A retomada ontológica
Heidegger faz ver em sua obra que uma questão jamais tocada (ao menos em profundidade) na filosofia é o “sentido do ser”, e isto deveu-se ao fato que na metafísica tradicional toda ontologia tornou-se uma ontologia da substância, então o pensamento de Tomás de Aquino é importante, pois separou-se ser de essência.
A primazia da “coisa”, que fizemos uma relação com ser-do-ente, é a forma como a “coisa” tornou-se representada para tudo o que “é”, mas rejeitando sua ontologia, não rejeita-se apenas a coisa abstrata, mas do ponto de vista existencial, a questão do ser é eminentemente concreta, porque “o ser é sempre o ser de um ente”.
Mas quais são as questões para a modernidade impostas ao Ser? as determinações essenciais do ser dos entes?
É uma maneira que deve situar-se aquém do plano empírico ou ôntico (dos entes) e constituir-se na condição de possibilidade do mesmo, e estas estruturas ontológicas explicitadas na análise do dasein (como ocupação, disposição, compreensão, discurso) não devem ser confundidas com aqueles que seriam os seus correlatos ônticos ou empíricos (afeto, desejo, conhecimento, linguagem).
É uma questão de precedência, pois estão não são nem irreais nem correlatos, pois toda analítica existencial “está antes de toda psicologia, antropologia e, sobretudo, biologia.” (Heidegger, 1995, p. 81)
Em Heidegger no ser do homem há uma presença -, uma dimensão ontológica fundamental. Na verdade, no texto de Heidegger, o status da pre-sença é ambíguo.
Preferiu-se a tradução do dasein como esta pre-sença, para que não seja entendida como sinônimo de “homem” (o ser-aí tem esta ambiguidade), na determinação ontológica, o que corresponde ao ser desse ente é sua presença e esta é a questão.
Sua relação pode parecer paradoxal, como pensam muitos autores, na relação do ser com o ente, mas não o é, pode-se viver divinamente esta pre-sença, não o nihil.
Uma passagem bíblica quase inexplorada por estudiosos do texto sagrado, é quando se aproximando a Páscoa de Jesus, ele se diz angustiado e também se vê diante de um “vazio”, em João em 27-29 está escrito assim:
“Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28Pai, glorifica o teu nome!” Então, veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”, A multidão, que aí estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”.”
Como para os apóstolos, para os gregos antigos e para muitos filósofos, este aproximar-se de um fim mais que uma angústia, tem um dilema: o que é a vida? Uma resposta sã é a Páscoa e a resposta insana é o nada (nihil).
-O termo “dasein”, comumente vertido para o português como “ser-aí”, foi traduzido por Márcia de Sá Cavalcante pela expressão “presença”.
Heidegger, M. Ser e Tempo (parte I). Petrópolis: Vozes, 1995.