
Arquivo para junho 14th, 2025
Por uma ontologia trinitária e nova ética
Não é possível que países em guerra seja parte de um conselho de segurança, a máxima bélica se deseja a paz prepare-se para guerra é a visão dualista de mundo e de conflito permanente.
A recuperação do Ser enquanto Ser, depende da relação com o Outro que não envolva força, intimidação e desrespeito, a sentença de Byung Chul-Han sobre a “cultura” das novas mídias é contundente: “O respeito é o alicerce da esfera pública. Onde ele desaparece, ela desmorona” (No enxame: perspectivas do digital, Vozes, 2018, p. 12).
A humanização de todo homem consiste em colocar o ser humano no centro das interações, valorizando a empatia, a dignidade e a atenção a todos, de todos povos e culturas.
Colocamos no post anterior a notícia de nova escalada da guerra, que entre Eu e o Outro não há uma linha direta ao Ser e como diversos autores trabalham questões entre a Ética e o Ser, mas ainda há necessidade de uma ontologia que rompa com a visão dualista Eu e o Outro e inclua um terceiro que nos leva a um Ser-sendo onde a interioridade se traduz na ação e na exterioridade.
A contradição entre o discurso (a boca fala o que o coração está cheio) e a ação (que exige uma postura de valores e alimentos interiores da alma) está no reconhecimento de que há um terceiro Ser nesta ação e para atingi-lo é preciso um não-Ser, no sentido do vazio que acolhe, uma interioridade cultivada, da ausência que na filosofia oriental precede a existência e a presença, a afirmação do poder.
Lembramos no post anterior que também Platão intui esta necessidade trinitária, acima da essência e da substância, que é o Sumo Bem, porém ainda precisa ao aspecto funcional do um.
A unidade do planeta, o cidadão da Terra como sonhou Edgar Morin, um mundo realmente sem fronteiras e como casa de todos exige uma visão trinitária, onde posso não-ser para que o Outro tenha afirmação como ser, e existe exige a ultra-substância (não um ente) que seja Ser que é Puro Ser.
Como nos unimos não apenas como planeta, mas como Cosmos e explorando a potência do Ser, não é afirmação do poder e sim admitir que haja entre Eu e o Outro, um outro Ser, um puro Ser, aquele que é, que foi e que sempre será e neste sentido de Infinito de Levinas tem razão, porém é um Ser e ele próprio como puro Ser trinitário que une Eu e o Outro.
Este efeito pericorético, a relação entre três pessoas num Deus trinitário, foi descrita pelos padres capadócios da antiguidade: São Basílio Magno (330-379), seu irmão de sangue Gregório de Nissa (330-394) e São Gregório de Nazianzo (329-390), e a descreve como uma dança.
O diagnóstico da realidade atual feito por Byung Chul-Han de uma visão que não contempla o Ser, não é apenas “perda moderna da fé, que não diz respeito apenas a Deus e ao além, mas à própria realidade, torna-se vida humana radicalmente transitória” (Sociedade do Cansaço, Han, Vozes, 2019, pag. 42).
O conceito ontológico-trinitário contempla a realidade de um cosmos muito além da ideia dualista Ser e Não-Ser, há um terceiro incluído mesmo na substância, o emaranhado quântico, o efeito de tunelamento e os wormholes (buracos de minhoca) que contradiz a visão dualista, não é só A e não-A, há um “entrelaçamento“.
Não se trata apenas de um “nós”, há entre Eu e o Outro um terceiro divino que só fala na escuta atenta, respeitosa e de uma nova ética, que inclui o Outro e o respeita.