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Arquivo para julho 11th, 2024

O mal e a compaixão

11 jul

Hannah Arendt, em sua obra A Origem do Totalitarismo (original de 1951) censurou a teoria de Kant que defendia o mal como a busca da satisfação do amor de si,  e defendeu que o mal existe por diferentes motivos, como por exemplo, ganância, avareza, ressentimento, desejo de poder e covardia.

A genialidade de Byung-Chul Han analisa a obra de Heidegger a partir do coração e da modalidade afetiva, porém não é algo totalmente original, Kant confessa em seu livro “Conflito das faculdades” que “por causa de seu peito chato e estreito, que deixa pouco espaço para o movimento do coração e dos pulmões, eu tenho uma predisposição natural para a hipocondria, que em anos anterior beira o tédio da vida (Han, 2023, p. 8) e daí en Kant um “anseio expande o coração, o faz definir e esgota as forças” (Han, 2023, p. 9).

Han usa a metáfora da costureira (Näherin) de Heidegger que “trabalha na proximidade” e é ela também uma circuncidadora do coração” (pg 10) e ali “o coração do ser-aí” palpita no horizonte transcendental, assim conforme explica Han, no Heidegger tardio que “a contrição penetra mais profundamente” e o ser-ai separa-se do ser do aí: o dasein (p. 11).

Analisar as tonalidades afetivas do coração e sua ligação estreita com o ser-aí é mais do que descobrir a interioridade e a transcendência do discurso filosófico, ele é  “O coração de Heidegger, por outro lado [confrontado com Derridá], escuta uma só voz, segue a tonalidade e gravidade do “uno, o único que unifica”, para ele é um “ouvido do seu coração” porém há algo forte de espiritual nisto, mais que sentimento ou emoção.

A resistência do espírito, em nossos tempos, Han diz que o discurso de Heidegger é bastante temporal no sentido do contexto da segunda guerra mundial, é o discurso da paz, de anúncio da fraternidade, da superação de ódios e diferenças (irá recuperar o “ “Il y a” de Lévinas, e também o conceito de différance de Derrida), para ir além do conflito e da dialética hegeliana.

É preciso circuncidar o coração, esta é a origem do termo judaico, na leitura de Deuteronômio (10:16) citado em epígrafe por Han: “Circuncidai, pois, o vosso coração espiritual; retirando toda a obstrução carnal, e deixai de ser insubmissos e teimosos!”

Han, B.C. Coração de Heidegger: sobre o conceito de tonalidade afetiva em Martin Heidegger. Trad. Rafael Rodrigues Garcia, Milton Camargo Mota. Petrópolis: Vozes, 2023.