A origem e a crise do humanismo
As duas guerras e a tensão atual Rússia x Ucrânia e China x Taiwan, que não são outra coisa que a tensão agora entre dois tipos de sistemas coloniais o imperialismo capitalista e o imperialismo ideológico, que não é apenas marxista ou comunista, porque isto exige uma discussão sobre o tema.
Sua proposta, segundo o próprio Sloterdijk, foram bem compreendidas pelos participantes, entretanto na reação dos filósofos havia um conteúdo “fascista” nelas, qual seja da seleção genética da humanidade, ou na indução desta mudança.
Também tive esta reação numa primeira leitura, no meu caso a crítica a “Cartas sobre o humanismo” de Heidegger, um dos temas centrais que aborda, além do questioamento que faz da concepção do humanismo, a sua grande contribuição está em compreender a relação ôntica sobre a ontológica, invertendo a precedência que Heidegger faz do ontológico sobre o ôntico.
Na prática significa uma revisão do motivo da clareira, como a incorporação de sua história natural sobre a social (Sloterdijk, 1999, p. 61), significa que há uma dimensão natural sobre o ontológico.
Pessoalmente prefiro não submeter uma dimensão a outra, digo que elas cooperam, algo parecido àquilo que escreveu Henri Bergson em sua “Evolução criadora” (1907), porém aderindo ao místico, e é claro que isto depende de uma cosmovisão com algum fundo religioso.
A revisão que Sloterdijk faz da “Política” de Platão (Sloterdijk, 1999, p. 47-56) desenvolve as origens do humanismo na Antiguidade, no seu ver, ligada ao exercício de uma inibição, a do hábito de leitura capaz de pacificar, domesticar, desenvolver a paciência, em oposição aos frenéticos divertimentos do “desinibido homo inhumanus”.
A metáfora platônica supõe que essas diferentes naturezas se encontram no Ser, ou seja são ontológicas, e como matéria-prima para formar o cidadão grego (o político), há o artifício de separá-las de modo a ter a configuração desejada para sua função na polis.
É preciso lembrar que também os gregos já falavam da areté, o exercício da virtude, para usar um termo de Sloterdijk “uma vida de exercícios”, porém a visão do filósofo alemão é que este projeto fracasso, e na nossa análise que inclui a mística, significa que há um abandono do areté.
Assim, não faço aqui uma defesa cega de Sloterdijk, apenas constato que sua crítica ao humanismo é a este projeto “pacificador” do homem, daí o porque das “regras do parque humano”, sua sugestão da natureza ôntica, não significa necessariamente a manipulação genética.
Está por trás desta questão a pergunta se o homem é bom ou mão, como fizeram os contratualistas iluministas ao definir o papel do estado, então a pergunta de Sloterdijk procede.
Em meio a ameaça de guerras com perigo civilizatório a questão permanece, e a resposta é o tipo de humanismo que queremos, e os modelos em jogo ainda não são alternativas ao modelo do estado como aquele que “pacifica” o parque humano, daí o recurso da guerra.
Sloterdijk, Peter. Regeln für den Menschenpark – Ein Antwortschreiben zu Heideggers Brief über den Humanismus. Frankfurt/M, Suhrkamp, 1999. Tradução brasileira: Regras para o parque humano – uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. Tradução de José Oscar de A. Marques. São Paulo, Estação Liberdade, 2000.