Uma voz para a paz
Poucos foram escritores e jornalistas que não se envolveram em meados do século XX em apelos ideológicos e nacionalistas que faziam a Europa em meio ao enfraquecimento do Império Austro-húngaro e o crescimento de sentimentos militaristas que levavam a guerra, Karl Kraus, um dramaturgo e escritor austríaco (eram nascido em 1874 numa vila da Boemia (hoje republica Tcheca), então parte do Império Austro-húngaro.
Ao contrário do jornalismo de seu tempo que criticava, daqueles que julgavam videntes como Raphael Schermann que estava em evidencia em Viena e que o criticava, a crítica de Karl Kraus era dirigida ao engajamento político-ideológico dos jornalistas de seu tempo, que criticava desde a linguagem vulgar que usavam até a decadência moral de seu tempo que espelhavam.
Famoso e conhecido nos dias atuais por seu livro “Aforismos” (Arquipélago Editorial, 2010), o qual definia como “O aforismo jamais coincide com a verdade; ou é uma meia verdade ou uma verdade e meia”, teve várias obras publicadas recentemente em português, teve os lançamentos em português das obras “Os últimos dias da humanidade” pela editora portuguesa Relógio d´água e mais recentemente de textos do seu jornal “Die Fackel” (A tocha ou O archote, como preferem os portugueses) que são escritos já na 1ª. guerra mundial, a qual era um dos mais destacados opositores.
Havia uma edição incompleta d´Os últimos dias da Humanidade, editada pela Antígona em 2003, por seu tradutor português Antônio Souza Ribeiro, lembra o jovem chegado em Viena que já escrevera “A literatura em demolida” de 1897 e “Uma coroa para Sião” em 1898, como “De facto, desenha‑se aqui com clareza o que irá ser a marca distintiva da posição de Kraus no campo literário vienense, definida por Edward Timms como um “isolamento combativo” ” (pg. 96).
Enquanto os “media” de sua época se engajam em discursos ideológicos de seu tempo, escreve seu tradutor “… pelo contrário, Kraus está a lançar, de forma pioneira, os fundamentos do que poderia hoje chamar‑se uma crítica dos media, no que constitui uma das dimensões de mais flagrante actualidade da sua obra” (pg. 97).
Embora solitário, Karl Kraus não se fechou: ”A realidade é que, ao longo de toda a vida, ao mesmo tempo que se defronta com ódios irredutíveis no interior do campo literário austríaco e alemão, Kraus cultivou um círculo de relações muito alargado, que se intersecta com círculos intelectuais e artísticos relevantes e com vários nomes de destaque das primeiras décadas do século…” (pg. 97).
Com a eclosão da guerra em agosto de 1914, sairia apenas um número da Revista “Die Fakel” em dezembro de 1914 com o texto de 20 páginas “Nesta grande época”.
Depois de publicar novo texto curto em fevereiro de 1915, a revista “ … volta a publicar‑se, em Outubro de 1915, com um número extenso de 168 páginas, é para se constituir como um espaço de rejeição violenta da política de guerra em todos os seus aspectos” (p. 101).
Além de sua importância para a história do jornalismo, Karl Kraus traz uma grande reflexão para os dias atuais.
RIBEIRO, Antônio Sousa. Os últimos dias da humanidade – manual de leitura, Portugal, Porto: Manual de Leitura Últimos Dias final.pdf (tnsj.pt), 2003.