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Serenidade e paz
O livro “A Serenidade” de Heidegger vai dividir o pensamento contemporâneo entre o que calcula e o que medita, sobre o que calcula afirma:
“O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula vai de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca para, nunca chega a meditar.” (p. 13).
Reflete no texto que não há nenhuma meditação “elevada”, todo homem pensa e o pensamento pode levar a meditação, mas o cálculo não e ameaça este intimo do Ser:
Heidegger lembra que para pensar de verdade todos devemos pensar sobre nossas raízes, dito de modo mais contemporâneo não negar nossas origens e suas influências em nossa visão de mundo, mesmo que limitada, afirma: “o enraizamento (die Bodentändigkeit) do Homem actual está ameaçado na sua mais íntima essência. Mais: a perda do enraizamento não é provocada somente por circunstâncias externas e fatalidades do destino, nem é o efeito da negligência e do modo superficial dos Homens. A perda do enraizamento provém do espírito da época no qual todos nós nascemos” (p. 17).
O mais surpreendente neste texto que é de 1995, é que a característica “mais atormentadora é a bomba atômica”, não podemos esquecer que temos 440 usinas atômicas mais 23 em construção (na foto o acidente de Fukushima), ele percebe que o pensamento que calcula vê apenas as possibilidades industriais e a necessidade das energias da natureza, porém medita o que significa de fato este domínio da natureza.
“O poder oculto na técnica contemporânea determina a relação do Homem com aquilo que existe. Domina a Terra inteira. O Homem começa já a sair da Terra em direção ao espaço cósmico …” (p. 19), que além de ser incrivelmente atual tinha também um presságio sobre o futuro.
Mas não deixou de ver o perigo destas “grandes energias atómicas”, e assim: “assegura à humanidade que tais energias colossais, subitamente, em qualquer parte – mesmo sem ações bélicas -, não fogem ao nosso controle, e “tomam o freio nos dentes” e aniquilam tudo ?” (p.20).
Além de Fukushima há o fatídico acidente de Chernobyl, justamente na Ucrânia e feita com a colaboração russa, e a guerra atual há batalhas bem próxima da maior usina atômica de Zaporizhzhia, construída entre 1984 e 1995, é a maior usina nuclear da Europa e a nona maior do mundo.
As ameaças da Rússia devem ser levadas a sério, uma guerra nuclear coloca em cheque todo o processo civilizatória e talvez a própria humanidade, é preciso serenidade e paz.
O pensamento ocidental se submeteu ao frio e calculista pensamento matemático e físico, que até mesmo ele está em cheque.
HEIDEGGER, M. Serenidade. trad.de Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d.