crise tarifária agora é a manifestação do lema de Trump: “American first”, americano primeiro enfrentando até mesmo a Europa.
O pouco que entendo de economia, entendo que há uma interdependência das nações, um carro produzido em qualquer parte do mundo tem peças produzidas no mundo inteiro, os americanos querem que voltem a ser produzidos lá, com as tarifas o carro americano fica mais caro, enquanto a tática da China tem sido produzir barato e dominar os mercados.
Aliás a pedido das montadoras americanas, no quesito produção de carros Trump recuou, no sábado (12/04) recuou também na taxação de smartphones, computadores e chips.
Haverá mais empregos nos EUA, mas isto não me parecia um problema, muita gente ia para lá porque haviam empregos e bem remunerados, porém neste quesito a deportação de ilegais é também no caminho contrário e a falta de mão de obra poderá representar outro problema.
A guerra no Oriente Médio segue cruel com os Houthis, nos ataques o chefe da inteligência do grupo Abdul Nasser Al-Kamali foi morto, e as ameaças ao Irã prosseguem um caminho perigoso.
Há sempre esperança, há sempre negociadores com desejo sincero da paz, o que faz a crise civilizatória avançar é o pensamento imperialista e belicista aumentar com a eleição cada vez maior de governos autoritários, influenciados pelo pensamento iluminista, que veem os países de outros povos como inimigos e não cedem em qualquer processo de negociação.
É uma semana para os cristãos que envolve a paixão de Jesus, parece estar mais próxima de uma paixão civilizatória da humanidade, é preciso pensar nos inocentes, no futuro da humanidade e na paz tão desejada, mas pouco lembrada na hora de algum conflito, é preciso semear a paz.
Maus acordos e ameaças
No mesmo dia (18 de março) em que o acordo de trégua parcial (apenas o ataque a postos de energia da Ucrânia e navios no Mar Negro da Rússia), a Ucrânia acusou de ter sido atacada em 8 estações energéticas.
A Rússia deseja que o banco estatal russo fosse novamente ligado ao sistema de pagamentos internacional, mas a Europa rejeita esta posição afirmando que isto só acontecerá quando a Rússia retirar todas as tropas da Ucrânia.
Uma coisa é fato da personalidade de Putin, ele despista, mas não blefa, quando fez o acordo de paz sobre a Criméia, curiosamente foi também no dia 18 de março de 2014, na visão de Putin ele faz o mesmo que a OTAN vai avançando sobre o terreno inimigo e demarcando posições.
A Europa teme novos avanços sobre países da OTAN, a julgar pela história a Polônia pode ser o próximo passo, ali Hitler avançou na II Guerra e o regime estabelecido pelo estado soviético no pós-guerra foi também cruel com o povo polaco, lembre-se as revoltas do Sindicato Solidariedade em Gdansk, já no período final do regime do general Jaruzelski.
Os acordos de trégua têm pouca sustentação porque não há forças “neutras” que os garanta.
Também o Oriente Médio vive sobre maus acordos, depois do acordo Hamas e Israel pouco ou nada caminhou no sentido de uma trégua mais ampla, o reconhecimento do território palestino não caminhou, Israel e os EUA querem manter o controle da região sob a ameaça de novos ataques a Israel.
O Irã que é um personagem nas sombras desta guerra, porque financia e dá apoio a grupos extremistas, a ameaça de Trump de bombardear Teerã teve como resposta que os EUA irão receber um “golpe recíproco”, o que Trump quer é um novo acordo nuclear de limitação das armas nucleares no Irã, é bom lembrar que são parceiros da Rússia que já possui vasto arsenal nuclear.
O mundo segue sobre a sombra de uma guerra insana, aqueles que não pensam sobre esta insanidade, não sabem os horrores e as consequências de uma guerra hoje.
A figura acima é uma escultura feita por Marie Uchytilová em Lídice, republica Checa, em lembranças a um grupo de 82 crianças asfixiadas com gás no campo de extermínio de Chelmno no verão de 1942.
A paz e os horrores da guerra
As eleições na Alemanha, na qual os debates foram para polarizações jamais pensadas naquele país depois dos horrores da II Guerra Mundial fez muitas analistas pensarem que já estamos um pouco distantes daquele momento triste para a história da civilização e talvez não saibamos mais entender os horrores da guerra, não importam as narrativas, toda guerra é sempre algum tipo de saque, algum nível de genocídio e o que morre primeiro é a verdade.
