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Arquivo para maio 1st, 2025

O ente, o ser e transcender-Ser

01 mai

O ser não é o que se manifesta direta e imediatamente, ele se manifesta com um ente, porem não é um ente, embora se aproprie dele, assim o Ser tem algo que transcende o ente.

Assim escreve Heidegger: “o ser não somente não pode ser definido, como também nunca se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser determinado a partir do seu sentido como ele mesmo” (Heidegger, 2005), assim ele é autonomia, independente e indefinível.

A essência, na filosofia, refere-se à natureza fundamental e imutável de um objeto, ser ou conceito, é aquilo que define a identidade e as características essenciais de algo. 

Foi Etienne Gilson em seu livro O ser e essência que esclarece o debate filosófico desta questão, fazendo uma leitura de O ser e o nada (Jean-Paul Sartre) e do primeiro capítulo da Wisseschaft der Logik (A ciência da lógica, de Hegel) admitindo que esta palavra “ser” em certa tradição idealista havia tentado bani-la do vocabulário filosófico, ao menos no “Ocidente”, em substituição ao ser entra então uma “lógica” científica e o dilema do logicismo.

No Ser e o nada (1943) a filosofia de Sartre se depara com uma negação do Ser que mergulha num nada, ou seja, sou eu mesmo e nunca um Outro, parecia naquele momento da história (ele também escreve sobre A Idade da Razão), que o Outro seria meu inferno e não parte do Ser.

Em um livro Ausência Byung-Chul Han sai de seus ensaios e começa a esboçar uma filosofia do “Oriente” ele vai trabalhar o que considera ofuscado na cultura ocidental, escreve citando Elias Canetti, “que talvez não faça mal acreditar que de fato há um país ‘onde quem diz ´eu´ imediatamente afunda na terra” (Han, 2024, p. 9), e é assim que começa a esboçar a ausência.

Han começa nesta obra já uma nova filosofia além do ser e da essência, “essência é substância. Ela subsiste. É o imutável que resiste à mudança persistindo em si como o mesmo e, por isso, se distingue do outro” (p. 12), denuncia seu caráter bélico: “somente algo que está inteiramente resoluto de si, que mantém a si mesmo com firmeza e habita em si permanentemente, isto é, que tem a interioridade da essência, também pode travar um conflito e um combate com o outro” (p. 13).

Persegue sua visão linguística da filosofia e vai reler Leibniz (citamos no post anterior) em sua Monadologia: “Leibniz leva ao limite, de maneira consequente, a ideia de essência, ou seja, de substância. A “mônada” representa a consequente exacerbação e acabamento da essência” (p. 14), lembro que o monismo de Leibniz é oposto ao dualismo objeto x sujeito, é o uno essencial.

Descreve a alma leibniziana como um “mirror vivant” (espelho vivo) e “é lugar de desejo. O universo é apenas um objeto de sua ‘apetição’. A mônada o percebe porque tem apetite dele.” (p. 15), ou seja, sem desejo não há nada.

Neste sentido começa a introduzir sua crítica a Heidegger (é bom lembrar que seu professor Peter Sloterdijk surge no cenário filosófico criticando Carta ao Humanismo de Heidegger, 1946), mas o faz de maneira mais profunda: “apesar do esforço para deixar para trás o pensamento metafísico, apesar de estar sempre buscando se aproximar do pensamento do Extremo Oriente, Heidegger também permaneceu um filósofo da essência da casa e da habitação” (Han, 2024, p. 16).

Esclarece que está na afirmação de Heidegger: “o amor também consiste em ajudar o outro a aceder a sua “essência”: institua o amor!”, em seguida reivindica Agostinho escrevendo: “talvez a interpretação mais profunda da questão ´o que é o amor resida na sentença … ‘amo volo ut sis”, eu amo, isto é, eu quero que o amado seja o que ele é” e esclarece que ele convoca a essência (Han, 2024, p. 17), mas para Agostinho a essência e transcendência é Deus.

HAN, Byung-Chul. Ausência: sobre a cultura e a filosofia do extremo oriente. Trad. Rafael Zambonelli, Petrópolis, RJ: Vozes, 2024.