
A demora e o sentido da vida
Assim como qualquer apreciação de arte, qual narração que não seja uma narrativa fragmentada, exige um sentido de apreciação, sensibilidade e empatia e isto significa uma demora no tempo de vista, Byung-Chul Han escreveu: “o mundo está carregado de sentido. Os deuses não são mais do que portadores de sentido” (Han, 2016, p. 25), não estou aqui olhando a vida como um panteísta, mas dialogando com qualquer possibilidade de contemplação.
Os mestres da contemplativa foram mestres na demora e na “apreciação” da vida (leia Vita Contemplativa de Byung-Chul Han), para esta apreciação devemos ir na contracorrente do mundo atual onde “a narrativa ria o mundo do nada” (p. 25).
Han desvela a relação que temos com os sentidos na atualidade: “aqui [e agora] tudo tem sentido é a eterna repetição do mesmo, a reprodução do já sido, da verdade impercível. É assim que o homem pré-histórico vive com um presente que perdura” (Han, 2016, p. 26), um presente que não é uma atualização e sim uma repetição, e por isto há a confusão com o virtual, que no sentido etimológico da palavra é aquilo que já é em potencial, e não o mesmo.
O seu sentido mais profundo desvela também a pós-verdade “o tempo será desfactizado (defaktiziert*) e, ao mesmo tempo, desnaturalizado (entnaturalisier) (Han, 2016, p. 28) e a revolução hoje refere-se a um tempo desfactizado, ou seja, a volta a modelos anteriores que não correspondem aos problemas e realidades atuais, por isso é preciso falsifica-la.
Byung-Chul separa o tempo da oralidade do histórico ao compreender “o mítico que funciona como uma imagem”, e vê a história da galáxia de Gutenberg como aquela que “cede lugar ás informações” (Han, 2016, p. 30), para dar a estas uma definição inédita: “na realidade, a informação apresenta um outro paradigma. No seu interior, habita outra temporalidade muito diferente. É uma manifestação do tempo atomizado, de um tempo de pontos (Punkt-zeit)” (Han, 2016, p. 31), sem que ele tenha lido o “paradoxo da informação” de Stephen Hawking como uma previsão de “energias” que escapam do buraco negro.
É preciso separar esta realidade cosmológica desta informação, o megatelescópio James Webb detectou estas “energias” da realidade da informação atomizada e fragmentada, não há contextualização do pensamento, de sua etimologia e de seu significado contextual, um mundo de “informações” desnaturalizadas como aponta Han.
Tudo isto não é filosofia, é o consumo de informação diária de haters, avesso da cultura dos povos e das nações, por sua fragmentação e de uma narração com sentido, a falta de sentido.
Por isto a ansiedade, o consumo de informação de baixo nível, não é só desinformação, porque os que as proclamam não buscam as raízes etimológicas, sociais dos pensamentos que construíram e que podem dar sentido a elas.
*defatikiziert: poderia ser traduzido por de-fato, porém o tradutor teve o cuidado de mudar.
HAN, Byung-Chul. O Aroma do Tempo: um ensaio Filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa: Relógio d´Água, 2016.