Apesar de tentativas e propostas o conflito do leste europeu parece escalar em limites e em envolvimentos de forças antagônicas cada vez mais perigosos, a tentativa de um cessar-fogo não só fracasso, como também mostrou interesses diferentes daqueles que são declarados.
Também o cessar-fogo no médio oriente, depois de um primeiro ciclo, quando parecia que poderia entrar numa segunda fase, voltou a recrudescer, o exército israelense afirmou na última terça-feira (18/03) estar realizando “ataques extensivos” e o ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, disse que 400 palestinos ficaram feridos nos ataques.
No leste europeu, mesmo as propostas americanas de cessar-fogo inicial ter sido aceita, tanto o exército russo realizou ataques com drones a Kiev e fontes energéticas da Ucrânia, como a Ucrânia lançou ataques a uma base de armas nucleares na região de Engels (Oblast de Saratov), como também ataques a capital Moscou, inviabilizando qualquer cessar-fogo neste momento.
Uma análise da CNN, no sábado 22/05, o que a Rússia quer é muito, muito maior que o fim da Ucrânia como estado independente, há o desejo que a OTAN volte ao tamanho do que era no período soviético, países que hoje integram a OTAN estavam antes na esfera soviético-russa.
Não há uma visão forte de que a paz é melhor do que qualquer guerra, sentar a mesa e travar o debate diplomático evita a morte de milhares de civis inocentes, deixa de alimentar uma crise mundial que afeta a vida, por razões óbvias, o equilíbrio econômico e o espirito fraterno.
Ainda há muito que caminhar na direção da paz, desarmar espírito não só nos países em guerra, mas entre aqueles que nas sombras alimentam um espírito genocida do ódio e do conflito, o perdão e a concórdia precisam partir de cada pessoa que deseja um mundo de paz.
Paz duradoura ou trégua
Nenhuma paz que submeta uma nação será duradoura, a opressão é sempre uma situação de indignidade para um povo, mas a negociação diplomática é melhor do que qualquer guerra, este parece ser um princípio para a Ucrânia atualmente pelas vidas perdidas (foto).
Entretanto, o Secretário de Estado dos EUA Marco Rubio pensa assim: “para acabar com este conflito de forma duradoura e sustentável” e também Putin já tem declarado uma visão muito parecida, uma vez que está em vantagem e conquistou pela guerra vários territórios ucranianos e está recuperando a região russa de Kursk.
A paz não pode ser a “pax romana”, conforme já analisamos em posts anteriores, aquela que o império romano considerava quando dominava um território, também já analisamos aqui os interesses financeiros, a Ucrânia é rica em terras raras e também grande produtora de grãos.
A Rússia ganha com a suspensão de seu bloqueio financeiro e os EUA vão querer as terras da Ucrânia, mas a Europa continua desconfiada de futuros avanços da Rússia e esta da OTAN.
No oriente médio, a Síria parece caminhar para um caminho constitucional, um plano de 5 anos proposto pelo presidente interino da Síria, Ahmed al Sharaa, e também o grupo do estado islâmico perdeu totalmente sua força.
No sul da península arábica, entretanto segue uma luta dos EUA contra os Houthis, que atacam os navios americanos no golfo pérsico, também lá é preciso evitar uma escalada que cresce, o Irã nega, porém, é praticamente certo pela posição xiita que há algum apoio ao grupo de Iêmen.
Os jornais noticiam que o gabinete de Israel prepara a retomada das negociações com o Hamas, desde que a primeira fase terminou no dia 2 de março, a exigência do Hamas é também que seja uma paz duradoura e que supere esta fase atual cercada de desconfianças.
Também ali problematizamos a “pax romana”, sem estabelecer um território livre para o povo palestino qualquer acordo será apenas uma trégua, e a guerra pode ser retomada a qualquer instante que algum conflito ou provocação aconteça de parte a parte.
O cenário apesar de muito delicado é otimista, os meios diplomáticos estão funcionando e forças políticas internacionais saíram do imobilismo, a esperança está em alta.
Linguagem, ser e reconciliação
Desde a filosofia antiga a linguagem é considerada ontologicamente ligada ao Ser, o Mundo das ideias de Platão (eidos) não é outra coisa senão isto, para Aristóteles linguagem é uma “ferramenta” do pensamento que permite representar a realidade.
