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Arquivo para a ‘Linguagens’ Categoria

Rafael e o Mundo

24 nov

Manuel Alegre é um poeta português contemporâneo, quando foi militar na então colônia de Angola participou da primeira rebelião que tentava libertar Angola do jugo do seu país (foi preso pela PIDE, polícia de Salazar), depois se exilou, ganhou diversos prêmios entre eles o Prémio Camões em 2017, entre outros, escreveu “Jornada da África”, em 1989, “Alma” em 1995 e “A terceira Rosa” em 1998, porém seu livro que referenciamos aqui é “Rafael”(foto ref. a capa).

O seu período do exilio após sua prisão viveu em Argel, razão pela qual vai se referir no romance Rafael como alguém que viveu sobre diversos pseudônimos, as vezes se sente espanhol, português ou argelino, porém o sentimento mais profundo de Manuel Alegre é de um cidadão do Mundo, sem nome e em busca de referências.

No Livro Rafael anda de casa em casa, de hotel em hotel, modifica o nome, deixa crescer o bigode, usa óculos sem lentes, usa um passaporte em hotéis onde esconde sua cidadania e outro para viajar, em cada novo documento um nome e uma profissão diferente, é clandestino dentro de si mesmo, perdeu as referências e a própria identidade pessoal, ele já é e não é, não usa o nome próprio, tem quatro ou cinco pseudônimos que prefere, ora é francês, espanhol ou argelino, ele é sozinho, não no sentido próprio, como uma literatura solitária pode desejar, mas membro de uma brigada internacional, sente-se solidário a ela.

Ser e não ser já foi escrito por William Shakespeare, porém em Manuel Alegre adquire um sentido contemporâneo, o cidadão do mundo solidário a todos os povos, faço aqui uma incursão mística, que não está no seu livro e que julgo importante, não-ser é também parte do Ser quando somos solidários a outros povos, costumes e culturas, e no meu caso sem perder a própria, também o nome do arcanjo Rafael é para mim significativo, na origem hebraica El é Deus e Rafa é cura, assim Rafael tem o significado Deus cura, aqui no sentido de um mundo doente social e culturalmente, por não reconhecer outros valores e outras culturas.

Conheço 23 países, 4 da américa latina, 19 da europa, de modo especial Espanho e Itália pela minha descendência, e Portugal onde vi mais claramente toda influência no Brasil, porém ainda me sinto brasileiro e o hoje dia de estreia da seleção nacional em Copa do Mundo estarei com vizinhos e amigos torcendo pela seleção nacional, sem que isto signifique ódio ou desprezo por outros povos e culturas.

ALEGRE, Manuel. Rafael. Lisboa: Dom Quixote, 2003.

 

Os cristãos e as crises sociais

23 nov

Os valores cristãos que são universais são aqueles que promovem a fraternidade entre os homens e para isto lançam mão de suas virtudes chamadas teologais: fé, esperança e caridade, enter elas é a caridade que tem maior precedencia.
Sem a caridade um aspecto essencial daqueles que professam fé religiosa no advento de Jesus, festa que se inicia na próxima semana, cujo ápice é o Natal, sem esta caridade nem o maior altruismo ou a maior virtude pode alcançar a verdadeira fé cristã.
Em tempos de crise os homens não perdem apenas a fraternidade, ao lutar pela própria sobrevivência e visão de mundo, perdem também a esperança e com isto cresce não só o ódio, como a intolerância, o medo e a divisão entre povos e nações.
Assim é verdadeiramente heróico continuar a promover a caridade e a fé, e em diversos momentos da história foi preciso ir até mesmo ao martírio para mantê-los como valores, não é só a incompreensão dos valores cristãos, mas de todos valores humanos que entram em jogo quando o ódio e a divisão prosperam de diversas formas.
Tempos perigosos como lembramos no post anterior podem ser particularmente difíceis.
Quando também os cristãos são atacados é aí que sua verdadeira fé e valores são testados, diz uma passagem do evangelho de Lucas (Lc 12,13): “Antes que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos, sereis entregues às sinagogas [falsos templos] e postos na prisão, sereis levados diante de reais e governadores por causa do meu nome . Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”, mas o evangelho promete a proteção divina.
Assim não estamos imunes as dificuldades e divisões humanas, porém buscamos a unidade.

 

Tempos bicudos e más profecias

22 nov

É um fato que grandes mudanças e talvez até revoluções estão em curso neste momento da história da humanidade, porém a interpretação e falsos profetas é terrena e não divina, uma vez que olham somente para fatos terrenos, há algo divino também em curso?

