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Retiro, deserto e epoché

20 jul

Estando em Portugal, participo a partir deste fim de semana de um “retiro doutoral”, em um centro cultural, no coração do bairro Alfama de Lisboa.

Como é expressão comum nas ruas lisboetas, “vem a calhar”, também as leituras de Byung Chul Han me ajudaram, ele propõe “a demora contemplativa pressupõe que as coisas duram”.

A vita activa é aquela que é dominada em absoluto pelo trabalho e por uma vertiginosa acumulação de capital encerrada nos puros limites da dialética da produção e do consumo.

O homo laborans vê-se inevitavelmente vedado ao tempo do descanso, do lazer, meso as formas atuais associadas ao descanso ou ao entretenimento passivo, não são senão panaceias que não integram o mais profundo do “ser”.

Há uma noção aristotélica (a chamada bios theoretikos) fundada na reflexão e na análise estética do mundo, talvez esta seja mais apropriada que outras análises que opõe apenas o sistemático e frenético “laborans” o “ócio criativo” e outros remédios.

É preciso um “vazio essencial”, um verdadeiro “arethé” (um círculo virtuoso, uma excelência não uma simples especialização) para se chegar a a-letheia, o desvelamento da verdade e da realidade, é preciso um verdadeiro “epoché”.

Diz-se do epoché moderno, o cogito da razão não suspendeu o ego, foi Husserl que foi além da chamada “evidência da cogitatio” ao generalizar a suspensão de juízo, e dizer que é preciso “ir a coisa por ela mesma”, isto é quase um “desenraizar”, que Heidegger e outros existencialistas modernos vão negar.

O objeto intencional de Husserl oscila entre o caráter imanente do noema e o que transcende o próprio noema, assim é um terceiro conceito de transcendência superado o teocêntrico e o egocêntrico.

O Husserl paduro da parte I de A Crise da Humanidade Européia e a Filosofia (“Die Krisis des europäischen Menschentums und die Philosophie”) – conferência proferida em 1935 no Kulturbund de Viena, vai criticar a forma cultural particular inventada pelos gregos, uma espécie de “radicalidade” que lhe é própria e que se vincula as metas finitas (circunstanciais e episódicas) outro de visar o sentido originário das ideias do “Bem”, do “Justo”, do “Belo”, mas que nunca se separou de formas “ideais” e duais: o ser é e o não ser não é.

A negatividade proposta por Byung Chul e outros (Gadamer por exemplo), não é nem a negação positivista e menos ainda a negação dialética hegeliana, vinculadas ao pensar grego, é uma negação dentro do “epoché” para fazer emergir o “novo” … do nada.

Quem não consegue ir ao deserto, nem faz retiro e nem faz transcendência, não abandona o ego, não vai ao deserto, apenas “transcende” e afirma o nihilismo.  

 

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