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A reciprocidade, o Mana e o passo antropológico

14 dez

Mauss foi criticado por que valorizou muito o seu mana, ele percebeu que a matriz do laço entre as almas, o mana, se encontrava na obrigação de retribuir, na obrigação de reciprocidade.

Mas a crítica que se pode fazer a Mauss é justamente que se limitou apenas à reciprocidade das dádivas e isto não o conduziu a uma teoria da reciprocidade que levasse a aspectos práticos.

Ora mas existe a reciprocidade entre indivíduos isolados, como mafiosos e corruptos, e também em comunidades fechadas, mas isto é troca.

O mana expressaria o sentido dado ao homem ou criado pelo homem quando entra numa relação recíproca:

“O mana é o valor da reciprocidade, um Terceiro entre os homens, que não está ainda aqui, mas para nascer, um fruto, um filho, o Verbo que circula (a Palavra), que dá a cada um seu nome de ser humano, e a sua razão ao universo” (Mauss, 2003, p. 15).

Mas estudos seguintes, de Temple e Chaba (1995), por exemplo, mostram que há algo além do Mana do Ensaio… de Mauss, estes autores mostram que há um crescimento da consciência de ser, não apenas a consciência de que terá autoridade e de fama o doador.

Dar não é mais oferecer algo de si, mas adquirir esse “si”, não se trata só ao doador de constituir seu nome, sua fama, seu “renome” (Mauss, 2003, p. 258), mas algo além, nesse sentido:

“… a materialidade e a espiritualidade não estão mais ligadas a um estatuto comum de objeto, são opostas mediante dois estatutos, conjugados por uma relação de contradição: o espiritual aparece adquirido pelo doador, enquanto o material é adquirido pelo donatário. O uso da noção de troca não é mais necessário” (Temple e Chabal, 1995, p. 26).

Podemos entender a partir de Mauss, o que significa superar a relação sujeito-objeto de modo muito direto e claro:
“Mas, por ora, é nítido que, em direito Maori, o vínculo de direito, vínculo pelas coisas, é um vínculo de almas, pois a própria coisa tem uma alma, é alma. Donde resulta que apresentar alguma coisa a alguém é apresentar algo de si” (Mauss, 2003, p. 200).

Eis o passo antropológico, sem o fetiche da “troca” a relação de coisas entre seres é também uma relação entre os seres, podemos fazer de qualquer coisa um “mana” e isto por ser apenas estar na presença o outro, “puro mana”.

 
 

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