Para os que creem sempre há, porém o que se especula em falsas profecias é o fim do mundo ou a nova vinda de Jesus (Parusia), diz o apocalipse através de Jesus quando pergunta quando será este tempo final (Ap 2,8-9): Jesus respondeu: “Cuidando para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”.

Mais claro impossível, mas também há algo divino no ar, a desestruturação civil levou junto valores éticos e morais, mesmo a justiça mais rigorosa parece escorregar pelo autoritarismo e a arrogância tendenciosa, os religiosos também parecem confusos, os políticos piores ainda, a radicalização pura confunde-se com propostas e valores autênticos de mudança sociai e apreço aos mais desfavorecidos socialmente.

Assim tanto há um quadro de crise civilizatória: desajustes de mercados, grandes potências em conflitos econômicos, sociais e em guerra ou próximos dela, ausência de líder estudo é  e organismos internacionais que tenham confiança e credibilidade, tudo é tendencioso e polarizado ao extremo.

No campo religioso vai ficando claro tendências mais espirituais e outras meramente políticas e terrenas, no mundo islâmico muita tensão e luta por direitos civis, o Irã há uma luta forte pelo direito das mulheres, há também tensões no mundo oriental, além da crise da China e da Coreia do Norte, os valores ancestrais e cultuais do oriente também estão em cheque, embora o discurso oficial negue isto, os jovens já questionam.

No Brasil a polarização política chega ao extremo, as eleições são questionadas e antes de tomar posse já há problemas no novo governo do PT que deverá se iniciar em janeiro, novos bloqueios em estradas e uma nova onda da Covid 19 volta a preocupar, a perspectiva de um entendimento na transição entre politicas radicalmente opostas é difícil não só no poder executivo, mas também no legislativo e jurídico.

Aos que creem Deus age sempre no extraordinário, ou seja, aquilo que os homens e os valores terrenos não alcançam, assim algo pode ser esperado no plano divino, mas sempre é totalmente diferente do racional humano, é imprevisível e completamente desconcertante para os homens, quem imaginaria Jesus ser criado em um vilarejo chamado Nazaré, hoje tem 72 mil habitantes, no tempo de Jesus menos de 10 mil.

Aos que creem sempre há um raio de esperança, sempre há uma luz divina alimentando e clareando a realidade humana.

 

A árvore boa dá fruto bom

16 nov

A ideia que é preciso desorganizar para obter uma nova ordem, não é revolucionário nem democrática é reflexo de má doutrina e más teorias, é preciso manter-se um caminho sereno e tranquilo para que se produzam frutos de uma sociedade saudável e equilibrada.

Estamos longe disto, porém a ruptura pode significar um mal ainda maior e sabemos que não se trata de valores apenas nacionais, mas internacionais, dá-se nomes diversos para isto: o grande reset, uma nova ordem mundial, crise do capitalismo ou do socialismo (ambos tem problemas) e no fundo é um processo de crise civilizatória.

Que crise é esta, aquela que diversos teóricos e políticos apontaram no passado, fruto das teorias totalitárias e perversas de poder, da fragmentação do conhecimento que não vê o homem como um todo, mas em aspectos específicos e [e claro de mentes poucos saudáveis que conduzem a sociedade para caminhos tortuosos.

Duas guerras, regimes totalitários (não esquecer as ditaduras de Franco na Espanha, De Gaule na França, Mussolini e Salazar), revoluções socialistas, crises do capital, sacrifícios das colônias africanas e radicalismo islâmico no mundo árabe.

O cenário pode preparar o maior dos engodos se não atentarmos para os frutos daqueles lideres que mesmo propondo a paz, a harmonia social e a defesa do meio ambiente preparam interesses escusos e inconfessáveis nos bastidores.

A parábola bíblica dos empregados que são deixados valores para administrar os bens do dono que viaja para longe serve para identificar os verdadeiros bons administradores através de seus frutos, diz a passagem depois do dono elogiar os bons administradores que deram bons frutos para da administração, diz ao que não fez nada com o que lhe foi dado para administrar (Lc 19,22-23):

“ ‘Servo mau, eu te julgo pela tua própria boca. Tu sabias que eu sou um homem severo, que recebo o que não dei e colho o que não semeei. Então, por que tu não depositaste meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros”, não é difícil identificar estes maus administradores.

Claro a passagem bíblica fala da vida espiritual, mas a lição dos bens materiais não deixa de ser importante, maus administradores levam ao empobrecimento e a perda dos ganhos sociais.

 

Felicidade e valores

04 nov

O humanismo na modernidade baseou-se na separação entre o sujeito e os objetos, assim toda subjetividade humana (nela se incluem os valores como humildade, compaixão e tolerância, entre outros) fica relegada a um plano sentimental e a objetividade refere-se apenas ao que é material.

