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Diversas reações ao pensamento dominante
Em países que foram colônias da Europa, emergiu o termo decolonização que se diferencia de descolonização porque penetra justamente no pensamento e na epistemologia dominante (alguns autores chamarão por isto de epistemicídio) que não é a simples liberação de dominação, mas também o ressurgimento de culturas subalternas.
Assim apareceram autores na África (como Achiles Mbembe), na América Latina (Aníbal Quijano e Rendón Rojas y Morán Reyes), além de autores de cultura originária como os indígenas (Davi Kopenawa e Airton Krenak), porém é possível um diálogo com autores europeus abertos a esta perspectiva como Peter Sloterdijk (fala da Europa como Império do Centro) e Boaventura Santos (fala do epistemícidio e também alguns conceitos de decolonização), há muitos outros claro.
Deve-se destacar nestas culturas também a cultura cristã, vista por muitos autores como colaboradora do colonialismo, não se pode negar a perspectiva histórica e também de doutrina que é a libertação dos povos e uma cultura de fraternidade e solidariedade, ela é também minoritária hoje na Europa e perseguida em muitos casos.
Entre os europeus que defendem um novo humanismo, ou um humanismo de fato já que o iluminismo e as teorias materialistas não conseguiram contemplar a alma humana como um todo, e são por isto um humanismo de uma perna só, entre os europeus destaco Peter Sloterdijk e Edgar Morin, o primeiro que defende o conceito de comunidade como um “escudo protetor” capaz de salvar nossa espécie, e o segundo, um humanismo planetário, onde o homem seja cidadão do mundo e as diversidades sejam respeitadas.
Ambos consideram as propostas populistas, é bom saber que elas existem a esquerda e a direita, devem perder com a crise atual e o consumismo global depende de uma atmosfera de “frivolidade” ou de superficialidade que a humanidade será obrigada a repensar, não voltaremos aquilo que consideramos estável, os próprios escritores originários, como Davi Krenak destaca em várias entrevistas, o que queremos voltar não era bom, não havia uma felicidade e bem estar real naquilo que era considerado normal.
Como aspecto de construção do pensamento, em Sloterdijk destaco a antropotécnica, para ele a modernidade foi uma desverticalização da existência e uma desespiritualização da ascese, enquanto o conhecimento e a sabedoria proposta na antiguidade sair do empírico e do enganoso para ir em direção do eterno e do verdadeiro, como para ele não existe a religião, seria um movimento de sabedoria e conhecimento, e não apenas uma ascese de exercícios, onde a alma imortal foi trocada pelo corpo.
Já na perspectiva de Edgar Morin é o hologramático que pode dar ao homem uma visão do todo agora fragmentada pela especialização e pela particularidade de cada ramo da ciência, paradoxo do complexo sistema no qual o homem é uma parte que deve se integrar ao todo, onde “não somente a parte está no todo, mas em que o todo está inscrito na parte”, a pandemia nos ensinou isto, mas a lição ainda foi mal aprendida, em plena crise pandêmica resolveu-se que está tudo liberado e não há protocolo de proteção de todos em cada um (cada parte), e não há co-imunidade.
Olhar mais profundo sobre a guerra
Em tempos de crise o mais difícil é entender a profundidade e a extensão da crise: social, política, ecológica e humana, a pandemia acelerou a níveis maiores e não há grandes análises nem pensamentos que deem conta da realidade, na verdade, muito achismo e sofismo, saídas fáceis para problemas complexos, o pior deles uma possível guerra.
Karl Kraus reclamava do jornalismo e da mentalidade de sua época sobre a possibilidade de uma nova guerra, que de fato aconteceu a Primeira Guerra mundial, em sua ironia assim se expressava: “existem imbecis superficiais e imbecis profundos”, e pouco a pouco a guerra de fez.
A crise instalada entre a Rússia e os Estados Unidos retorna a tensão sobre a qual a humanidade viveu todo o período da guerra fria, que aparentemente havia se afastado, mas lembramos da crise de 2014 na própria Ucrânia onde a Criméia voltou a ser posse russa, as várias crises com o Irã e o Afeganistão, a crise com a Coréia do Norte e a permanente crise com a China, que vai desde o campo comercial até o bélico.
