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O homem na natureza e o sobrenatural

08 abr

Entre o mistério e o conhecido, entre o humano e o sobrenatural, há mais coisas entre o céu e a terra do que pensam a nossa vã filosofia e nossa humana teologia, ambas precisam de uma mão “extra”.

Precisamos para caminhar em frente de acreditar em algo, ou em alguém que é muito mais palpável ao humano, mas esquecemos como diz Morin, como diz Heidegger e até o crítico literário que nos deixou: é preciso saber o que é Ser.

Morin reclama do humano que não sabe mais do próprio humano, a Pandemia tem mostrado isto com inúmeros exemplos em todo lado, gente que não se compadece dos que morrem todo dia, gente que quer atribuir a culpa do vírus a esta ou aquela pessoa, e pessoas com comportamento como se não estivéssemos numa pandemia, em todos âmbitos faltam humanismo do respeito ao ser humano primeiro e a sua vida como consequência.

Na visão de Heidegger expressa em seu clássico “Ser e Tempo”, o homem é o ser-no-mundo, ou seja, um ser-em-situação-temporal, mas não preso a ela e está sempre aberto para tornar-se algo novo, assim poderíamos pensar o que será o novo no pós-pandemia, isto dará um traço existencial ao que significa ser preso ao tempo.

Porém estava aberto ao novo, isto depende de uma visão de mundo (weltanschauung ou cosmovisão), nela se prende sempre uma visão do mistério da vida, do universo e do que pode existir além dele o sobre-natural, porque o nosso conceito de natureza é incompleto.

Se viemos do barro, ou se a própria vida surgiu de pequenas reações orgânicas do inorgânico (o conceito de mutação aórgica), significa também que nesta origem há mistério e uma série de hipóteses são válidas, porém algo “novo” já aconteceu no passado que deu origem a criação da natureza orgânica, dos animais e do homem nesta “natureza”.

A ideia que podemos objetivar a natureza (supondo que nela nada é sobrenatural) era na visão de Teilhard Chardin a necessidade de entender o homem como algo “complexo” da natureza, que possui consciência dela, porém a objetivação das ciências atuais que procura vê-la só “do lado de fora”, foi citado por Ways (apud Chisholm, 1974) como uma forma arrogante e insensível de lidar com o mundo material, há sempre algo do Ser nela.

O trabalho sobre Ecologia de Chisholm destaca o papel que a não compreensão da natureza como um todo pode ter na sua degradação e o surgimento de anomalias, escreveu (Chrisholm, 1974): “uma vez que o método e a ideologia dependiam do fracionamento dos fenômenos naturais em parcelas controláveis, em teorias e experiências antes de passar ao problema seguinte, o homem foi perdendo o sentido da vida como uma grande teia que é a que a Ecologia ensina” (Chisholm,1974), assim também o homem e a natureza operam como uma rede, uma “teia ecológica”.

Também há a ligação inversa do sobrenatural com o natural, é curiosa a passagem Bíblica que Jesus depois de ressuscitado aparece aos apóstolos, mostra os pés e as mãos que foram perfurados e quer comer um peixe (Lc 24, 41-42): “Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” Deram-lhe um pedaço de peixe assado.”

Assim no sobrenatural também a relação com o natural não se perde, embora na visão bíblica este “noutro plano”.

CHISHOLM, A. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
 

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