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Arquivo para junho 19th, 2024

O Justo vê o Outro e é delicado

19 jun

Paul Ricoeur em seus dois volumes de O Justo irá se dedicar a desvelar esta relação, que envolve relações de poder, iniciando pelo grito que considerado justo: “Isto é injusto!” diz no prefácio de seu livro em referência ao primeiro capítulo do livro de R.J. Lucas “On the Justice” (1955) e reconhece nela uma proclamação de um protesto.

Como em boa parte da obra de Paul Ricoeur é no reconhecimento da face do Outro que devemos entender o príncipio da Justiça, mas faz uma longa análise da obra de John Rawls “Teoria da Justiça” porque não ignora relações de poder e sua influência na visão de justiça atual, até mesmo Habermas o analisou.

A experiência de injustiça é feita por nós próprios como por outros indivíduos e ainda mais por grupos humanos, em especial aqueles que estão em guerra por que consideram graves: o roubo de seus direitos, mas a experiência de injustiça requer uma reflexão profunda, em especial naqueles casos que há violência contra vítimas e a injustiça social.

Ricoeur retoma Aristóteles para analisar a “vida boa”, mas é preciso esclarecer que não é o sentido pejorativo de boa vida de malandros e oportunistas usado no senso comum, na linguagem aristotélica e da Grécia antiga o bom tem um sentido eminentemente ético, ou seja, o bem que se busca é inseparável do bem do outro, assim busca a paz e não o conflito ou a usurpação de bens como Eduardo Galeano classifica todas as guerras, é além de qualquer egoísmo repreensível, que rebaixa o sujeito o impedindo de atingir e ser respeitado no plano moral.

No ensaio verdade é justiça, do Justo 2, Ricoeur se refere à expressão mesma que serve de título ao seu livro O outro como um si-mesmo, onde comenta: “A fórmula de « Si-mesmo como um outro » é neste sentido uma fórmula primitivamente ética, que subordina a reflexividade do si à mediação da alteridade do outro.”

Há uma dimensão deontológica que não é distante da teológica no seu pensamento sobre o Justo, a ética de Ricoeur não se limita ao monologismo inerente ao formalismo kantiano, presente em John Rawls, ao mesmo tempo que se recusa a um apelo ao sentimento, digamos ao “coração” tem uma dimensão de “delicadeza” no respeito ao Outro.

Byung-Chul Han lembra em seu livro “No exame” que apenas uma relação é simétrica (diríamos horizontal, sem a relação de poder): “o respeito” e é esse respeito que nos leva a compreensão do Justo com relação ao Outro.

Assim aquele que pratica a justiça raramente busca holofotes ou brilho próprio, sabe que em essência o que faz é uma relação de respeito ao Outro, diferente e diverso.

Ricœur, P. Le Juste 1. Paris : Éditions Esprit, 1995.

 

Novo recorde do blog, ontologia e paz

19 jun

Ultrapassamos os 50 mil acessos mensais neste blog, deverá chegar próximo aos 60 mil no final do mês, já é um novo record, o último a muito tempo era acima de 30 mil.

Credito isto aos nossos desenvolvimentos atuais sobre a ontologia, a retomada da questão do Ser escondida pela ausência de uma filosofia que compreenda o Ente (as coisas que são presentes na vida real) e contemple o homem todo desvelando a relação com o Ser, em nossa brincadeira pessoal: o Ser do ente.

Não deixamos de tocar a questão da contemplação, a necessidade de uma verdadeira ascese espiritualizada e uma religião autêntica que preserve a vida e a dignidade de todos.

Ela está em conexão com nossos análises e constantes apelos a paz, a escalada de conflitos em âmbito mundial coloca a própria civilização em crise e como no período que antecede a guerra muitas narrativas distorcem as verdadeiras causas e perigos da guerra, novos tipos de colonialismo e discursos que ignoram o Outro, assim além das leituras frequentes de Byung-Chul Han e Heidegger, pontos centrais de nossos posts, não deixamos de analisar o dia-a-dia cotidiano e outros autores como Paul Ricoeur e Edgar Morin.

Agradeço aos leitores e manteremos o site e blog independente e sem qualquer patrocínio.