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A filosofia e a questão da morte

21 mar

Falar da morte é um tema tanto instigador quanto apavorante, ao menos para aqueles que acreditam que tudo se conclui no nosso ciclo de vida terreno, a filosofia sempre o abordou.

Desde Sócrates e Platão (428-347 a.C.) até Heidegger (1889-1976) passando por Arthur Schopenhauer (1788-1860), a filosofia não se furtou a abordar o tema, Schopenhauer chegou a afirmar que “a morte é musa da filosofia” e Sócrates já havia dito que a filosofia é como uma “preparação para a morte”.

No Fedón de Platão ele descreve a vida filosófica como um ”treinamento para a morte”, há nela um “ethos” da vida humana, para o qual se pode afirmar sem exagero que é um “treinamento” e isto nos faz refletir sobre os delírios contemporâneos de um “entretenimento até a morte chegar”.

Pode-se objetar que Platão considerava a alma imortal, porém Schopenhauer e Heidegger não, é verdade que este último teve uma breve incursão pelo cristianismo, mas depois abandonou, o amago de seu pensamento ontológico é o que é este Ser-aí, este Dasein, ex-sistencial e humano.

Contrariando a vida fugaz contemporânea, Sócrates dizia que não “há vida bem vivida que não possa ser examinada” enquanto Heidegger vai afirmar que a vida frente a morte (não podemos esquecer que existe a impossibilidade da existência) é que nos faz pensar fora do mundo do “eu”, da voz alienante da sociedade, dos meios massivos de comunicação, e de conceber o mundo de uma maneira utilitária e transitória.

Heidegger vai usar o termo “stimmung” que pode ser traduzido como “entoar”, para comparar uma instrumento de afinação, com o qual se refere a angústia ou a outros estados anímicos (das disposições afetivas), usando sua metáfora como instrumentos desafinados perante a vida.

Outros filósofos como Paul Ricoeur lembrarão da “finitude” humana, para lembra-lo que é falível, se Heidegger fala do Ser-para-a-morte como finitude, Ricoeur a caracteriza como um impulso à vida (ser contra a morte).

Seja quais forem as abordagens, a finitude humana, a vida “bem vivida é examinada” é vida plena.

 

RICOEUR, P. Vivo até a morte. Seguido de fragmentos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

 

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