Em meio a uma crise humanitária sem precedentes, já é tão grave quanto a gripe espanhola e a peste negra, a covid 19 agora se aproxima de uma endemia, uma doença com a qual teremos que conviver, mas é bom lembrar que os cuidados devem ser mantidos, e as autoridades de saúde não podem perder de vista o controle e medidas preventivas.
Peter Sloterdijk e Edgar Morin reclamam uma maior profundidade no olhar sobre a crise humanitária, já reclamavam antes da pandemia, certamente agora tem um olhar ainda mais aguçado e crítico sobre a superficialidade com que tratamos de temas tão graves e com necessidade de uma análise profunda, neste momento: uma possível guerra.
Olhando as análises parece que a mídia está interessada em possibilidades de vitória de um dos lados, de estratégias e posicionamentos que cada lado pode tomar, um possível corte no gás russo que abastece a Europa que está em pleno inverno, mas as consequências humanitárias e mundiais para todos, com maior gravidade para Rússia e Ucrânia é claro, pode ter consequências que tornem o próprio planeta e a civilização irreconhecíveis se o alarme de guerra soar, todos perderão e os mais pobres serão levados a penúria total com aumento de preços e escassez de alimentos.
Sim as etapas de negociação continuam, a Rússia reafirma que não invadirá, mas o acúmulo de forças em torno da Ucrânia é uma escalada proporcional apenas ao período da segunda guerra mundial, o posicionamento é também estratégico para uma guerra, o conselho de segurança da ONU que no processo de revezamento agora tem a Rússia na presidência, se reúne para tentar viabilizar a via diplomática.
Quem cederá, o que é possível cada lado ceder, a OTAN não tornar a Ucrânia país membro e a Rússia deixar de dar apoio as forças que atuam internamente na Ucrânia, porém o raciocínio de que há uma polarização ideológica planetária não pode ser deixado de lado, a origem da tensão é esta polarização e ela está presente hoje em todos país, uma nova cultura de paz é necessária para a humanidade, e esta profundidade da reflexão não pode ser deixada de lado.
Covid 19: avanço do número de mortes
O ritmo e a curva em cada país são diferentes, a Europa ainda em pleno inverno viu a curva aumentar exponencialmente e só depois tomaram medidas sanitárias, em alguns países inclusive com lockdown, os países asiáticos em especial China e Japão enfrentaram com medidas rigorosas de isolamento e tiveram sucesso no controle da nova onda, as olimpiadas de inverno que estão para começar em Pequim não terão público e as medidas para as delegações tem sido de um rigoroso controle de testagem.
Uma epidemiologista da OMS Maria D. Kherkhove alertou para a suposição de que o vírus ficará mais suave com as mutações: “Não há garantia disso”, é claro esperamos que sim: “mas não há garantia disso e não podemos apostar nisso”, justificando que medidas sanitárias continuam sendo extremamente necessárias.
No Brasil observa-se um número crescente tanto de infecções diárias, que se aproximam do recorde de 200 mil (gráfico), e um aumento de mortes diárias que ultrapassa as 800, com uma média móvel em torno de 500, o aumento é significativo e não há nenhuma tendencia de estabilização ou queda visível, vários estados registram alta, apenas Pernambuco, Pará e Rondônia registram estabilidade.
A política que acredita, por hipótese, que a pandemia está passando ou pode tornar-se uma endemia é ainda sem dados científicos claros, a própria gravidade da ômicron que é menos letal não tem uma avaliação precisa, trabalhar no preventivo quando se trata da vida é o mais prudente que as autoridades podem fazer.
Esperamos e como dissemos na semana passada, acreditamos no poder do pensar positivo e acreditar na esperança, que tudo pode estar próximo a um fim da pandemia, porém é necessário ainda cautela com decisões que liberam as pessoas e os eventos públicos que podem ser responsáveis por um número maior de infecções e mortes.
Faltam dados e sobram fatos
A Covid avança e embora a predominância seja da variável ômicron, já há uma nova variante IHU detectada na França, a pouca testagem e o número de casos assintomáticos indicam que os números podem ser bem maiores e por isto alarmantes, se de fato muitos casos são leves, a expansão é grave porque pode levar a muitas pessoas com as comorbidades necessárias para tornar os casos complicados.
