Deserto ou nihilismo
Dito de forma simplista, o nihilismo é a ausência de sentido das coisas que parece refletir nos dias de hoje, isto faz o homem não desejar o sentimento de vazio, de contemplação e de deserto que ao contrário busca captar o sentido mais profundo das coisas fazendo um “silêncio interior” e não um “vazio interior” nihilista.
Para Nietzsche foi a crença nas categorias da razão que nos fizeram acreditar num mundo que foi construído por meio de falsas referências, e mesmo os críticos na modernidade, em sua maioria quando não percebem este ´estado psicológico´ idealista e vazio, estão presos a ele e ficam andando em círculos procurando respostas ora num falso subjetivismo de diversas formas (religioso, ideológico e até poético), ora num falso objetivismo da “vita activa” preconizada por Hanna Arendt, mas que o filósofo Byung-Chul completa com a “vita contemplativa”.
Sobre o nihilismo, segundo Giacóia Junior (2007), “Nietzsche tematiza três formas do niilismo, considerado como ‘estado psicológico’, ou seja, como conteúdo da consciência reflexiva. Em cada um deles, trata-se sempre de uma categoria da razão, que dá apoio a uma interpretação do vir-a-ser e do e do valor da existência humana na corrente do devir”, este cai no desalento do “foi tudo em vão”.
A segunda é uma necessidade de totalidade, o que hoje se diz como a ausência de um discurso único, aquilo que comenta Giacóia como : “forma do niilismo como estado psicológico é presidida pela categoria de “totalidade” – enquanto suporte de uma interpretação global do vir-a-ser. A representação de uma unidade, de uma organização e sistematização globais conectaria a multiplicidade caótica dos seres individuais, contingentes e efêmeros, a uma totalidade integrada e orgânica – a um todo racional, de infinito valor (panteísmo, monismo, etc.), promovendo a reconciliação entre a finitude aleatória e o infinito necessário”, como é um discurso completo cai no simplismo.
A terceira forma, que nada mais é que uma conjunção das duas anteriores comenta Giacóia, é uma “forma do niilismo surge como consciência da mendacidade do mundo metafísico, e como descrença na categoria de verdade – com a descoberta de que o vir-a-ser é a única realidade – uma realidade, contudo, que não conseguimos suportar.”, em geral volta-se a um subjetivismo puro idealista ou a um ativismo desenfreado do “fazer”.
O deserto visto com busca do Ser, abertura ao estado de atividade de contemplação, ou contemplação da atividade, é uma reviravolta ontológica, penetração no subjetivo do Ser, para encontrar o objetivo de nossas atividades, nada foi em vão, o que menos serviu, foi útil como aprendizado, ou serviu para servir a nossa experiência, mas um deserto é necessário para esta retomada, senão cairemos nos mesmos vícios e erros, os caminhos já trilhados, é preciso “ir para o deserto”, como fez o profeta João Batista, Jesus e muitos outros místicos.
GIACOIA JR, Oswaldo. “Nietzsche: fim da metafísica e os pós-modernos.” In: Metafísica Contemporânea, Cap. 1, por Guido Imaguire, Custódio Luis S. Almeida,Manfredo Araújo de Oliveira (Org), p. 13-39. Rio de Janeiro, RJ: Vozes, 2007