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Arquivo para setembro, 2017

O sofrimento e o cansaço

01 set

A sociedade do cansaço não é a do sofrimento, o sofrimento é parte da vida, mas háAJesusPedro a impossibilidade de praticar a alteridade, e considerar o Outro além do mesmo, o individualismo transformou-se conforme afirma o filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han uma “divisão nítida entre o dentro e fora … a Guerra Fria seguia o esquema imunológico”, que é a metáfora de excluir o Outro quando este não se configura dentro do meu sistema “epistêmico”, está fora da “minha lógica”.

A onto-lógica do “tragikós” grego, é aquela na qual enfrentamos nossos sofrimentos observando onde a justiça e a política convulsionam e criam patologias em nosso meio, a lógica dual do ou “eles” ou “nós”, é a crença na vingança, no ódio e na guerra, trágicas para a modernidade e ainda não damos sinais de ruptura em nossos sistemas de tensionamentos.

Os deuses sejam quais foram não querem nossa morte nem nosso sacrifício, a onto-lógica deve contemplar o outro com compaixão e misericórdia, mas não pode estar sujeita a ética dos Fariseus e Doutores da Lei, o portal pelo qual devemos entrar é a misericórdia de um Deus que se faz morte e vítima pelos homens, e não aquele que faz dos homens vítimas dos deuses, esta religião pós-moderna é farisaica e impiedosa, condena e não salva.

Após Jesus ter ensinado esta onto-lógica para os discípulos, eles ainda tinham e não entendiam o seu sacrifício que era o sacrifício de um Deus.

Lemos na Bíblia que Jesus já previa sua morte violenta, e começa a alertar os seus discípulos que não aceitam, em Mateus 16,22 está escrito que Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!”, e ele pede a Pedro para afastar-se dele com aquela mentalidade.

O que é o sofrimento, o mundo moderno não conhece, está preocupado com o máximo do prazer, o hedonismo defendido pelos utilitaristas como Stuart Mill e Jeromy Bentham e toda tentativa de conciliar a felicidade agápica com a êxtase erótica, deu naquilo que o filósofo Byung-Chul Han escreveu em seu livro (edição portuguesa): “na realidade, o fato que o outro desapareça é um processo dramático, porque se trata de um processo que progride sem que, por desgraça, muitos o adverta.” (HAN, 2014, pag. 5).

O escritor francês Emile Zolá escreveu “o sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito”, e o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu: “a educação para o sofrimento evitaria senti-lo com relação a casos que não o merecem”, aí sim é felicidade.

HAN, Byung-Chul. Agonia De Eros. Lisboa: Relógio D’água, 2014.