Porém a modernidade, sob pretensa objetividade realista, ignorou esta realidade simples onde qualquer ação se inicia antes pelo pensamento e se transforma em linguagem, no dizer do pensador contemporâneo Heidegger a linguagem é “morada do ser”.
A “linguagem das máquinas” ou a codificação do pensamento já expresso numa “mensagem” humana e transformado em códigos, não é exatamente o que deve ser pensado em ontologia, todos os textos de Heidegger e também do filósofo Byung-Chul Han reclamam sobre esta visão técnica da linguagem, porém o século XX começou com a chamada virada linguística.
Assim a linguagem pensada por Alan Turing e Claude Shannon estão circunscritas ao universo das máquinas, enquanto a linguagem pensada ontologicamente é a “abertura do ser” e a busca de um universo de realização e reconciliação, diz Rainer Rilke (1875-1926): “Nós, violentos, nós duramos mais. Mas quando, em qual das vidas, seremos enfim abertos e acolhedores?”.
Byung-Chul Han lembra que o poema épico Ilíada se inicia com a frase: “Aira, Deusa, celebra do Peleio Aquiles o irado desvario, que aos Aqueus tantas penas trouxe, e incontáveis almas arrojou no Hades”, já fizemos diversos posts sobre o mito de Hades, deus do submundo para onde vão as almas, enfim a violência ainda marca nosso processo civilizatório.
A linguagem como expressão de nosso pensamento e nossa interioridade não pode ser separada da vida ativa (Hannah Arendt e Byun-Chul Han), Heidegger que teve forte influências sobre ambos, ela é ponte que vincula o dentro e o fora do homem, de tal forma que o falar é pensado como uma atividade que acontece por meio do homem e assim é ato ontológico (foto – Um mural em Teotihuacan, México, c. século II).
Esta visão da linguagem “por meio do homem” é assim anterior a sua difusão pelos meios (mídias) e não pode ser pensada como meros emissores e receptores uma vez que seja qual for o meio ele é precedido pela pensamento e linguagem humana e nela o ser se “abre”.
Pode-se dizer então que a violência é um aspecto da falta de abertura do ser motivada pelo pensamento e este é construído por metodologias e modos de entender a realidade como tendo um único caminho da violência onde a reconciliação pode parecer impossível.
O homem e a própria realidade não são binários: Ser e Não-Ser, afirmativo e negativo, no homem porque possui estágio interiores sensíveis e cognitivos onde se ativam os motores do pensamento capazes de sínteses, e na realidade pelas descobertas da física quântica e do universo complexo que a astronomia atual revelou.
Reconciliar, ativar mecanismos de diálogos, de entendimento são possíveis ontologicamente.
Sinais positivos no Oriente médio e negativos no Leste europeu
Terminada a primeira fase das negociações, o porta-voz do grupo Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, disse neste sábado (08/03) que vê sinais positivos nas negociações para uma segunda fase do cessar-fogo com Israel, e 50 ex-reféns pedem a Netanyahu que implemente um acordo amplo sobre o conflito, Israel e o Hamas discordam do futuro do conflito.
Os países europeus, cada vez mais independentes das opiniões americanas, apoiam o plano da reconstrução da faixa de Gaza, infelizmente na noite de ontem militantes do Hamas sofreram forte bombardeio de Israel.
Já no leste europeu a situação vai adquirindo lances dramáticos, tanto no campo da batalha onde a Ucrânia tem ameaças de perder mais território, Putin quer chegar até a cidade portuária de Odessa, o que torna a guerra no mar negro mais violenta e também cerca as tropas da Ucrânia em seu território invadido na região de Kursk.
A Ucrânia sofreu enormes bombardeios, e tem sua infraestrutura energética cada vez mais comprometida, Trump retirou seu apoio e agora a Ucrânia não conta mais com imagens de satélite que permitiam controlar os movimentos das tropas russas.
Embora ambos os lados do conflito falem em cessar-fogo, no campo de batalha, no envolvimento da Europa enfim na prática, apenas cresce a ferocidade de parte a parte e a militarização da Europa assusta qualquer analista sério, há um futuro sombrio neste conflito.
Em reunião da embaixadora Linda Thomas-Greenfield, representante dos EUA nas organizações das Nações Unidas (ONU), com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, realizada em Brasília no início do mês, Linda afirmou que qualquer solução no leste europeu deve considerar o apoio à Ucrânia, e isto mostra a boa intenção americana.