Todo mundo tem um parente, amigo ou conhecido com a Covid agora, isto além das figuras públicas: jogadores e técnicos, jornalistas, apresentadores de televisão, artistas, etc. o número de casos é provavelmente muito maior do que as estatísticas públicas que são divulgadas.
A vacinação de crianças começou, mas é importante dizer que o maior número de internados continua sendo de adultos, não são dados precisos, mas basta perguntar a algum amigo ou parente que trabalhe em unidade de saúde para confirmar, assim é preciso também uma política de protocolos para os adultos, muitos cientistas e autoridades, a própria OMS, insistem que a pandemia não acabou.
Pela poderá tornar-se uma endemia é verdade, podemos caminhar para lá em alguns meses dizem alguns da comunidade científica, como a BBC, expressando a opinião do professor David Heumann, de epidemiologia de doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres: “ela continuará por um bom tempo tornando-se endêmica”, disse referindo-se ao fato que todos os vírus tornam-se endêmicos e são tratados de modo sazonal como as gripes e outros coronavírus.
Mas o próprio jornal faz questão de ressaltar que a Covid-19 evoluiu de forma bastante imprevisível e, segundo especialistas, a variante Delta poderia ter sido muito pior, o fato é que naquele caso houve uma política sanitária e um enfrentamento da pandemia, agora tanto o público quanto as autoridades parecem pensar que a variante ômicron é boa, há até quem ache o absurdo que seria bom a tal “imunidade de rebanho”, isto é, a grande maioria das pessoas terem passado pelo vírus.
O diretor geral da OMS Tedros A. Ghebreyesus declarou na semana passada: “Não se enganem, a ômicron provoca hospitalizações e mortes, e mesmo os casos menos graves submergem os estabelecimentos de saúde”.
Lembramos que esta era a tese negacionistas original, e reafirmá-la agora, mesmo reconhecendo que a variante predominante hoje é menos grave, seria um erro muito grande.
Covid: Sistema de saúde pressionado e aumento de casos
O aumento registrado nas primeiras semanas de janeiro no Brasil dos casos de Covid, com predominância da variante ômicron é muito alto e não há tendência de estabilização, o sistema de saúde está pressionado pelo aumento das internações e pela presença da gripe H3N2 que também já apareceu, em geral é esperando só no começo do inverno por volta de abril e maio, mas este ano chegou mais cedo.
Os números são incertos porém há um significativo aumento (veja o gráfico), há pouca testagem e uma pane nos dados do Ministério da Saúde que se arrasta por mais de um mês, isto prejudica a adoção de política e o controle efetivo da pandemia, conforme explicou aos órgãos de imprensa o infectologista e pesquisador da Fiocruz: “A gente não consegue planejar a abertura de novos serviços hospitalares, de centros de testagem, abertura de novos leitos e entender as regiões onde o impacto da nova variante é maior” e os números deverão crescer no mês de fevereiro.
É um fato que a infecção desta variante é menos grave, porém não é certo que esta seria um indicativo de final pandêmico e os cuidados deveriam se manter, as festas de final de ano e a liberação de eventos públicos, já há algum retrocesso nestas medidas, foram vetores de propagação da variante que é mais infecciosa que as anteriores.
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis negou que a variante ômicron possa ser o final da pandemia salientando que probabilisticamente as mutações são caóticas e não é possível prever a próxima variante ou algum ponto de enfraquecimento linear do vírus, o provável é que tenhamos que conviver com ele ainda por um bom tempo, e o neurocientista alerta o que já está acontecendo na Inglaterra e Estados Unidos onde o sistema de Saúde pode colapsar a qualquer momento, uma vez que está pressionado. e alerta que é possível chegarmos a um ponto de Covid crônica, isto é um estado que o sistema hospitalar não pode mais dar conta do volume de casos que acontecem e com tratamentos paliativos apenas sem conseguir tratar efetivamente a doença.
Com os números deste final de semana no Brasil, chegou-se a próximo de 50 mil casos diários, a expectativa é devem crescer até o final de fevereiro e o sistema de saúde já pressionado poderá entrar em colapso, enquanto as autoridades monitoram sem dados realmente válidos e confiáveis da pandemia.
A vacinação de crianças começou no Brasil, na idade de 5 a 11 anos, com a vacina Comirnaty ( Pfizer/BioNTech) porém o número de doses disponíveis é incerto, as secretarias de saúde tem aberto inscrições para agendamento que além de evitar aglomerações poderá fazer uma previsão na medida que tiverem doses disponíveis.
