Pensamento, deserto e Ser
Um dos fundamentos de entender o pensamento contemporâneo sobre o Ser é fazer uma leitura onde a interpretação esteja aberta, ou seja, fazer um “epoché”, um vazio para apagar nossos filtros de pré-conceitos que estabelecemos sobre qualquer leitura, só então penetramos nesta novidade: o nosso “Ser” e o Ser-aí, o “dasein” de Heidegger.
Em seu texto “A urgência de Heidegger: introdução um novo pensar” (Três Estrelas, 2013), ele sugere que além de um mestre do pensamento, ele nos ensina a “pensar por nossa própria conta e risco, nos concita ao exercício da responsabilidade pessoal e intransferível no plano de nossos pensamentos e opiniões.” (GIACÓIA, 2013, p. 109)
O esvaziamento do pensamento é um dos aspectos fundamentais do esvaziamento de nosso ser, assim o deserto e o exercício de olhar para nossa essência (é claro sem nunca perder a relação com o mundo e com os outros) não é outra coisa senão a abertura para um “advento”, coisas que virão se estivermos abertos e atentos, além dos pré-conceitos.
Longe destes pré-conceitos, o nosso se desperta conforme aponta Heidegger para o “des-velar”, há um véu sobre nossos pensamentos e sobre nossas “visões” de mundo, de pessoa, mas principalmente sobre o próprio pensamento que está condicionado a um modo de ser circunscrito na filosofia, e que mesmo que não saibamos moldar nosso “pensar”.
O próprio Heidegger viveu um período de isolamento na floresta negra, mas não é preciso ser filósofo para pensar, é preciso apenas escutar e dialogar (mesmo).
O que muitos chamam de realidade, do concreto ou outro nome de impacto, não é senão a subjetividade do idealismo, aquilo que se distancia da subjetividade: o belo, a poesia, a contemplação e principalmente o conjunto de subjetividades que compõe nosso Ser, sem elas nos sentimentos fragmentados, e são elas que nos confrontam com o Outro.
O véu que nos condiciona a uma visão particular de mundo, de sociedade e do Outro, é o véu do idealismo e das ideologias, e o desejo de condicionar e moldar o outro ao nosso pensamento é justamente por considerar que o que está aí é o normal, o correto, mas ele está profundamente penetrado de ideologia e de idealismo.
Só um forte exercício de deserto, e de pensamento aberto ao “desvelar” pode alcançar um advento novo, aquilo que está por vir não é o de sempre, é novo e pode mudar tudo.
GIACÓIA Jr., O. A urgência de Heidegger: introdução a um novo pensar. São Paulo: Três estrelas, 2013