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Arquivo para junho, 2018

A lei, o farisaísmo e a figueira

01 jun

O excesso de legalismo e de regras mata a vida, a figueira é uma árvore que fica muito tempo “seca” e depois saem as folhas e os frutos, mas por algum tempo parece morta.

O farisaísmo são aquelas regras morais, religiosas e em nosso tempo “do estado” que se tornou um deus, que mata a vida no desejo de controla-la, Petr Sloterdijk escreveu sobre isto em “Regras para o parque humano”, embora não concorde com tudo, em essência o diagnósticos dele é correto, exceto pelo fato que fez dista contestação uma “religião”.

Suas propostas, que eram uma resposta a Cartas sobre o Humanismo de Heidegger, que me fez deplorá-lo por muito tempo, aos poucos entenderam filósofos e teólogos, que estavam uma conferência em Elmaus, na Basiléia, que depois fez uma compilação e transformou em livro.

O diagnóstico de Sloterdijk que a figueira humana secou devido “a domesticação”, pode ser lida claramente no trecho de seu livro:
“O que ainda domestica o homem se o humanismo naufragou como escola da domesticação humana? O que domestica o homem se seus esforços prévios de autodomesticação só conduziram, no fundo, à sua tomada de poder sobre todos os seres? O que domestica o homem se em todas as experiências prévias com a educação do gênero humano permaneceu obscuro quem ou o quê educa os educadores, e para quê? Ou será que a pergunta pelo cuidado e formação do ser humano não se deixa mais formular de modo pertinente no campo das meras teorias da domesticação e educação?” (Sloterdijk, 1999a, p. 32).

Eis a figueira humana, eis o farisaísmo e suas regras “religiosas” ou “estatais”, depois de retomar a leitura, leio logo no início uma frase de Jean-Paul que Sloterdijk cita escrevendo a Heidegger “livros são cartas dirigidas a amigos, apenas mais longa”, e entendi que no fundo é um Heideggeriano, mas com uma crítica justa e bem colocada: onde está o humanismo ?

Nosso saber é antropocêntrico, rejeita até mesmo a técnica que é produção humana como “estranha”, temos no fundo um desprezo por processos de mudanças, os que o criticam como fascista devem lembrar que foi a ideia de estado “forte” que motivou o fascismo e ditaduras.

A ideia de autoridade farisaica que assustava Jesus nos escritos bíblicos, embora Sloterdijk critique também a religião recupera-a ao dizer que existe uma “ascese desespiritualizada” , que transformou os templos em locais de roubos e de imundices, não é diferente do estado moderno, a todos que o cultuam e reverenciam, há uma desconfiança geral sobre políticos.

Sloterdijk, Petr. Regeln für Menschenpark, Frankfurt/M. Suhrkamp (1999).  Tradução brasileira: Regras para o parque humano – uma resposta à carta de Heidegger sobre humanismo, São Paulo, Estação liberdade, 2000.