Postamos sobre a humildade, o humus de onde brota a vida, a tolerância ao erro de onde brota o perdão e a mudança de rota e de onde brota a vivência de cada momento coo se fosse o último.

A felicidade não depende só de cosias materiais e não só os psicólogos que dizem isto, também os médicos e alguns sociólogos defendem a alegria de viver, neles há sabedoria real da vida, coisas aparentemente contraditórias como felicidade dos humildes, dos que sofrem, dos que tem fome e sede de justiça e daqueles que são perseguidos por suas crenças e valores.

No texto bíblico, explicando que religião é uma prática de valores que “religa” céu e terra, assim não é da terra para o céu (uma sublimação de valores) nem do céu para a terra (como querem os espiritualistas), mas dos que conhecem e vivem os ensinamentos religiosos, o maior deles, o Amor.

Assim diz o trecho bíblico das chamadas “bem-aventuranças” (Mt 5,4-6):  felizes os “aflitos, porque serão consolados, … os mansos, porque possuirão a terra.d os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” entre outros valores como: felizes os que são perseguidos os que desejam a paz porque serão chamados filhos de Deus.

Não há contradição entre céu e terra, ela existe entre os que estão apegados só ao céu (tudo fica no plano subjetivo) ou só a terra (tudo fica no plano da materialidade), e o complemento dos dois depende de amor, mas também de esperança e fé.

O Anuncio da ultima felicidade é de fato uma bem aventurança, porque poucos realmente tem fé, diz o trecho (Mt 5,11-12) “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim, alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

 

O erro e o caminho novo

03 nov

Nem tudo que parece perdido o está de fato, é sempre possível a retomada do caminho, um novo alento, a aprendizagem com os erros do passado, e todos nós erramos, porém poucos estão disposto a retomar um caminho e  seguir em frente.

Aqueles que não estão dispostos também não devem ser considerados perdidos, com paciência e sem preconceitos é possível mostrar que existe um caminho da serenidade, da solidariedade e da vida feliz, é preciso para isto empatia e paciência.

Por outro lado convicção de que se está no caminho certo pode levar a dogmatismos equivocados (o dogma da fé por exemplo, deve ser dogma dos misericordiosos e não dos acusadores), e também os que se julgam certos podem estar indo por carinhosos tortuosos, é preciso diálogo.

Para quem tem fé ter o caminho certo requer a presença do Espírito Santo e depende de não pecar.

Se estivermos certos e convictos que nossa retidão e clareza pode auxiliar a encontrar o que está perdido então devemos ter uma atitude empática, paciente e resiliente, em tempos sombrios a radicalização é má conselheira e pode levar a maiores perdas do que aquelas que se julga perdida.

Há uma parábola bíblica no Evangelho de Lucas (Lc 15:4) que fala da ovelha perdida, que há mais alegria de encontra-la do que o rebanho que caminha unido, assim lançar a busca aos distantes, aos diferentes é antes de tudo sabedoria e caminho.

A parábola bíblica diz que há mais alegria no céu por uma ovelha perdida que foi encontrada, que outras cem que já est]ao no rebanho.

Também em outro trecho diz-se que ao encontra-la vai cuidar das feridas, tratar com alimento e dar condições de recuperação, assim a paciência e a empatia devem continuar presentes.

Um ambiente hostil e violento não favorece ao encontro, mas ao desencontro, ao ódio e isto só leva ao erro e a mais caminhos perdidos.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pós-Deus ou a tentativa de Teocídio

11 out

Mais do que a leitura de Nietzsche sobre a “morte de Deus”, entender o radicalismo religioso, além do evangélica, há o semita, o islâmico e correntes neopentecostais, a leitura de Pós-Deus, é na verdade uma releitura da questão do mal ou de modo mais correto “Deus está morto, e fomos nós que o matamos”, aquilo que chamo de tentativa de Teocídio, impossível, quer ele exista ou não.

Se Deus existe não poderá ser morto apenas apagado da mente humana, na lógica do hegelianismo de Ludwig Feuerbach ele existe apenas na mente humana e neste caso não existiria de fato e caso exista não poderemos mata-lo já que é imortal e precede a todos e a tudo.

Peter Sloterdijk em parte da proposição e claro da hipótese que ele só exista na mente humana, uma fantasia delirante dos homens, dizem muitos ateus convictos, já que os gnósticos não consideram a hipótese, o mais importante filósofo alemão vivo (considero o papa emérito também importante), vai analisar além de Nietzsche e de Cioran, o intermezzo de Lutero.

