Arquivo para dezembro, 2024
Confiança é acreditar no divino
Um conceito fundamental para entender confiança dentro da epistemologia contemporânea, é entender o significado da epistemologia do testemunho, que está reconhecida pela maioria das correntes dos epistemólogos contemporânea, nela há um conceito e origem da confiança.
A confiança, ou fiabilidade, que a maioria dos epistemólogos preferem, é implícito e natural, é aquele que confia no funcionamento das coisas mudanas e não despreza as divinas, e ajuda as coisas de nossa vida fluir com maior naturalidade, ela se encontra nas realidades sociais e evita ressentimentos quando algo foi rompido, ajuda no campo pessoal e do social.
Quando há uma expectativa nos seres humanos de terem as integridades física e psicológica preservadas, se essa expectativa é frustrada, o mínimo que se espera é que sejam auxiliados, mas quando essa expectativa é igualmente frustrada, perde-se a fiabilidade no mundo.
Fiamo-nos no mundo enquanto não somos violados por ele e podemos continuar fiando-nos se formos auxiliados, aqui aparece a mãe divina, pessoas e entidades que vão em socorro desta fiabilidade perdida.
O segundo nível de confiança é aquele que está no terreno das relações morais, deve pressupor uma boa vontade das partes, envolvendo a promessa daquele que recebe confiança e este deve se esforçar para o sentimento que nele é depositado, assim a relação pode recuperar e até elevar a novos níveis o sentimento de confiança ali depositado, porém se esta se rompe o sentimento é de traição, compromete a relação com o mundo e desmorona a divina.
Para McLeod (2011), a confiança exige um otimismo em relação às habilidades da pessoa confiada, ao se confiar nela assume-se uma posição de vulnerabilidade e toda vez que confiamos em alguém, estamos sujeitos à traição, mas devemos ajuda-lo a recuperar seu Ser.
O conceito moral de confiança, da forma como está constituído, vai na contramão da concepção defendida em epistemologia, que pressupõe que devemos considerar, de forma proporcional, as evidências, aquela que condena e separa pessoas da relação social.
Assim auxiliar esta pessoa a recuperar a confiança em si e nas coisas do mundo é também dar um passo além e fazê-la restabelecer a confiança moral e social que traz de volta sua relação com o mundo, todos tipos de vulnerabilidades estão sujeitos a isto e ajudar é restabelecer os níveis de confiança entre estas pessoas e o mundo.
McLEOD, C. Trust. In: The Stanford encyclopedia of philosophy, 2011. Disponível em: Acesso em: 20 nov. 2024
Há clima para este Natal
Entre verdadeiros cristãos sim, sempre haverá esperança de um mundo melhor, onde todos possam usufruir do bem comum, da justiça verdadeira (e imparcial) e os mais humildes lembrados e convidados também para este momento de paz e confraternização.
Certamente em muitos lugares do mundo, especialmente entre aqueles que sofrem situações de guerra, de flagelos ou de miséria e fome, entre estes sempre haverá menos paz e alegria.
Porém não deve servir de empecilho para a busca do bem, da reflexão sobre verdadeiros valores que fazem o processo civilizatório de hominização cada vez mais avançados e promissor, não é utopia, é o único horizonte possível para aqueles que são verdadeiros humanistas, aqueles que não olham para o diferente com preconceito e desrespeito.
Não é limitado a nenhum grupo social, cultural ou religião, verdadeiros humanistas criam laços de fraternidade e pontes, e não abismos intransponíveis de acordos e diálogos.
Há mais há coisas inaceitáveis, sim inaceitável é a guerra que sempre há dois grupos dispostos a lutar, não há diferença que não deva ser respeitada, sim é inaceitável a desigualdade social, entretanto podemos colocar todos para refletir e encontrar soluções sem demagogia para isto.
Estas grandes coisas não são fruto apenas de leitura cultural avançada, é preciso sobretudo de sentimento solidário, de um olhar profundo sobre o Outro que não é um espelho e nem fruto de um discurso alegórico ou demagógico, é preciso respeitá-lo em toda sua dignidade.
Há uma verdadeira sabedoria que é guiada por olhares amorosos sobre a humanidade como um todo e sobre cada homem (ou mulher) em particular, ela é acessível a todos mentes e culturas, e pode traçar um caminho de paz e fraternidade.
Este Natal não é específico de uma data do ano, mas é importante lembra-lo nesta data, mesmo as correntes religiosas que não o comemoram deixam de reconhecer sua importância.
Sempre há esperança de paz, de alegria duradoura e de justiça social aos que amam.
E a Europa não acordou
A criação do euro, apesar da polêmica saída da Inglaterra, não o Reino Unido, porque a Escócia tentou fazer um referente sobre a questão e o Parlamento britânico rejeitou, a tentativa de criar um conceito e uma política europeia não fracassou, apenas não avançou no essencial.
Porém suas profundas raízes humanistas e culturais foram sufocadas pelas ideologias idealistas e iluministas.
O livro Se a Europa despertar (acordasse, na versão de Portugal) traça linhas essenciais do que seria a Europa verdadeira, suas fronteiras e suas bases étnicas, qual seria sua identidade religiosa praticamente abandonada, não são as imigrações que deterioram esta visão de identidade e unidade, mas a pergunta que faz Sloterdijk em seu livro é que cena desenham os Europeus nos seus momentos históricos decisivos? Quais as ideias que os animam, as ilusões que os mobilizam? E não é difícil apontar seus equívocos tanto quanto as bases étnicas como as culturais.
Também o padre Manuel Antunes, o livro Repensar Portugal escrito antes da União Europeia, dizia que seu país deveria voltar-se para a Europa, antes era um cantinho da Europa que lhe dava as costas e se voltava para as colônias africanas, no livro dava linhas de repensar o país.
A colonização e as Guerras, intestinais, porque houveram as guerras religiosas no período final do renascimento, e a paz de Vestfália tratado que retirava a questão religiosa das disputas, porém a Europa teve outras disputas de fronteiras e étnicas, até culminar em duas guerras mundiais.
Elas acabam envolvendo todo o mundo, porque há interesses que extrapolam as fronteiras, porém é preciso compreender que uma verdadeira identidade e unidade europeia ainda não se construiu, abriu-se as fronteiras, mas agora elas parecem incertas e ameaçadas com o envolvimento na guerra do leste europeu.
A tese principal de Sloterdijk neste livro é que o modelo de colonização que deu a Europa a ideia de um Império de Centro (como o autor a chama) e que abriu um vácuo no pós-guerra que criou uma geração de intelectuais que buscou um novo modelo imperial, assim o autor conclui que não se conseguiu entender que ela não é mais um centro e tem dificuldade com isto.
As guerras então são um caminho trazem de volta a ideia de império, o contrário que Sloterdijk propôs em seu livro que seria abandonar este modelo, também é a conclusão do padre Manuel Antunes que acrescenta um modelo de “democracia social” a Portugal.
Sloterdijk, P. Se a Europa despertar. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.