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A linguística precoce pós Renascimento
Enfatizamos em posts anteriores a Grammaticae Speculativae (do latim Speculum, espelho) através dos modos de significar, de inteligir e de ser, presentes antes em Duns Scotus e depois em Husserl, em sua análise intencional fenomenológica vão ser tratados na tese de habilitação de Heidegger, porém há uma linguística precoce em Leibniz e seus discípulo Christian Wolff.
Leibniz tinha como projeto aquilo que chamava de Characteristica Universalis, uma linguagem formal e universal capaz de expressar conceitos matemáticos, científicos e metafísicos e que Wolff vai descrever como uma ontologia.
Leibniz partia da ideia de “gêneros supremos das coisas”, com categorias mais amplas e fundamentais usadas para descrever o ser e a existência, as classes mais gerais de todas as coisas existem, e assim são base para a organização e compreensão do mundo.
Estes trabalhos podem ser encontrados em análises de Étienne Gilson (Being and Some Philosophers, 1949) chamava estes filósofos de racionalistas “essencialistas” e tem conexão tanto com a querela dos universais como com a viragem linguística atual.
O projeto de Leibniz não foi finalizado e o de Christian Wolff torna-se uma classificação geral, onde classifica os conhecimentos gerais como sendo classes da História, da Filosofia (das coisas e das ações humanas) e da matemática (a quantidade das coisas), cada uma com subdivisões.
O projeto de Duns Scotus permanece e é reencontrado por Heidegger, o ens rationis (ente da razão) como ente pensado está ao lado do ens naturae (ente de natureza) assim o real, físico ou psíquico, sensível ou suprassensível, corpóreo ou incorpóreo é um extra animam, fora da alma (aqui sim pode-se dizer “transcendente” da consciência), mas Husserl critica o psíquico.
Ele estava presente tanto em Scotus como mais modernamente em Franz Brentano, Husserl diferencia o psicologismo, em suas Investigações Lógicas, mostrando a diferença entre o lógico e o real psíquico, “o que é verdadeiro, é absolutamente verdadeiro, é ´em si´ verdadeiro: a verdade é idêntica e só uma, sejam homens ou não, sejam anjos ou deuses que a apreendem no juízo (HUSSERL, 2014, p. 88).
O “em si” deve ter o poder da verdade que pode ser interpretada corretamente, a verdade é, para a fenomenologia, uma unidade que é sempre a mesma, ainda que os atos de juízo sejam muitos e variados, e executados por vários sujeitos, diversos numericamente ou até mesmo especificamente, ela pertence a outro modo de ser que o da consciência.
Scotus, Husserl e Heidegger estão dentro desta “verdade” da consciência e ela é inequívoca.
HEIDEGGER, M. Frühe Schriften -Gesammtausgabe (Primeiros Escritos – Edição Completa) Vol. I. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1978.
HUSSERL, E. Investigações lógicas: Prolegômenos à Lógica Pura. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
SCOTUS, J. D. B. Johannes Duns Scoti Doct. Subtilis Grammaticae Speculativae (Cura et editio P. Fr. Mariani Fernandez Garcia). Ad Claras Acquas (Quaracchi) – Prope Florentiam: Ex Typographia Colleggi S. Bonaventurae, 1902.