Sobre o erro e o mundo melhor
Karl Popper estava preocupado com a ciência, com a natureza mas principalmente com a ética e sobre o erro, e estabeleceu doze princípios para serem observados no seu livro “Em busca de um mundo melhor” (Fragmentos, 1989), comenta-se aqui apenas alguns:
O primeiro é entender que nosso saber é conjectural, ou seja “vai sempre mais além daquilo que um indivíduo consegue dominar, não existem pois autoridade. Isto é igualmente válido no que se refere as especializações”, como alertam autores sobre a Transdisciplinaridade, o saber especializado pode-se se tornar um novo tipo de obscurantismo, afirmam Edgar Morin, Barsarab Nicolescu e Lima de Freitas na Carta da Transdisciplinaridade de Arrábida.
Um segundo princípio que destacamos é que é ‘impossível evitar todos os erros ou sequer todos erros em si mesmo evitáveis”, o idealismo e perfeccionismo levam as pessoas a decepção porque não consideram este aspecto essencial sobre a natureza humana.
O terceiro princípio estabelece que deve-se tentar evitar os erros, assim mesmo cientistas criativos que seguem a intuição, podem e devem evitar o erro, mas é quase inevitável que o cometam.
Mesmo a teorias mais confirmadas aquelas que podem parecer perfeitas ocultam erros, isto deveria ser pensado para aqueles que vivem em “bolhas”.
Isto deve levar-nos ao que Popper propõe como uma reforma “ético-prática” que leva a uma forma de pensar que é impossível evitar todos os erros, o que muda a antiga noção de que é possível evitar erros por “critérios científicos”.
O sexto princípio é que o “novo princípio básico é o de que para aprendermos a evitar tanto quanto possível os erros, temos que aprender precisamente com eles”.
Assim é mais saudável procurar os erros, e a atitude de autocrítica e sinceridade são consequências deste dever.
Assim aceitar compreender e aceitar os erros, até mesmo agradecer que outros nos alertem sobre eles, Popper lembra que os maiores cientistas cometeram erros, e ter sempre presente que cometemos erros, isto é, não negligenciar a nossa vigilância, propor o autor.
Temos que compreender que precisamos dos outros (e os outros de nós) para conseguir entender nossos erros, em particular daqueles que tenham acrescido com ideias diferentes, mas em ambientes distintos, o que significa ampliar a tolerância.
A autocrítica é a melhor crítica, porém é a crítica através dos outros a mais necessária, segundo Popper, tão útil quanto a autocrítica.
Aqui entra o ponto final crucial da ética-prática popperiana, a crítica racional deve ser sempre específica, deve indicar as razões específicas porque determinadas afirmações, determinadas hipóteses parecem ser falsas e determinados argumentos não podem parecer válidos, a critica racional propicia uma aproximação à verdade objetiva, neste sentido é impessoal, e embora Popper não diga, deve estar acima de crenças e ideologias para ser base de alguma verdade ética.
POPPER, K. Em busca de um mundo melhor. Lisboa: Editorial Fragmentos, 1986.