O bem e a ontologia política
Embora o discurso filosófico sobre o bem seja amplo e variado, a modernidade perdeu parte deste fundamento quando vinculado a questão do Ser, no diálogo político não aparecem, por exemplo, o desenvolvimento de Hannah Arendt e suas obras: “A banalidade do mal” e “A condição humana”, ou o “O mal estar da civilização” de Freud ou ainda: “A simbólica do mal” de Paul Ricoeur.
Estes três últimos podem reelaborar, em dimensões trágicas, aquilo que reivindicamos como a ausência de uma ontológica política, aquilo que Hannah Arendt busca em seus textos.
Paul Ricoeur, explicando a simbólica do mal escreveu, a partir de atitudes individuais, que buscam “consolar” as vítimas do mal como um motivo causal:
“Às pessoas que sofrem e que são tão prontas a acusar-se de qualquer falta desconhecida, o verdadeiro pastor das almas dirá: Deus, certamente, não quis isto; eu não sei porquê; eu não sei porquê…” (Paul RICOEUR, “Le scandale du mal“, op. cit., p. 60), olhando a origem de um mal, que a maioria não consegue explicar, embora sinta.
O discurso filosófico tradicional sobre o bem gira em torno ou do utilitarismo (o bem é o que maximiza a felicidade, em Stuart Mill), o deontologismo (o bem é agir de acordo com o dever moral) e eudaimonismo (o bem supremo é a felicidade, alcançada através da virtude).
Kant elabora que o bem supremo é a vontade boa, ou seja, agir por dever e não por inclinação, e assim na filosofia contemporânea (de fundamento idealista) o bem vai desde a ética da virtude até a do cuidado, mas a ausência de valores fundacionais sobre o mal, acabam por incorporar o relativismo e cai no discurso política do populismo e do sofismo moderno.
Embora os gregos tenham tocado a questão ontológica, a ideia do platonismo que o bem é a forma mais elevada de realidade, a causa do que existe e objetivo final do conhecimento, a modernidade está paralisada sobre a égide de um mal, que não é só estrutural, mas que atinge o ser: a banalidade do mal de Arendt e o mal estar civilizatório de Freud.
Arendt mostra que há uma lacuna fundamentalmente política no pensamento atual que se insere na categoria da pluralidade do pensamento filosófico, antes da ascensão de Hitler, a busca de Arendt seguia para outras questões filosóficas que iam também em direção ao bem, em sua tese de doutorado, orientada por Karl Jaspers, discorria sobre “O conceito de amor em Santo Agostinho”, mas depois revê a questão ontológica e vai analisar a questão do totalitarismo.
Sobre a questão do Amor (o ágape) feito em seu doutorado, fica inconcluso, segundo seu próprio orientador, porém ainda que o mal pareça prevalecer, é o bem que devemos perseguir e só ele nos livra da condição histórica onde parece o mal triunfar.