Entre a ética e a moral
A grande diferença entre ética e moral está na raiz etimológica da palavra, enquanto a primeira deriva da palavra grega êthos, que quer dizer de certa forma “caráter” mas ligada ao sentido da polis com a qual os gregos se preocupavam, a segunda deriva da palavra latina moralis, que é de certa forma também “morada” do Ser, que os gregos a refletiram, mas distintamente.
Ao desvelar (palavra que a fenomenologia heideggeriana privilegia) o esquecimento do Ser, no sentido de sua “morada”, seu Dasein está oculto e esquecido pela filosofia contemporânea, assim o que é chamado de moral tornou-se quase sinônimo de ética, mas não o é.
Este campo na filosofia contemporânea se dedica a entender as ações humanas (vendo-as como ações morais) e esta de acordo com um código temporal poderão ser certas ou erradas, assim não há uma definição atemporal de moral e torna-se parecida ao código ético, aquele definido por um momento da história humana.
Assim a moral muda constantemente, e a ética é aquilo que é estabelecido temporalmente por alguma forma de consenso, em geral, estabelecido por leis do Estado, que também são mutáveis.
Não há, portanto, a discussão de princípios e valores que sejam fundamentais, o direito a vida por exemplo, que deveria ser um valor fundamental torna-se também questionável, no caso da eutanásia e do aborto, até mesmo a morte por algum tipo de homicídio pode ser “legal” e não é.
Nada justifica um fim arbitrário da vida humana, toda vida humana deve ser poupada e preservada de valores temporais, assim também a discussão da morte numa pandemia, que tem uma causa natural, pode e deve ser analisada no caso de descuido ou negligência social ou pessoal.
A discussão da moral como um conjunto de hábitos e costumes da sociedade, sem estar ligada a princípios é perigosa e pode criar regras e leis, que são o estabelecimento de uma ética, que pode transgredir direitos básicos: a vida, a dignidade humana e limites saudáveis da convivência social.
O filósofo Adorno defende esta visão em seu livro “Mínima moralia” (Azougue Editorial, 2008) e também Peter Sloterdijk vai contrapor o imperativo absoluto (não impedir o progresso e a ação humana no sentido de criar uma sociedade mais solidaria) ao imperativo categórico (que é uma atitude ética moral de um indivíduo) estabelecido por Kant.
Em seu livro “A banalidade do mal”, Hanna Arendt alertou sobre a preocupação com aquilo que denominou “as atividades da vida do espírito”, relativas à ação, à ética e à política, que tomou forma consistente no julgamento do nazista Adolf Eichmann em Jerusalém, cidade que tem não apenas o simbolismo judaico-cristão-islâmico da grande raiz abramica, todas descendem e reconhecem o simbolismo de Abraão com raiz de suas crenças, mas também um código moral.