Lutero é particularmente importante porque é a raiz não declarada do pensamento de Nietszche, filho de pais e parentes luteranos, alguns pastores, a reforma protestante é fundamental para se intender o fenômeno religioso ou a chamada “revanche do sagrado”, ela entrou na cena política.

O livro, com este nome atrairá poucos cristãos, tem um interessante percurso de diálogo que passa por Hans Jonas (The Gnostic Religion), Harold Bloom (Presságios do milênio), Franco Volpi (O niilismo), Sergio Givone (Storia della nulla), Ioan Culianu (The Tree of Gnosis) e Sylvie Jaudeau (Cioran ou le deernier homme), todos autores e exegetas de Cioran, que teve uma experiência mística “desfigurada” de natureza ateia, desencantadora e niilista.

Quem foi Emil  Cioran (1911-1995), autor que escreveu a partir de Nag Hammadi, uma série de manuscritos encontrados após a Segunda Guerra que matou mais de 40 milhões de vidas, na África a 50 km de Luxor, num grande recipiente de barro, numerosos códices de papiro escritos em língua copta e em grande estado de conservação.

A grande biblioteca “gnóstica” rapidamente se espalhou entre os intelectuais, data de cerca de mil e setecentos anos atrás, portanto durante a emergência ocidental do cristianismo, o autor projeta uma mensagem mística para o nosso estado atual.

Permanece até hoje está aura de “descoberta” de Nag Hammadi, na verdade dava asas ao que chamo de Teocídio, tirá-lo não só das mentes e sim construir uma “mística” niilista sem Deus, porém ela não escapa do que é, um niilismo exótico.

Sloterdijk fala da ascese desespiralizada, Cioran também o é, a busca de uma ascese sem toda esta falsa radicalidade difusa, não resiste a mínima ideia de princípios praticados, confunde a todos, e a política também está contaminada por ela, o único caminho possível para todos parece ser o ódio.

O ódio é o Teocídio mais veemente e eficiente, onde ele entrou, qualquer ascese possível saiu.

SLOTERDIJK, Peter. Pós-Deus. Trad. de Markus A. Hediger. Petrópolis: Vozes, 2019.

 

Arrependimento, graça e gratidão

07 out

Quando conseguimos nos encontrar com o Outro, perdoá-lo e também arrepender naquilo que não foi bem neste encontro, encontramos espaço na vida para a graça e a gratidão, não por acaso um é derivativo do outro.

A gratidão não exclui mas supera sentimentos ruins de nossas vidas, também o excesso de positividade pode levar as exigências e aos perfeccionismos que não levam a um encontro, mas a exclusão do Outro, tolerar pequenas faltas, que muitas vezes são só diferenças, é necessário para alcançar a graça, e a graça quando chega até nós deve encontrar a gratidão.]

Muitos lembram de pedir graças, quando não pedem a Deus, pedem a alguma forma de falsa mística ou falsos deuses, encontrar energias cósmicas, que de fato existem, mas só terão uma ex-sistência se estiver diante do Ser, aquele que é e aquele que sempre foi, afinal a teoria mais atual da física é que antes do Big Bang já havia algo, então algo além desta ex-sisência, um puro Ser.

Assim uma verdadeira filosofia da graça deve levar a gratidão, não é apenas o Universo e a sorte que conspiram, ou mesmo algum “segredo” que seria a pura positividade, ela pode ser ilusória.

Assim a gratidão afasta os sentimentos de maldade e intolerância de nossas vidas, inclui as pessoas que de fato são boas e aumentam nossa potencialidade para as boas virtudes.

Na passagem bíblica em que 10 leprosos são curados, somente um volta para agradecer a Jesus,

Ao vê-lo Jesus pergunta onde estão os outros (Lc 17,17-19): “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

A ingratidão não apenas afasta a graça, mas explica sua ausência e a dificuldade de conviver em ambientes de harmonia, sinceridade e paz.

 

Arrepender, recomeçar e graça

06 out

Arrependimento não é o mesmo que remorso, este fica vinculado ao passado e impede um recomeço positivo, não há consciência da culpa e não se alcança novo estado de graça.

A graça é viver a vida em plenitude, com os limites que a vida impõe a todos, porém arrependidos, pode comprimir o passado estritamente ao que foi: um erro, e viver bem o presente e o futuro através da superação de uma angústia que é inalienável a responsabilidade da falta ou erro cometido.

Arrepender-se é viver intensamente e verdadeiramente o presente, ainda que algum sofrimento ou marca fique do passado, quem deu um passo após isto conseguiu recomeçar.

