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Peitarquia, relativismo e violência

09 jun

Mais de 100 anos após Sorel ter escrito Réflexions sur la violence (Paris, 1908) e 50 do texto de Giorgio Agamben Sobre os limites da violência (Nuovi Argomenti, n. 17, 1970) esta discussão parece estar na ordem do dia, os últimos acontecimentos e a visão de uma polis agora sem tolerância e sem diplomacia toma conta das mentes bélicas.

Agamben lembrando A condição da humana de Hannah Arendt escreveu: “Ser político, viver na polis, significava antes de tudo aceitar o princípio de que tudo fosse decidido através da palavra e da persuasão, e não com a força e a violência” (Agamben, 1970, pp. 154-174) e usou o conceito de peitarquia, uma particular compreensão de sua relação da política com a verdade, ou seja, sobre a crença de que a verdade tinha por si o poder de persuadir.

Os sofistas para justificar poderes e tornar legítimos governos autoritários, faziam do uso da retórica como arte e técnica, um atributo para distorcer a verdade, e Platão tinha assistido impotente à condenação à morte de seu mestre Sócrates, a República de Platão é lida assim.

Teeteto aparece nos diálogos de Platão como uma figura, apontada com um dos primeiros indícios do relativismo, à pergunta de Sócrates sobre o que é conhecimento, Teeteto a vê como a Geometria e demais artes, e Sócrates responde com ironia: “É nobre e generoso, pois pedem algo simples e tu ofereces múltiplas e diversas coisas”.

E primeira exigência de Sócrates, é que Teeteto abandone suas ideias iniciais, que aparecem conjugadas com as ideias de aparência, verdade e alma, e a segunda é abandonar a ideia de “familiaridade” que temos coisas, e devemos abandoná-la pois: “Parece-me que aquele que conhece algo percebe aquilo que conhece, e para dizer a coisa tal como agora ela se manifesta, o conhecimento nada mais é do que sensação.”

Por isso Sorel, Agamben e Hannah Arendt podem ser retomados na atualidade, os argumentos sobre a guerra não são mais do que justificativas para a violência, quando ela própria já é uma ruptura com a verdade, diz o dito popular: “a primeira coisa que morre na guerra é a verdade”.

A resposta a operação Teia de aranha que a Rússia fez atacando alvos civis sem discriminação (na foto uma área residencial), alvos que em larga escala também foram resposta ao terrorismo do grupo Hamas e a notícia deste final de semana de que Miguel Uribe, pré-candidato a presidência da Colômbia sofreu um forte atentado, e está em estado gravíssimo, não é senão que os limites estão ultrapassados.

Tanto na Europa quanto no Oriente Médio a escalada bélica já é realidade, nas América a política começa a romper os limites do diálogo e da persuasão, é um passo para o pior.

Não faltam esperança e apelos para a paz, no entanto vão sendo sufocados pelas armas.

PLATÃO. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

 

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