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Arquivo para maio 25th, 2022

A ascese e os exercícios

25 mai

O mais proeminente filósofo alemão da atualidade, Peter Sloterdijk em sua obra: “Você tem que mudar sua vida” tem uma sacada genial e original, não é o modo de produção e nem mesmo a cultura que produz a vida, mas os exercícios, por eles realizamos nossa “ascese”.

O que significa um exercício para ele, diz em sua obra: “Como exercício defino qualquer operação que conserva ou melhora a qualificação do ator para realizar a mesma operação da próxima vez, seja ela declarada como exercício ou não” (Sloterdijk, 2009, p. 14).

Desenvolverá mais a frequente o conceito de “habitus” que retoma do conceito medieval de Aquino e antigo (hexis) de Aristóteles, e a partir daí seu conceito antropológico:

“[…] descrevem um processo aparentemente mecânico sob os aspectos da inércia e da superação para explicar a encarnação do espiritual. Eles identificam o homem como aquele animal que pode o que deve, se alguém se importou em tempo com suas habilidades. No mesmo momento percebem como as disposições alcançadas continuam crescendo na direção de novas superações” (Idem, p. 289).

E assim sua teoria do habitus aponta para qualquer costume ou habilidade na direção de superar seu estado atual, sob a perspectiva de uma tensão vertical é possível formular uma tensão de arte do Bem, pois até aquilo que já está bom pode ser melhorado, então começa por esta ascese a elaborar o seu principal conceito: a antropo-técnica, escrito aqui de modo proposital com hífen.

Na interpretação de Sloterdijk existe uma ruptura, que chama de secessão, entre os que partem para escolher uma vida em exercícios e o mundo cotidiano, que se assemelha a um rio no qual há acomodações inquestionadas, e para ele isto está além do espectro religioso, funde-se a cultura.

Chama ao processo interno desta ascese de endoretórica, que consistem em rezas recitações rituais, monólogos e outras falas silenciosas, normalmente praticadas repetidamente, chegando a verdadeiros diálogos internos (não são alucinações), mas são práticas de solitárias sem o Outro.

“Todos os exercícios, sejam eles de natureza yoga, atlética, filosófica ou musical, somente podem acontecer se suportados por processos endoretóricos, nos quais atos da autoexortação, do autoexame e da autoavaliação, sob os critérios da tradição escolar específica e sob apontamento contínuo na direção dos mestres que já alcançaram o objetivo, têm um papel decisivo” (Sloterdijk, 2009, p. 369).

Há um ir além da normalidade e da ascese que leve a uma outra ascensão, o encontro com o Ser.

Sloterdijk, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik Frankfurt, Suhrkamp, 2009. (Tens de mudar sua vida, edição portuguesa de 2018, Relógio d´água)