Ludwig Feuerbach, mais conhecido pelas Teses de Marx contra o hegelianismo dele, chamado de velho hegelianismo, na sua maturidade escreveu sobre o remorso, sua leitura é importante pelo confronto que faz tanto com Schopenhauer como com Kant.

Feuerbach reconhece a originalidade do sujeito e o propõe num âmbito mais amplo de liberdade, exame o remorso e o arrependimento como condições de imputabilidade de um ato,

Em oposição a Schopenhauer, Feuerbach vai afirmar que o caráter de um homem não é inato, nem imodificável, por isso é equivocada a pena de morte, e também aqui cabe a discussão sobre o direito do Estado Moderno sobre a vida humana, tema sempre polêmico e importante.

Contra Schopenhauer, Feuerbach afirma que o caráter do homem não é inato, nem imodificável, por isso é equivocada a pena de morte. 

O fundamento da liberdade é o eu que age no jogo das paixões e é essencialmente a relação com o Outro, o que é amplamente explorado na literatura moderna por Paul Ricoeur, Lèvinas e outros autores, há uma retomada fenomenológica desta questão.

As sugestões no campo da moral e jurídico é essencialmente em relação esta relação com os outros, e as sugestões nestes campos são particularmente interessantes, mas permanecem as questões éticas, como aquela do fundamento absoluto da obrigação moral, que está posta em Kant na explicação do que é consciência moral.

Esta discussão se amplia em alguns autores para o campo da sensibilidade (SERRÃO, 2007) e da mística (TOMASONI, 2010), onde se pode incluir de modo mais amplo a questão da graça, acrescentaria o reconhecimento da graça onde há arrependimento e recomeço.

Referencia:

SERRÃO, Adriana Veríssimo. Pensar  a sensibilidade.  Baumgarten  –  Kant  –  Feuerbach,  Lisboa,  Centro  de  Filosofia  da  Universidade  de  Lisboa 2007.

TOMASONI, Francesco. Tra  misticismo  e  scienza:  l’uomo  e  la  sua  ‘sensibilità’  nell’Eklektik,  in: L’umanesimo scientifico dal Rinascimento all’Illuminismo, a cura di Lorenzo Bianchi e Gianni Paganini, Napoli,   Liguori   2010,  

 

Sabedoria do alto, mal estar civilizatório

30 set

A Sociedade do Cansaço é também uma sociedade que levou adultos, jovens e adolescentes aos psiquiatras ou a métodos alternativos, àqueles que tem pouco recursos levou a grupos fechados e de consciência social as vezes duvidosa.

Não por acaso Freud escreveu no início do século passado sobre este “Mal estar da civilização”  (Freud, 1930) o autor não vai discutir a questão psíquica em si, mas a distante entre os impulsos pulsionais e a civilização, ou seja a cultura contemporânea que leva o homem ao seu oposto tanto quanto a natureza quanto ao seu bem estar.

A intolerância aos erros, equivoco até mesmo científico, a exigência de eficácia em todos os campos, a falta de empatia e amor na vida cotidiana e em especial, de valores que são naturais e levam a uma verdadeira ascese humana, leva aos conflitos emocionais e sociais a limites perigosos.

Ao detectar este mal, o próprio Freud fundador da psiquiatria não levou a humanidade ao divã, e sinto apontou que há males culturais e estes sim devem ser sanados primeiro, não é o que foi feito, neste sentido Sloterdijk tem razão não é possível a “domesticação” humana.

Ainda que as próprias religiões vivam sobre este mal civilizatório, a verdadeira ascese que é subir a montanha da sabedoria tendo sobre os pés valores que sustentam esta ascese é necessário para alcançar um verdadeiro estágio civilizatório, é preciso “amar na ausência” é preciso pretender os verdadeiros valores que levam a plenitude e ao verdadeiro e único conforto, empatia e amor.

Quando retiramos isto da sociedade, ela começa a caminhar para o isolamento, o ódio e os conflitos e o “mal estar” são apenas as consequências da ausência deste estado “natural”, porém uma planta só evolui se cuidada em suas condições naturais: adubo, água e sol adequados.

Quando os discípulos vão pedir a Jesus que eles queriam acreditar mais e fazer uma verdadeira ascese ele lembra do grão de mostarda, minúscula semente que se transforma numa frondosa arvore, (Lc, 1,6): “se vós tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, , poderíeis dizer a esta amoreira arranca-te daqui e planta-te no mar: e ela vos obedeceria”, como o amor na ausência, a fé é crer sem ver e caminhar na direção de uma verdadeira ascese.

FREUD, S. O mal-estar na civilização (1930 [1929]). In: ______. O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Direção geral da tradução: Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974. p. 73-171. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 21)