O problema é que a Rússia rejeita qualquer concessão de território enquanto a Ucrânia quer todo seu território de volta, conforme já analisamos anteriores há interesses nas reservas de terras raras da região, e isto leva a um impasse.
O acordo sobre o transporte de grãos, que passa pelo estreito de Bósforo controlado pela Turquia, teve reunião na sexta-feira (07/03) ainda sem conclusões, mas ele é valido até maio.
A declaração do presidente Makron da França que disse que a Rússia é uma “imperialista revisionista” referindo-se ao período soviético, teve a resposta de Putin que a França se esqueceu do que “aconteceu com Napoleão” que perdeu a guerra justamente em solo russo.
O clima mundial continua em uma tensão máxima, porém seguem esforços para alguma proposta que coloque os lados adversários numa mesa diplomática de negociação.
Pax romana e conflitos
O encontro de sexta-feira (28/2) do presidente Zelensky com Trump e seu vice no “salão oval” da Casa Branca foi uma reafirmação de Trump de sua política de Pax Romana, onde os mais fracos devem ceder aos mais fortes, e ainda pediu gratidão de Zelensky aos EUA, não é diferente a política para o Oriente Médio, o controle dos palestinos por Israel e EUA.
Zelensky reagiu participando da cúpula em Londres, neste domingo (02/03) reafirmou a posição da Europa de apoio a Zelensky, o primeiro ministro Keir Starmer da Grã-Bretanha, afirmando que era “um momento único em uma geração para a segurança da Europa” que teme novos avanços de Putin sobre o continente, todos países estão se militarizando.
A Pax romana era a mera rendição de seus adversários pela força, isto constitui a tática tanto do imperialismo como das colonizações, que ainda acontecem no mundo contemporâneo, após o encontro Zelensky ainda se reuniu com Giorgia Meloni, premiê da Itália, que afirmou desejar fazer uma ponte entre Itália e EUA e uma futura conferência com os EUA.
A ideia de novo acordo de cessar-fogo no Oriente Médio (acabou dia 1º.) agora passa pela proposta americana de controle da faixa de Gaza e Israel suspendeu a ajuda humanitária para pressionar o Hamas.
No início da semana passada surpreendeu a posição da Turquia de apoio a Ucrânia, o presidente Recep Erdogan afirmando que a Ucrânia deve participar das negociações e a Turquia controla a passagem de navios pelo estreito de Bósforo (foto) por onde passam os navios da Rússia no caminho pelo Mar Negro, e a Turquia é importante também na paz para o Oriente Médio, onde pode ocupar um fiel da balança, e o país é membro da OTAN.
O autocrata turco disse ainda que é a favor da devolução total do território ucraniano: “O regresso da Crimeia à Ucrânia é uma exigência do direito internacional”, ponto dificílimo.
A situação é de fragilidade da Ucrânia, mas a Rússia precisa demonstrar um interesse real de desejo de paz, do mesmo modo que ela desconfia da OTAN, os países europeus temem um futuro avanço sobre a Europa, já há áreas de conflitos como a Transnístria na Moldávia, a Geórgia e Eslováquia.
Toda guerra envolve algum tipo de pilhagem, e o interesse são as terras raras da Ucrânia.
Também Trump manifestou interesses imperialistas sobre a Groenlândia e até mesmo territórios do México e do Canadá, lembre-se que boa parte do Novo México e estados próximos já pertenceram ao México (Texas, Califórnia e pedaços de estados vizinhos), o acordo de Guadalupe-Hidalgo de 1848 estabeleceu a nova fronteira americana, após várias guerras posterior a anexação do Texas no ano de 1821.
É preciso estabelecer o direito dos povos e muitos tratados internacionais já falam de respeito a fronteiras e respeito as leis nacionais, interferências são sempre conflituosas, é preciso lembrar também dos povos apátridas (os curdos e os palestinos, mas há outros).
Um novo mundo solidário exige uma nova visão de fronteiras, onde a emigração não seja um crime e cada povo possa viver em seu território e explorá-lo comercialmente sem guerras.
A pax romana e seus perigos
Alertamos que a pax romana, aquela que Roma decretou após o fim de conflitos em seus territórios conquistados, esconde o ódio e a indignação que não elimina as guerras, nenhum povo dominado vai ficar confortável em ver seus bens, culturas e valores sendo negados.
