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As vozes no deserto

10 jan

Em tempos de crises há um reduzido número de vozes que vê além das forças em embate, não são nem os apocalípticos nem os integrados (diria Umberto Eco), mas aqueles que entendem o panorama e as raízes das crises temporais e vem além do temporal, veem o civilizatório divino.

A figura do idiota de Dostoiévski é uma destas figuras que via na sociedade da época, um feudalismo decadente na Rússia, uma crise e imaginava uma sociedade com ética e moral, não apenas uma mudança estrutural, mas uma mudança no modo de ver a sociedade e o Outro.

Os integrados que vivem sobre o domínio de ideias já comprovadamente ultrapassados, quase todas oriundas do idealismo europeu, que imaginou uma paz eterna (Kant) sem entender a base dos conflitos que era uma visão de estado bélico e intercessor na vida cotidiana.

Também um quadro parecido é tratado por David Flusser ao analisar o quadro social da época de Jesus no primeiro século da era cristã, seu livro Jesus fala dos conflitos sociais, políticos e religiosos da época, como judeu traça um quadro visionário de Jesus na época.

Uma verdadeira profecia se realizava, e o profeta Isaias falava bem antes daquele tempo sobre um profeta que viria (o último e o maior, por isso verdadeiro) conforme Marcos (Mc 1,2-3): “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho. Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas! ”.

João Batista era o “idiota” de seu tempo, poucos compreendiam claramente o que dizia da vinda do messias, alguns queriam interpretar politicamente como um guerreiro salvador e outros como um louco que vivia no deserto se alimentando de mel e gafanhotos.

A vida ascética de João Batista, era uma verdadeira ascese, os religiosos e apocalípticos de nosso tempo são incapazes de compreendê-lo e por isso são fariseus e falsos profetas, em meio a crise anunciam riquezas e abundâncias inatingíveis para o povo simples que por eles é explorado.

Salvadores da pátria são diferentes de salvadores que preparam um caminho divino para um futuro pós-guerra, pós-crise e pós-religiosidade belicista e de “sócios” (em referência a Paul Ricoeur citado em posts anteriores), é preciso uma visão de mundo que veja com clareza as virtudes cardeais e não separe delas a justiça e sabedoria.

 

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