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Heidegger como leitor de Duns Scotus

20 abr

Pouco se sabe sobre a origem do pensamento de Heidegger tendo como influencia Duns Scotus, a primeira observação é que sua tese de habilitação (mestrado) foi sobre a doutrina das categorias e da significação de Duns Scotus (Die Kategorien und Bedeutungslehre des Duns Scotus, 1916) que só isto vale uma profunda influência.
Claro a influencia direta foi de seu professor e mestre (de fenomenologia) Edmundo Husserl, porém o próprio Husserl teria estranhado ao ler seu trabalho sobre Ser e tempo, assim é preciso retornar ao Heidegger primeiro, que também sofria influência do idealismo de Kant e que fez o trabalho sobre Duns Scotus.
O interesse pelas Categorias remonta aos estudos de Porfírio e seu tradutor Boécio, a quem devemos a famosa “querela dos universais”, porém Heidegger a retoma a partir de Franz-Brentano.
Sua leitura da Tese de Franz Brentano (1862): “Os múltiplos significados do ente segundo Aristóteles” vem do clássico texto de Aristóteles “As Categorias”, a doutrina da significação que será retomada por Husserl, discípulo de Franz Brentano é assim denotada por Heidegger: “à medida que a doutrina das significações salienta as diferentes formações categoriais a partir de ‘significação em geral’ e põe o fundamento para toda a ulterior elaboração dos problemas lógicos de sentido e de validade” (HEIDEGGER 1978, p. 203).
É importante ressaltar que Heidegger esclareceu mais tarde que seus estudos da “Grammatica Speculativa” de Duns Scotus* era na verdade um texto ampliado de Tomás de Erfurt, Heidegger expõe a teoria do modus significandie sua relação com o modus intelligendie o modus essendi.
Husserl, a luz de suas Investigações Lógicas (publicadas em 1900/1901) e, elaborado no volume I das Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica (publicada em 1913), o que Scotus chamava de ens rationis (ente de razão), Husserl chama de sentido noemático, e o que Husserl chama de Noesis é para Scotus a intuição direta.
Retomando Porfírio (já abordamos em posts anteriores), Scotus escreve: “À primeira questão, deve-se dizer que o universal está numa coisa como num sujeito, porque a designa, não o intelecto. Mas o ininteligível está no efetuador e o conhecido no conhecedor.” (Scotus 1998, p. 826), em tradução direta do latim, onde é relacionado o modo objetivo com o subjetivo.
Para Scotus assim o ens rationis não é subjetivo no intelecto, não é algo que existe como uma “afecção da alma”, é algo que está de modo objetivo, como algo representado pelo intelecto, referente a um conteúdo pensado, isto se deve em parte, a ser chamado realista moderado.
Mas sua gramática é bem desenvolvida e não pode ser separada de uma raiz linguística, conforme explica Heidegger uma coisa é a forma linguística de uma expressão, que os medievais chamavam de “vozes” (Heidegger, 1978, p. 290-291) outra coisa o conteúdo da pressão, sua significação e entrelaçamento de juízos.

* Duns Scotus era um monge franciscano, embora professor viveu na pobreza colocando seus bens em comum.
ARISTÓTELES. Da Interpretação (Ed. Bilíngue). São Paulo: UNESP, 2013.
HEIDEGGER, M. Frühe Schriften -Gesammtausgabe (Primeiros Escritos – Edição Completa) Vol. I. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1978.
HUSSERL, E. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. SP, Aparecida: Ideias & Letras, 2006.
SCOTUS, D. Opera Omnia -editio minor I: Opera Philosophica (a cura di Giovanni Lauriola). Bari: Alberobello, 1998.