
Arquivo para junho 16th, 2025
Outras guerras e heróis
A África viveu um longo período de colonização que não seria exagero chamá-lo de genocídio ou ao menos de apagamento de uma cultura e de uma cosmovisão imperiocêntrica, no sentido que toda ideia de libertação na África vem acompanhada de alguma forma de epistemicídio, que é impor uma cosmovisão às nações mais desarmadas e que não participam da riqueza.
Tive contato através do livro que ganhei de um amigo: “História Geral da África – África desde 1935” (2011, Cortez e UNESCO), tomei cuidado de ver os editores que são independentes e a tradução teve participação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal de São Carlos, universidade onde estudei e mais tarde fui professor.
Ali A. Mazrui foi um professor e escritor político queniano, falecido em 2014 e que teve como assistente Christophe Wondji falecido em 2015, professor universitário ivoiriense (Costa do Marfim), aqui postaremos de uma guerra atual que a República Democrática do Congo vive.
O capítulo 21 do livro, este escrito pelo próprio Ali A. Mazrui e colocabolaradores, encontro uma definição da alma africana em forma de um poema: “Nous sentons [nós sentimos], donc nous pensons [portanto, nós pensamos], donc nous sommes [por conseguinte, nós somos] (Mazrui, 2011, 763), os destaques são dos tradutores, dele traduzimos: sentimos (percepção) precede pensamos (logos) que precede somos (ontológico), e com isto entendemos a ontologia africana como percepção e acrescentaria intuição fenomenológica.
O livro estabelece todo um histórico profundo da África pós 35, assim ainda como parte da África colonizada (o apartheid por exemplo, durou até 1994) e tem uma lacuna de 2015 a frente, no período anterior caberia uma análise do Reino do Congo, já colonizado desde 1942.
Faço outra anotação pontual: “o colonialismo da manutenção da ordem foi, em sua essência, um substituto do colonialismo do desenvolvimento. O colonialismo belga, no Zaire (atual R. D. do Congo), não foi senão marginalmente melhor que o colonialismo português em Angola” (Mazrui, 2011, p. 772), que pontualmente queremos analisar.
Inicialmente colonizado por Portugal, a República do Zaire sob domínio belga (daí Congo Belga) após revoltas tem o nome e a constituição modificada para República Democrática do Congo de 1971 a 1997, é o segundo maior país da África (a Argélia é o primeiro) depois que o Sudão foi dividido criando o Sudão do Sul, que vive também uma guerra e há outras na África.
O Zaire sofreu um golpe militar em 1965 liderado por Joseph-Désiré Mobutu, depois de uma crise conhecida como crise do Congo (1965), Patrice Lumumba democraticamente eleito não toma posse, torna-se República Democrática do Congo, porém o mobutismo ficou conhecido pelo seu nepotismo, corrupção e messianismo sendo deposto em 1995 por Laurent-Desiré Kabila, politicamente sendo considerado ambíguo, é aliado dos tutsis inimigos dos hutus.
O regime da República Democrática do Congo é semi-presidencialista, e o atual presidente é Félix Tshisekedi, eleitor em 2019 e reeleito em 2023, e a primeira ministra é Judith Tuluka.
O país tem enormes riquezas minerais que incluem as famosas terras raras, importantes para a tecnologia atual (columbita tantalita), e entre os conflitos, a província do nordeste de Kivu do Norte e do Sul, que envolvem tanto questões políticas como étnicas.
Hoje será proclamado “servo de Deus” um jovem de Kivu Floribert Bwana Chui (na foto numa escola para a paz), que se opôs a entrega de alimentos estragados a população, morto sob tortura negou-se a ser corrompido e a abandonar suas crenças e valores, em cerimônia na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, com presença do bispo congolês Willy Ngumbi e outros cardeais do Congo, e a presença do cardeal para Causa dos Santos, Marcello Semeraro.
Para a paz, a África pede respeito aos seus valores e fim da corrupção ocidental no país.
MASRUI, Ali A., WONDJI, C. (Eds) História Geral da África: África desde 1935, v. 8, 2a. ed. São Paulo: Cortez Editora, Brasília: MEC/UNESCO, 2011.