Caos pandêmico e negacionismo estrutural
As medidas de restrições deveriam ter continuado, mas o que se observa é uma liberação de aglomerações e ausência de protocolos claros, em todo mundo há um aumento de caos, aproximando-se dos 3 milhões diários, no Reino Unidos há uma explosão de casos (ver gráfico), estudos da França revelaram 46 variantes, a ômicron ainda é predominante, porém há o risco de novas mutações se a pandemia não for contida e a única arma disponível é a vacinação, entretanto, medidas sanitárias rigorosas já deveriam ter sido tomadas, aos poucos: voos, restaurantes e aglomerações voltam a ser proibidas (lá), mas sem a força necessária das autoridades públicas.
Não é diferente no Brasil, onde chegou-se a mais de 56 mil internações só na cidade de São Paulo, porém o discurso público é que são apenas pessoas que não tomaram vacina ou que os casos não são tão graves, porém a própria OMS alerta para a gravidade da ômicron, sendo o primeiro efeito imediato colocar o sistema de saúde em colapso, em São Paulo a ABLOS (Associação Brasileira de Lojistas Satélites) pedirá aos shoppings redução de horário de funcionamento pela falta de funcionários devido a covid.
Estudo da Universidade de Washington indica que o Brasil poderá chegar a um milhão de casos diários, em curto prazo, até o final do mês de janeiro, a influenza H3N2 avança, no entanto, a maioria dos casos ainda é da covid 19 com a variante ômicron. A China estoca alimentos não está declarado que seja apenas pela questão da ômicron ou há algo mais.
O líder indígena Ailton Krenak, do povo da região devastada do rio Doce, disse em entrevista no programa Bom para Todos da TVT que falar em novo normal é muito próximo ao negacionismo, aquilo que precisa ser mudado e não é significa que achamos bom o estado anterior de despreocupação com a vida e com a natureza, é a própria natureza que nos impele a uma mudança de hábitos, a um novo modo de viver, e se não aprendermos rápido ficaremos presos a novas pandemias e crises cíclicas.
É assim mesmo, não tem como mudar, diz o discurso conformista, ou pior aquele que deseja devastando vidas voltar a uma normalidade ainda impossível não apenas devido a pandemia, mas agora também por uma realidade social sofrida e com apagões e dificuldades de reestruturação, como alerta Krenak não há novo normal é preciso lidar com a realidade por mais dura que ela seja.
Mesmo com a ausência de dados claros, desde o final de dezembro o Ministério da Saúde vive um apagão de dados, causado por hackers, porém não conseguiu se reestruturar, também a testagem e controle em atividades coletivas foram suavizadas, basta ir a qualquer evento social, a restaurantes ou igrejas, já não há medida de temperaturas e as necessárias observações de distanciamento, é o que chamamos aqui de negacionismo estrutural.
Espera-se alguma medida, mas de cima para baixo, parece uma política intencional, há um descontrole em ações e uma relativização da gravidade pandêmica.
Covid: tsunami na Europa e falta de protocolos
A Europa iniciou o ano com 4,9 milhões de contágios em uma semana (59% a mais que a semana do Natal), é um contágio sem precedentes, com predomínio da variante ômicron, com 10 países enfrentando as taxas mais altas do mundo, liderados pela Dinamarca (2.045), Chipe (1.969) e Irlanda (1.974), a Europa toda ultrapassou 100 milhões de contágios, a região que vai da Costa Atlântica, até os limites da Rússia e Azerbaijão (veja o mapa de infecções por 100 mil hab. na Europa).
O Brasil ainda com taxas baixas de infecção e mortalidade, mas já com alguns casos de surtos, um cruzeiro que desembarcou no país e alguns locais onde houve festas e aglomerações (no Rio de Janeiro os casos triplicaram após as festas, conforme o site uol), mostram que a nova variável é realmente propícia a um contágio alto, e as vacinas não são eficazes, mesmo aos que tomam a terceira dose.
