Desconstruir, estrutura e língua
Primeiro afirma que é melhor usar o termo no plural e justifica: “A desconstrução no singular não pode ser simplesmente apropriada por quem quer que seja ou por o que quer que seja.”, isto porque ela está vinculada ao que chamou de “ex-apropriação” (Derrida, 1991, p. 194).
Novo cuidado porque apropriação se refere a língua, tanto isto é verdade, que em sua obra de 1998: “Fidélité à plus d´um” afirmou: “se fosse arriscar uma única definição da desconstrução, eu diria simplesmente: mais de uma língua” (p. 253), isto significa estudar o fenômeno da comunicação num mundo plural e com interpretações plurais, o que o aproxima de Husserl.
Mas o problema é intra-lingua, como os Deus míticos da Babilônica bíblica chamados de falsos deuses, e nisto vemos a estratégia adotada na tradução de Husserl, que parece esquecer que é francês, afirma em uma de suas traduções do mestre da fenomenologia: “a tradução dos conceitos usuais da língua husserliana, naturalmente nos conformamos com os usos consagrados pela tradução as grandes obras de Husserl”, que está na “Introdução” da tradução de “L´origine de la géométrie” feita em 1962.
De acordo com Derrida, a tradução “when mercy seasons justice” da obra de Shakespeare O mercador de Veneza, não poderia ser traduzida como “quando le pardão tempere la justice”, como fez Vitor Hugo, mas “quando le pardon releve la justice (ou le droit)”, ou seja, “quando o perdão releva a justiça (ou o direito), isto para exemplificar o problema da tradução além das questões de estruturas e de mitologias como propõe o estruturalismo, ou seja, dentro das próprias culturas há questões que escapam as estruturas e delas retiram-se “traduções”.
Por isto se perguntará quando uma tradução é “relevante”, e o próprio termo é questionado, que na língua derridaniana (estou levando em conta seu pensamento), diz respeito à lei da economia, da possibilidade de traduzir uma palavra levando em conta o maior número de jogos de sentido possível.
Assim separar a estrutura, a forma do sentido não é senão confundir ainda mais, embora tenhamos a dívida com o estruturalismo de penetrar o estudo das culturas para compreender que o sentido no conjunto de uma é muito diferente do conteúdo de determinada situação em outra, mas falta nesta concepção a ideia da tradução interpretativa dos jogos de sentidos.
Segundo o filósofo Simon Blackburn o estruturalismo é “a crença de que os fenômenos da vida humana não são inteligíveis exceto através de suas inter-relações. Estas relações constituem uma estrutura e, ainda por trás das variações locais dos fenômenos superficiais, existem leis constantes do extrato cultural”, Roland Barthes e Jacques Derrida ao aplicarem a literatura descobriram que há variantes, que o nosso ver são fenomenológicas.