É esta pax proposta por Trump tanto na Ucrânia como na faixa de Gaza, talvez provoque um desarme momentâneo, mas esconde futuros confrontes que libertariam povos do jugo, e mais crítico é que este clima hoje está disseminado por outros povos e nações.
O grupo palestino Hamas entregou a Israel seis reféns na manhã de sábado (22/2), os primeiros da lista foram Tal Shoham, 40 anos e Aversa Mengisto, 39, entregues no sul de Gaza, em Rafah à Cruz Vermelha e depois levados a Israel, e depois mais 3, até a tarde deviam ser entregues mais um que era muçulmano e não foi entregue a Cruz Vermelha.
No acordo Israel deve libertar 602 prisioneiros, assim completa a primeira fase do acordo, mas a ideia de manter Gaza sob controle proposta por Trump e aceita por Israel será um empecilho para a prorrogação do acordo de cessar fogo.
Na Ucrânia, a proposta de Trump é que entregue os territórios conquistados na guerra, e Trump chegou a chamar Zelensky de ditador, que a União Europeia negou dizendo que ele foi eleito numa eleição legítima, enquanto Putin frauda as eleições e não dá liberdade á oposição.
A Alemanha realizou eleições parlamentares, que de acordo com o número de cadeiras nomeará o novo chanceler, a centro esquerda SPD (Social Democrata) de Olaf Scholz perdeu para a CDU (União Democrata Cristã) de Fredrich Merz, que deverá ser o novo chanceler, mas depende de um acordo que terá que ser negociado com a extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) que cresceu ao ponto de ser segundo colocada (quadro acima, antes do final da apuração no domingo).
O que chama a atenção na Alemanha, e isto acontece em muitos pontos da Europa e das Americas é o crescimento do discurso nacionalista de rejeição aos imigrantes e á perde de valores cujo discurso, inclusive na Alemanha, cresce entre os jovens, os Grüne são os verdes.
Sem enfrentar com clareza as ideias e pensamentos que se encontram por trás de atitudes aparentemente elogiáveis, não conseguiremos separar o joio do trigo e dizer de que lado está a capacidade civilizatória de fazer uma humanidade menos conflituosa e com respeito a todos.
Entre as vozes que defendem uma paz sem fronteiras, sem ódios e polarizações está o papa, agora fortemente debilitado de sua saúde e em um estado considerado critico, com 88 anos, ele colocou a igreja e as preocupações com a humanidade acima de sua saúde.
É preciso mais do que nunca homens públicos de paz, acima dos ódios e polarizações, que falem e pratiquem os valores que dizem defender.
Oriente Médio e Leste Europeu sob tensão
Após ameaça de suspensão da trégua que se iniciou em 19 de janeiro, o Hamas acusa Israel de violar o acordo, neste final de semana mais três reféns do grupo extremista foram devolvidos em troca de centena de prisioneiros, os reféns foram exibidos num palco na cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza (foto).
Os três reféns: o israelense-americano Sagui Dekel-Chen, o israelense-russo Sasha Trupanov e o israelense-argentino Yair Horn, estavam com o Hamas desde 07 de outubro do ano passado, o fatídico ataque terrorista.
A situação é tensa porque o governo americano não aceita a governança do grupo Hamas na região e faz todo tipo de pressão para que a região fica neutra.
No leste europeu a política americana é de considerar que a Ucrânia não vai conseguir recuperar os territórios perdidos na guerra e força um acordo de paz com novas fronteiras, ameaçando retirar qualquer apoio, mas não deixa de ver o avanço russo na Europa, no Polo Ártico a presença russa é notável, e forças do Canadá, EUA, Dinamarca e Noruega já se deslocam para lá.
A Europa não abandona totalmente a Ucrânia, porque sabe que a Rússia poderá não parar lá, já fez ameaças aos países bálticos, à Moldávia e a Polônia.
Na semana passada, drones atingiram Chernobyl, ao que tudo indica eles foram enviados pela Rússia, atingindo o escudo central de proteção.
Neste domingo (16/02) a França declarou que sediaria uma cúpula de líderes europeus nesta segunda-feira (17) para discutir a guerra do leste e a segurança da Europa e procura responder a abordagem unilateral do presidente Trump, que usa a política do que não é bom para os EUA não lhe diz respeito.
Em todo este espectro de tensões e ameaças, há sempre um fundo de esperança de paz de retorno ao bom senso e de deixar que os povos vivam em paz, podendo cultivar suas raízes e sua cultura, sem xenofobia e guerras.