Da fenomenologia de Brentano a Ontologia de Heidegger
Entre as contribuições de Brentano, além da intencionalidade da consciência, que é consciência de algo ou do objeto, está o que alguns autores (Boris, 1994) chama de Filosofia do Presente, onde o aqui e agora é a única experiência possível, rompendo com a ideia do empirismo de que uma experiência só é científica se puder ser repetida, e também rompe com a neutralidade do espectador, pois ele é parte do experimento, o que torna-o uma hermenêutica.
Da intencionalidade de seu mestre Brentano, Edmund Husserl (1859- 1938) guardará o aspecto da experiência de “ser consciente de alguma coisa”, mas modificará a fenomenologia empírica, para torná-la transcendental, não no sentido ainda espiritual, mas das vivências cognoscitivas, deixará de lado a visão de empírica, pela de uma objetividade imanente.
Husserl afirma em Ideias da Fenomenologia (1986) que: “As vivências de conhecimento possuem, isso pertence à sua essência, uma intentio, visam algo, se reportam de tal ou tal maneira a uma objetividade”, com isto abandona a ideia do empírico do mestre Brentano, e retoma o conceito de objetividade imanente como uma revisão dos conceitos Aristotélico e Tomista, como “essência”.
Em sua obra da maturidade A crise das ciências Europeias Husserl torna o conceito de transcendência mais vivo, dentro de sua Lebenswelt (Mundo da Vida), o transcendente “o transcendente é o mundo exterior” enquanto o transcendental “é o mundo interior” da consciência (HUSSERL, 2008, p. 18), porém esta dicotomia entre mundo exterior e interior vai fazer os filósofos existencialistas evitar o termo consciência.
Heidegger (1989) aluo de Husserl foi o primeiro a evita, pois a relação entre homem e mundo sempre foi perseguida pelos fenomenólogos com objetivo de superar o fantasma idealista da relação sujeito-objeto, a análise intencional e descritiva da consciência definia as relações essenciais dos atos mentais e o mundo externo, apesar de amadurecer Husserl a questão da redução fenomenológica.
Martin Heidegger (1889-1976), via Husserl como intelectualista e cartesiano, abandona os termos consciência e intencionalidade, centrais na fenomenologia transcendental de Husserl, na obra O ser e o tempo (1927), não aprovada por Husserl, o aluno supera o conceito de consciência e propõe o conceito de Dasein, inaugurando a fenomenologia existencial.
A “finitude” humana, a temporalidade e a historicidade (o ser no tempo) serão fundamentais na análise heideggeriana do Dasein, uma teoria que se funda na “destruição” da cisão sujeito-objeto.
BORIS, G. D. J. B. Noções básicas de fenomenologia. Insight. Psicoterapia (São Paulo). v. 46, pp. 19-25, novembro, 1993.
Heidegger, M. Ser e tempo (Vols. 1-2). Petrópolis, RJ: Vozes, 1989.
HUSSERL, E. A crise da humanidade europeia e a filosofia. Porto Alegre; EDIPUCRS, 2008.