Entre o ordinário e o extraordinário
O imenso universo e as imagens e pesquisas que o telescópio James Webb vai revelando nos mostram mais do que a grandeza da ciência o quanto a natureza e conhecimento humano são ínfimos perto da riqueza orgânica e misteriosa do universo se revela.
Não se tratam de descobertas de outros planetas habitados por seres orgânicos como o nosso, mas sim os limites das próprias leis da física a ponto de questionar o que é o tempo e o espaço absoluto a maior revelação da modernidade e da racionalidade, que agora está em mudança pelas leis da relatividade e encaminhada pela noção mais exata do que chamamos de eternidade.
Também na vida cotidiana existem fatos extraordinários, não aqueles proclamados por adivinhos, falsos profetas ou oráculos de uma sabedoria que já se sabe limitada, pela própria visão correta da ciência, incerteza e erro é o seu caminho mais seguro, ou como escreveu Bohr para Einstein: a raiz d todos males é a ideia humana de que alguém detém toda a verdade.
O período do Natal é para os cristãos a revelação de uma verdade nova e extraordinária, no sentido que ela está além de toda razão e ciência humana, por desejo divino Deus se fez homem, numa relação trinitária, desejo de Deus-Pai, concepção do Espírito Santo em uma virgem (ver post anterior) e um divino-humano Deus entre nós entra na história.
O fato é extraordinário porque a história se modificou e se modificará mais ainda como o passar da dimensão espaço-temporal na qual a vida humana está imersa, todos morrem e outros nascem e uma verdade divina vai se revelando através da noosfera, a esfera que a mente ou o espírito habita e a qual ninguém pode negar, porque até mesmos os erros e concepções filosóficas e teológicas estão imersos nela.
Os personagens bíblicos, homens sinceros apesar de seguidores de Jesus, também duvidaram de sua concepção, de sua vida (andar sobre as ondas do mar, a multiplicação dos pães, a cura do cego de nascença, a ressurreição de lazaro) ao todo 36 atos extraordinários dos quais 22 são curas, tudo isto um dia será conhecido pela ciência, é possível, porém foram feitos aquém deste tempo, quando a ciência dava passos iniciais.
Mas há os atos só divinos, como a passagem a pé enxuto pelo mar, a visão da sarça ardente de Moisés e o maior de todos os atos extraordinário, aquele que só a revelação divina pode confirmar, e talvez um dia a faça com algum fenômeno extraordinário, a virgem concebeu e Deus veio habitar entre nós, também ele morreu, mas a crença cristã é que ressuscitou e vive na vida eterna.
Até mesmo a virgem que concebeu, a jovem Maria prometida em casamento a José, que ao saber da notícia anunciada por um anjo duvida do que está acontecendo com ela própria (Lc 1,29): “Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da salvação”, assim os personagens bíblicos idealizados por teólogos e pastores, foram na verdade muito humanos e não supersticiosos (quadro de Leonardo da Vinci, Anunciação, por volta de 1472).
É verdade depois Maria cantará o seu Magnificat, sabendo que Deus a engrandeceu, mas só depois de andar quilômetros até a casa da prima Izabel, que também recebeu uma graça de ficar virgem na velhice, porém no caso dela não há algo tão extraordinário, são conhecidos casos na história de mulheres com idade avançada que conceberam.
A fé é acreditar no extraordinário, ainda que não esteja na posse dele, saber que é possível a intervenção de Deus na história, e o que o Natal representa é a grande intervenção que é a própria vinda do menino-Deus.