Arquivo para janeiro 3rd, 2025
Testemunhar e agir na paz
Pode parecer que a paz vista como uma nova maneira de pensar as relações pessoais e sociais, seja algo intimista ou pura “interioridade” (ela é complemento da exterioridade), mas não é, pois é possível agir conforme esta paz diferente daquela concebida como apenas humana.
Esta paz interior, que não é a que desenvolvemos no post anterior, não é aquilo que os gregos chamavam de ataxia, paz de espírito livre de medo, e nem a aponia, ausência de dor, que seriam os estados ideais de vida, a dor e o medo existem, em especial em momentos de crise.
Na verdade, é esta má relação com a dor e com o medo que faz a sociedade mergulhar mais fundo em sua crise, a busca do prazer sem medidas e a ausência do temor de atitudes e ações cotidianas contrárias a paz no mundo, as guerras começam em pequenas ações de ódio.
Comprometer com a paz, no âmbito da verdade pode inclusive colocar até mesmo a vida em risco, afirma Tomás de Aquino: “Quem diz verdades perde amizades”, mas é preciso dizer que sua verdade não é lógica e sim onto-lógica, ou seja, segue uma lógica do Ser.
Retomamos já em posts anterior a questão das virtudes cardeais, apontadas especialmente por Philippa Foot (filósofa inglesa), em Tomás de Aquino encontramos a conexão entre a paz e estas virtudes: justiça, sabedoria, prudência e caridade, para o Aquinate a paz se concretiza em meios aos homens se estas virtudes auxiliarem a produção desta paz desejada pela humanidade.
Tomas de Aquino entende a paz também num sentido mais amplo: “a paz é a tranquilidade do modo, da espécie e da ordem” (Aquino, 2019) ( Vale ressaltar que, por ordem, entende-se que cada coisa está no seu devido lugar) .
Assim junto as virtudes da justiça, sabedoria e prudência, deve-se ter o vínculo da caridade, que não simples apreço ou amor mundano, a caridade não unifica só os apetites de indivíduos, também leva cada homem a amar o seu próximo como a si mesmo, isto é, a querer realizar os desejos e necessidades do próximo como se fosse os seus.
Diz o doutor Angélico: ““Paz nada mais é do que a unidade dos afetos, o que é próprio de Deus somente, porque é pela caridade – que só procede de Deus –que os corações são unidos. De fato, Deus sabe reunir e unir, porque Deus é Amor, que é o vínculo da perfeição” (Aquino 2019).
Assim esta paz desejada depende mais que o amor divino, coloca-lo em prática em nossa vida e em nosso dia a dia, iluminar relações conflituosas com a concórdia e a unidade.
SANTO TOMAS DE AQUINO. Corpus Thomisticum. [S. l.]: Fundação Tomás de Aquino, 2019. Disponível em: http://www.corpusthomisticum.org, acesso: dezembro 2024.