A separação entre verdade e realidade
A ideia na modernidade que uma verdade objetiva é diferente da realidade, por isto vai negar o realismo tomista e retomar a subjetividade nominalista, agora travestida em ideia, é uma ruptura com o ser.
Para os antigos gregos, verdade e realidade eram uma coisa só, então Martin Heidegger no ser e o tempo retoma este sentido, pelo estudo da etimologia da palavra onde a-letheia, distinta do conceito de “verdade” onde esta é um estado descritivo objetivo, onde a-letheia, significa “desvelamento” na tradução de Heidegger, pois lethe significa esquecimento, no sentido de ocultamento.
Filosofias a parte, o que isto significa é que confiamos demais na realidade objetiva enquanto critério de verdade, e quase sempre ela contém um véu da aparência, e é preciso dar-lhe sentido a partir do Ser.
A verdade, portanto, para Heidegger está no desocultamento, onde as aparências se enganam e o que é mesmo verdade se oculta em meio a palavras típicas do nominalismo, onde um bom conceito pode tentar explicar algo, mas não é a essência deste algo, é apenas sua aparência.
O que Descartes falava de suspensão do juízo sobre as coisas significa enquanto ser suspender também o seu próprio princípio egóico que só é possível na relação com o outro, suspendeu-se o juízo mas não o ego, pois não é a presença do outro que conta, mas o conceito, o nome e sua definição.
Outra palavra usada pelos gregos e importante neste contexto é a palavra phronésis, que é ao mesmo tempo harmonia e felicidade, tão forte a ponto de muitos autores afirmarem que é impossível ter phronésis em aletéia.
Por outro lado phronésis é .um conceito quase esquecido, devido a sua subjetividade, pois é menos próprio da razão, e estamos mais comprometidos com a veritas do direito romano, a verdade dos “fatos”, que nada mais é que uma narrativa, nem sempre contextual e verdadeira.
“A essência da verdade se desvelou como liberdade. Esta é o deixar-ser ek-sistente que desvela o ente. Todo comportamento aberto se movimenta no deixar-ser do ente e se relaciona com este ou aquele ente particular. A liberdade já colocou previamente o comportamento em harmonia com o ente em sua totalidade…” (HEIDEGGER. Conferências e escritos filosóficos. In Col. Os Pensadores. São Paulo, Nova Cultural, 1991. p. 130)
Para os modernos, verdades são fatos, para os antigos são aletéia e phronésis, é próximo ao que hoje pode-se chamar objetivo (de objetividade) e meta (de subjetividade), porém são conceitos mais completos porque estão unidos e não podem ser vistos como peças encaixadas.
Verdade é o desoculto, para Heidegger, aquilo que se mostra, atinge-se pela aletéia (o desabrigar o oculto) com phronésis (harmonia).