Há um discurso, vindo principalmente da área política, que a nova variante significa uma imunidade de rebanho, isto é seria a fase final da pandemia, porém não está provado que esta infecção causaria algum tipo de imunidade e que não haveria novas possibilidades de variantes, e já há casos de infecção dupla de H3N2 e a variante ômicron, chamada de flurona, são vírus diferentes é claro e o tratamento é mais complexo por isto, também os efeitos desta combinação deve ser analisado de modo mais preciso.
Há medidas pontuais em cidades e estados, enquanto o governo segue sua linha de negacionismo, porém a ausência de protocolos gerais indica a pouca consciência, após dois anos de pandemia, da importância da co-imunidade, isto é, nenhum tratamento deveria ser isolado ou apenas pontual, mas ter protocolos gerais, por exemplo, para voos, navios que atracam nos portos, cidades com grandes populações, eventos e festas, etc.
A simples vacinação, que não deve parar é claro, pode ser ineficaz para o combate a uma variante que dribla os efeitos da vacina e ter um poder disseminador muito maior.
Também monitoração, que é necessária e deveria ser acompanhada de testes, é uma medida de protelar os perigos e prevenções que devem antecipar ao perigo de uma tragédia.
O que esperar de 2022
Não há nenhum salto quântico de um ano para outro, é um dia de um ano que sucesso ao primeiro dia do ano seguinte, embora para efeito fiscal, político o último dia do ano seja de balanços econômicos e fiscais, e de início de um novo orçamento para o ano que se inicia.
Tradicionalmente o primeiro ano é também o dia da Paz, e na cosmogonia cristã a visita dos reis magos (não cristãos) que visitam o menino-Deus que nasceu e fogem das ameaças de Nero, é também uma referência ao diálogo entre os povos.
O dia de ontem foi marcado por uma conversa bilateral entre Joe Biden e Vladimir Putin, solicitada por este segundo a CNN, na pauta embora tenha sido falado que são as “relações diplomáticas bilaterais”, está a tensão na Ucrânia devido a concentração de tropas na fronteira e a chamada Bucareste Nine, nove nações da OTAN (Romênia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Bulgária, Estônia, Letônia e Lituânia).
Qualquer avanço sobre a Ucrânia significaria uma resposta da OTAN através da Bucareste Nine, porém o envolvimento global no conflito não é impossível, assim este diálogo tem uma importância fundamental para se manter a paz.
A nossa maior esperança é o fim da pandemia, mas temos a ameaça da nova cepa e ainda da gripe H2N3 cuja vacina já está pronta e funciona, assim é fundamental uma boa campanha de vacinação que abranja toda a população, agora numa perspectiva de co-imunidade, isto é, que todos os países tenham vacina disponível, com ajuda da OMS.
A variante ômicron avança, porém, as medidas preventivas não estão sendo tomadas, quer seja pelo esgotamento das forças de contenção (a população está cansada das restrições) quer seja pela fragilidade política dos governos, quer seja por um negacionismo, agora estrutural, que avança, uma vez que “as vacinas não funcionam”, em parte é verdade, mas elas restringem a gravidade das infecções.
Não se pode esquecer o equilíbrio ecológico, é preciso um avanço significativo nesta direção, não basta a mudança política, é preciso que elas promovam mudanças estruturais.
Com tudo isto é preciso ter esperança, é preciso lutar e ter sempre em frente alguma coisa boa para pensar, agir e solidarizar com os que sofrem.
2021 foi um ano da esperança
O início da vacinação contra a covid 19, o reequilíbrio das forças políticas (Joe Biden tomou posse nos EUA, Olaf Scholz substitui a primeira-ministra Ângela Merkel depois de 16 anos do poder e a recente eleição do ex-lider estudantil Gabriel Boric como presidente do Chile), mostram que a guinada para o conservadorismo está contida, mas houve guinadas a direita como a retomada de militares em Myanmar depondo a presidente eleita Aung Suu Kyi.
Embora com muitos acordos e notícias promissoras, a Bélgica por exemplo vai desativar suas usinas nucleares (porque apresentam perigo inclusive), o desiquilíbrio ambiental é tema não apenas daquilo que ocorre com a vegetação viva do planeta, as águas e clima, mas principalmente fenômeno naturais que emergem de forma perigosa: vulcões em atividade, incêndios florestais, tempestades (recente tragédia na Bahia), polos magnéticos e preocupação com terremotos e movimentação das placas tectônicas, fenômenos espaciais por enquanto estão no campo da ficção e da imaginação fértil.
