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A má religião e as virtudes

22 nov

A filosofia contemporânea oscila entre definições de ética e de moral, a moral vista como uma redução a moral dos costumes, não há nela uma profundidade de virtudes e verdadeira religiosidade.

As três virtudes teologais se perderam: fé, esperança e caridade, que devem ser “infundidas” por Deus, são confundidas com religiosidade de adivinhos e bens materiais, esperança torna-se uma espécie de pensamento positivo e sentimentos comportamentais animados por algum “coach” e caridade, alguma bondade superficial como dó, piedade e socorro social.

As chamadas virtudes cardeais são a prudência, atropelada por um mundo movido a impulsos, a justiça que tornou-se pura manipulação política, a fortaleza confundida com força física ou política e a temperança presente em raríssimas situações e pessoas, vivemos tempos da ira.

Uma rara filósofa contemporânea a tratar do tema foi Philippa Foot, falecida em 2010 com 90 anos, apesar do nome era britânica e é responsável pelo ressurgimento da “ética da virtude”.

Foot não abandonou os clássicos, mas os releu para tempos modernos, ela entendia que a moralidade deve ser entendida em termos de virtudes de caráter, ao invés de apenas entender como regras e consequências de ações.

Entre seus trabalhos ela modernizou a teoria ética de Aristóteles (Ética a Nicomaco) numa visão contemporânea do mundo, mostrando que ela pode competir com teorias populares como as éticas deontológicas e a ética utilitarista (aquela voltada aos bens, por exemplo, presente nas religiões).

Ela elaborou e discutiu o chamado dilema do Bonde (Foot, 1968, ver figura), também abordado por outros filósofos contemporânea como o badalado John Rahls, também extensivamente analisado por Judith Jarvis Thomson e mais atualmente por Peter Unger.

O dilema é simples o manobrista deve analisar o “mal-menor” onde numa linha atropelaria uma pessoa e noutra várias delas, num bonde que está descontrolado e não pode parar.

A variante de esperança é uma versão do dilema considerado por Daniel Zubiria, onde há 50% de chance do trem descarrilado salvar todas as pessoas e não optar por nenhuma das duas vias, uma argumento parecido é o de Jonah Barnaby.

O problema é interessante porque recai nas virtudes teologais necessariamente.

Sobre a fé há um único argumento possível: a oração, ela é inalienável do pensamento religioso, não se trata de exercício de retórica, de manobras lógicas e emocionais, ela deve se fundamentar exclusivamente na relação com Deus, assim é dispensável a relação utilitarista ou deontológica já que ela é teo-ontológica: “a casa de meu Pai é casa de oração” (Lc 19,46).

Philippa Foot, The Problem of Abortion and the Doctrine of the Double Effect in Virtues and Vices (Oxford: Basil Blackwell, 1978.

 

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