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Dostoiévski e a guerra

06 jan

Imaginar que toda literatura russa seja soviética, é antes de tudo a-histórico porque grandes mestres da literatura são anteriores ao período soviético: Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Anton Tchecov (1860-1904) e Leon Tostói (1828-1910), sem falar de Gogol, Pushkin e outros.

Dostoievski foi um mestre em explorar as questões éticas e espirituais em seus personagens, também aborda questões de fé, redenção e a busca pela verdade.

Dostoievski esteve preso por motivos políticos, seu estilo de literatura era realista, porém do ponto de vista filosófico para dar uma conotação mais precisa era um existencialista, suas ideias anti-czar (a monarquia russa) fazem muitos interpretes o colocam como “revolucionário”.

Dostoievsky pertenceu a um grupo conhecido como Circulo Petrashevsky, apesar de serem de correntes diferentes, eram majoritariamente progressistas e queriam o fim do feudalismo russo.

Entre suas obras mais conhecidas estão: Os irmãos Karamazov, O idiota e Crime e Castigo, embora sejam dramas éticos e existencialistas, há no interior destas obras o ideal do pan-eslavismo, um ideal de unidade entre todas as nações cristãs ortodoxas e eslavas e neste sentido eram conservadores, já que outras correntes defendiam a integração à Europa.

O Idiota, foi um romance iniciado em setembro de 1867 quando o autor estava em Genebra e concluído em janeiro de 1869 na cidade de Florença, só isto indicaria seu caráter universal e com temas que extrapolam o âmbito literário e político.

O idiota narra a estória do jovem príncipe Míchkin que, após vários anos em um sanatório na Suíça, regressa a Rússia e se depara com um mundo atolado na indolência e na vida material.

Ao contrário do título, o personagem visto por muitos como idiota por se recusar a valores e ao espírito de indolência regressando ao seu país, sente-se um idiota até certo ponto, porém nos ensina que é possível viver fora dos padrões antiéticos e imorais do seu tempo.

O personagem resolve ser cortês e sincero num mundo corrompido e escreve o autor sobre ele: “Ninguém deve esperar mais do que isso, de mim. Talvez aqui também me olhem como uma criança; não faz mal” e complementa: “Mas posso eu ser idiota, agora, se me sinto apto a ver, por mim próprio, que todo o mundo me toma por um idiota? Quando cheguei, pensei: “Bem sei que me tomam por um idiota; todavia tenho discernimento e eles não se dão conta disso!…”.

Assim o drama russo de viver o pan-eslavismo ou a integração ao ocidente já estava presente.