O Brasil e a via para o futuro
O viés irônico e triste que vive o Brasil, no qual a rapinagem e a truculência política ocupam um destaque especial, impedem uma visão de futuro mais ampla e internacional.
Foi anunciada ontem a radiografia de uma economia em queda livre, novas denúncias de corrupção e manobras que impediriam sua apuração (claro precisa ser verificada a verdade dos fatos) e não conseguimos sair da mesmice da miséria política nacional.
O que acontece no mundo deveria ser olhado, e com influencias também aqui ainda que não se culpe a crise nacional por fatos do mundo todo, problemas como os paraísos fiscais, os capitais especulativos e as manipulações financeiras envolvem todo o planeta e prejudicam a todos, menos é claro ao reduzido número de pessoas que lucram com isto.
Edgar Morin escreveu em 2011: A via para o futuro da humanidade (tradução brasileira de 2013 pela Bertrand do Brasil), aonde ele discute medidas imprescindíveis para uma via global da humanidade, citando os problemas da água e a discussão pela sociedade:
“Os cidadãos deveriam participar da definição e da realização da política da água em âmbito nacional e local (efetivação de locais em que haja participação comunitária) em bases representativas e diretas” (Morin, 2013, p. 125).
Depois de analisar as medidas neoliberais de Thatcher e Reagan, que transformaram a mundialização (que tem aspectos positivos) em globalização, explica Morin:
“Ao favorecer nações que exploram os trabalhadores, como a China, e a corrida pela produtividade que ela gerou por toda parte, na Europa e nos Estados Unidos a competitividade internacional conduziu ao empobrecimento das indústrias, á destruição em massa dos empregos, a inumeráveis deslocalizações, à precariedade e a uma dependência dos trabalhadores” (Morin, 2013, p. 128).
Morin aponta 17 vias de reformas: 1) Abandono da ideia de crescimento indefinido, 2) instauração de um Conselho de Segurança Econômico Permanente, 3) Efetivação de uma cooperação Norte/Sul, 4) Desenvolvimento ou criação de uniões econômicas na América do Sul, no Magreb, na África subsaariana, na Ásia Oriental, 5) Redesenvolvimento das econômicas de proximidade (locais), 6) Desenvolvimento de uma economia verde, 7) Desenvolvimento de uma economia plural, 8) Multiplicação das moedas locais subsidiárias, 9) Ressurreição da lógica da doação, da ajuda mútua, da gratuidade, 10) Desenvolvimento do comércio equitativo, 11) Desenvolvimento dos bancos solidários, 12) Desenvolvimento do microcrédito e do microfinanciamento, 13) Reforma dos empreendimentos econômicos, 14) Manutenção da ressurreição dos serviços públicos nacionais (correios, telecomunicações, estradas de ferro) e, para a Europa, a instauração dos serviços públicos europeus, 15) Ajuda dos negócios de interesse geral (solidariedade e convivialidade) (ele chama de Política de civilização), 16) Propagação das fórmulas comunitárias que permitem o pleno emprego (cita o exemplo de Marinelada, na Andaluzia), e, 17) Desmercantilização progressiva dos bens comuns à humanidade – água, tudo o que vive. (Morin, 2013, pg. 129-140).
Morin, Edgar – A via para o futuro da humanidade, Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2013.