Apesar do avanço da vacinação terminamos o ano preocupados com a nova variante ômicron, já é a maioria dos casos de infecção, preocupa a Europa e tem um avanço significativo em outros países, incluindo o Brasil, e vem aliada a uma nova gripe H3N2 que já tem vacina, entretanto a variante ômicron parece driblar as vacinas atuais, mesmo com 3ª. dose.
A esperança persiste, embora cansados do isolamento, que teve breves momentos de relaxamento nas medidas preventivas, porém é preciso precaução e resiliência.
O final de ano, as férias e a tendencia de aglomerações no Brasil são preocupantes, em meio a outras tragédias como a das enchentes na Bahia, as autoridades parecem com pouca ou nenhuma capacidade de reação e intervenção diante de uma nova onda possível no país, o número de óbitos que havia caído da faixa da centena, voltou a se elevar para 117 no dia de ontem (29/12), e alguns hospitais já percebem a elevação do número de casos, o país já tem 80% de vacinação na população-alvo.
A palavra “esperança” parece ser a predominante para caracterizar este ano, o que se espera para 2022 dependerá não apenas desta palavra como do uso de medidas preventivas corajosas e não apenas “monitoramento” da situação que é uma medida protelatória, que não evitará a infecção quer seja da gripe H3N2 quer seja da variante ômicron.
Esperança ativa, não apenas esperar e sim agir para que ela aconteça, o lançamento do telescópio espacial James Webb seja para olhar não apenas nosso passado e nossa origem, mas um futuro promissor capaz de construir uma nova humanidade, um mundo mais justo e fraterno.
Não olhe para cima: entre a ficção e o documentário
O filme da Netflix é uma ficção, mas o estilo ficou parecido a um documentário, e diferente de outros filmes apocalípticos (“Armageddon” (1998), “Impacto Profundo” (1998) e “Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo” (2012)) o filme “Não olhe para cima” tem um impacto diferente por conta das ondas apocalípticas que encontram público.
O filme fala de um professor, o Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e sua aluna estudante de astronomia Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) fazem a descoberta de um cometa com um tempo curto para colidir com a terra, seis meses, e querem conseguir chamar atenção da mídia que prefere dirigir o público para as mídias de redes sociais e pouco preocupado com suas próprias vidas, qualquer semelhança com a pandemia não é mera coincidência, há uma correlação, em especial, de sentimentos e atitudes.
As coisas começam a mudar quando o Dr. Oglethorpe (Rob Morgan) organiza um tour midiático até o gabinete da presidente Orlean (Meryl Streep) e seu filho Jason (JOnah Hill) e também com ajuda das ondas de rádio do Daily rip, um programa matinal apresentado por Brie (Cate Blanchett)e Jack (Tyler Perry) e começa uma corrida contra o tempo.
Além dos extraordinários atores, o filme prende a atenção, e já é cotado para premiações, o tema, porém é tratado de modo quase como um documentário e isto é preocupante.
As mensagens de final de ano normalmente são animadoras e falam quase sempre de esperança de um ano melhor, depois de dois anos caóticos pela situação pandêmica, o filme de ficção deveria ter um caráter ficcional como tem muitos filmes do chamado “cinema catástrofe”, e as pessoas assistem sempre entendendo que é uma ficção, porém a época e as teorias conspiratórios podem colaborar para um filme que tenha um impacto negativo nas emoções de quem assiste.
Lembro do último que assistir neste estilo que foi o filme norueguês Terremoto (2018), que o Geólogo Kristian (Kristoffer Joner) decide investigar os túneis de Oslo, onde há muitos anos ocorreu um grande terremoto, e encontra Marit (Katherine Thorborg Johansen) que é filha de um geólogo que morreu ao investigar as minas de Oslo.
O problema é sempre como evitar tragédia, claro se for possível, assim não tome a vacina é semelhante a “não olhe para cima”.
Ambos decidem, na iminência de um novo terremoto, salvar o maior número possível de pessoas.
A esperança não deve partir de que uma tragédia não possa acontecer, como um prolongamento ou uma nova pandemia, mas as medidas preventivas que podem salvar, porém “Não olhar para cima” parece mais um desespero que de fato uma tentativa de evitar novas catástrofes, vai dar o que falar.