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Unidade ou dualismo

14 ago

O dualismo é parte essencial do pensamento moderno, ainda que se conheça pouco ou nada da filosofia, e penetrou profundamente na alma humana e vez as coisas por contrastes, não aquele que veio de Platão as sombras da caverna onde não vemos com clareza e não a clareira lugar de busca de Heidegger para encontrar o ser esquecido na filosofia.

Byung-Chul Han ao descrever as narrativas modernas é incisivo: “o novo bárbaro celebra a pobreza de experiência: não se deve imaginar que os homens aspirem a novas experiências. Não, eles aspiram a libertar-se de toda experiência, aspiram um mundo em que possam ostentar tão pura e tão claramente sua pobreza externa e interna, que algo de decente possa resultar disso” (Han, 2023, p. 35) citando Walter Benjamin.

Em seguida dirá que eles “professam a transparência e a falta de mistério, ou seja, professam a falta de aura. Também rejeitam o humanismo tradicional” (pgs. 35-36), esclarece, entretanto, que o livro citado de Walter Benjamin “é repleto de ambivalências” e ao final após uma “certa” apologia a modernidade (as aspas são minhas) dá lugar a desilusão e prenuncia a Segunda Guerra Mundial.

Podíamos ter nos libertado deste “mal-estar da modernidade” (como escreveu Freud) porém o ceticismo de Benjamin volta a fazer sentido, citado em Han: “Ficamos pobres. Abandonamos uma depois da outra todas as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las muitas vezes a um centésimo de seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do “atual”…” (pgs. 37-38).

Falamos de paz enquanto fazemos guerras, falamos de união e estamos profundamente divididos, falamos de democracia e saímos em apoio a atitude e governo autocráticos, e talvez a maior de todas os sofismas, pretendemos eliminar a pobreza e a miséria enchendo nossos bolsos, não há coerência entre discurso e atitude, trata-se de elaborar boas narrativas, e isto partiu da divisão entre o que próprio do sujeito (não a subjetividade e sim a sua alma) e o objeto (não a objetividade, mas o uso material daquilo que produz vida).

Falta uma “aura” reclama Byung-Chul Han, talvez a espiritual, faz sentido a resistência do espírito de Edgar Morin, mas é preciso encontrar um sentido verdadeiro para isto, aquilo que a maioria dos homens chama de religião não é outra coisa senão justificar narrativas pessoais.

É possível reencontrar a unidade, o diálogo e a paz, mas é preciso “desarmar” os espíritos.

Han, B.C. A crise da narração. Petrópolis: ed. Vozes, 2023.

 

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