Metáfora viva e narrativa
Ambos são temas de Paul Ricoeur, porém estabelecer a ligação clara entre estes dois conceitos não é tarefa simples, o próprio autor não vai dizer entre a metáfora e a narrativa, há tal conceito.
Isto porque conforme já fundamos em um post anterior, é quase uma refundação do eidos (aquilo que era ideia para os gregos), dando a ela (a metáfora) uma “ideologia do inefável”, que é no entanto atingível posto que está na consciência como um não dito.
Também neste post frisamos que a metáfora viva começa onde a linguística termina, e a narrativa está em estreita ligação com a linguística, mas seria ousado dizer que a narrativa não é também uma forma de metáfora, então nesta intersecção inesperada entre narrativa onde a metáfora vive.
A metáfora na leitura dos gregos, na poética e de retórica de Aristóteles a palavra ou o nome são unidades básica entre a poética e a retórica, enquanto a segunda é mais voltada a mimese.
A ideia que a linguagem tem uma outra função além da convencional, foi defendida por Heidegger dizendo que ela tem esta outra função é a poética, e ela nos remete tanto à metáfora como outras figuras de linguagem que estão além da chamada “licença poética”, pois tem uma função retórica.
Encontra-se na definição corrente de metáfora como aquela figura de linguagem em que se verifica uma comparação implícita, porém qual a relação entre uma comparação e a metáfora?
Ricoeur esclarece que no núcleo desta relação, há “um pequeno enigma” no discurso aristotélico, na origem desta questão, “porque esse tratado (da Retórica), que declara nada acrescentar à definição de metáfora dada pela Poética, empreende no capítulo IV um paralelo sem correspondente neste último tratado, entre metáfora e comparação?” (Ricoeur, 2005, p. 42).
A primeira resposta de Ricoeur é que ela é depende “no interior do corpus aristotélico” (p. 42), mas vai objetar o propósito que não é explícito, “Aristóteles assinala a subordinação da comparação à metáfora”, assim “não é explicar aqui a metáfora pela comparação, mas antes a comparação pela metáfora” (pag. 43).
Este enigma torna-se na teoria da metáfora-enunciado em Paul Ricoeur, mais que uma rica figura de linguagem, ela é desmembrada em duas partes: “sob o nome de ´parabole’, é ligada à teoria da ´prova´(Livro I da Retórica), que consiste na ilustração pelo exemplo, que subdivide, por sua vez, em exemplo histórico ou fictício,; a outra sob o nome de eikon, é vinculada a teoria da léxis e posta no domínio da metáfora” (p. 44).
Os recursos e argumentos de metáfora viva permitem não só compreender as narrativas, mas penetrar em seus elementos constitutivos como recursos de linguagem e de conhecimento.
RICOEUR, P. Metáfora Viva. São Paulo, trad. Dion Davi Macedo. 2ª ed, Ed. Loyola. 2005