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A construção simbólica do mal

15 jul

É preciso entender a possibilidade da verdade e da hermenêutica,SimbolicoMal entendida como busca de uma verdade fora do relativismo, do maniqueísmo e da ambivalência, afirma Ricoeur que é preciso um ato de confessar o “símbolo” e o ato de confissão e “essa confissão é palavra, uma palavra que o homem pronuncia sobre si mesmo” (Ricoeur, 1982, p. 167) e isto significa reconhecer uma culpa, ligado a Agostinho de Hipona, a culpa de uma “ausência do bem”.

Assim a hermenêutica simbólica do mal, expressa precisamente um hiato que separa e agrega, no homem a falibilidade e a culpa: a possibilidade de cair e a queda efetiva.

Mas porque é simbólica, porque é a possibilidade de falir, designa a estrutura da realidade humana que, devido a sua menor resistência, oferece um ponto de vulnerabilidade que permite o mal (Ricoeur, 1981, p. 159), e este limite significa que:

“ … equivale a dizer que a limitação própria de um ser que não coincide consigo mesmo é a debilidade originária de onde emana o mal. E, sem dúvida, o mal não precede dessa debilidade senão que ele ´se põe´. Este paradoxo constitui o centro da simbólica do mal (Ricoeur, 1982, p. 162).

E le desvenda esta debilidade, ente a finitude e infinitude, que remonta a Descartes (ver Meditações Cartesianas de Husserl) mas que comporta o entendimento finito do homem e a vontade infinita, o ser diante do nada e o nada diante do ser, nesta sequência.

É neste ponto que a ontologia ricoeuriana aponta um caminho novo, visto que é essencial para ele o Ser diante do Outro, expresso em várias obras: Outramente e o Outro com si-mesmo, ele desvela definitivamente nesta obra, esta característica intermediária “consiste precisamente em seu ato de existir e por identidade o ato de realizar mediações entre todas as modalidades e todos os níveis de realidade dentro e fora de si” (Ricoeur, 1982, p. 27).

O paradoxo entre finito-infinito consiste justamente em ter “sua visão global de sua não-coincidência consigo mesmo, de sua desproporção, da mediação que realiza pelo fato de existir” (Ricoeur, 1982, p. 28), e por essa desproporção é que “converte a limitação humana em sinônima de ´falibilidade´ “ (Ricoeur, 1982, p. 150).

Mas podemos falhar e não falir, isto é, redirecionar para o infinito logo após a queda.

RICOEUR, Paul. A simbólica do mal, Lisboa: Edições 70, 1982.

 

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