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Vinde para um lugar deserto e descansai

19 jul

A ideia da desaceleração que é de Baudrillard, mas com diagnóstico errado, que é o deserto de Bauman, mas num sentido negativo e até pejorativo, que o homem moderno caminharia como um peregrino, deixa de ver nestes dois lados importantes: o deixar a terra no sentido de “retiro” e no sentido de mudar de áreas e porque não, desacelerar.
Lembra a passagem bíblica, que diz que Jesus chama os discípulos (MC 6, 31) e lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer.
A desaceleração não tem tanto a ver com a técnica como aquilo que o homem faz, como uma “vida de exercícios” diz a antropotécnica de Peter Sloterdijk, sem que realmente pare, em tempos de férias e feriados, buscam lugares cheios e onde a agitação não para, é o medo do vazio, justamente do lado bom “do deserto”, que descansa a mente e a alma.
Também pode ser um tempo de pensar e de ler, meditar ou fazer jogos, não exercícios, mas aqueles que refletem brincadeiras, triste observar o radicalismo de jogos de futebol que ao contrário do efeito relaxante de uma brincadeira, adquire ares de disputas tensas e violentas.
No campo das artes, das ciências, da vida familiar, e porque não até da meditação e da religião é necessário repouso, tornar aprazível o que é cansativo e exaustivo, arrefecer o impulso.
O uso das técnicas de modo ansioso e vicioso não é inerente a nenhuma técnica, mas a ausência de arte e capacidade de ofício controlado e laborioso destes meios é coisa de um tempo de aceleração e paralisação, contraditoriamente ao mesmo tempo.
O remédio de Byung-Chul Han está correto, outros já haviam falado disto antes, ele próprio cita o romance O emprego do tempo, de Michel Butor, a meu ver uma das raras tentativas de conciliar o romance com as narrativas contemporâneas, mas acaba por retornar ao poético e realizou numerosas colaborações com pintores e artistas contemporâneos.

 
 

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