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Hubble, infinito e pós-modernidade

24 abr

Há vinte e cinco anos, exatamente no dia 24 de abril de 1990, o ônibus especial DiscoveryNebulosa decolava para colocar em órbita um observatório com um telescópio Hubble, colocado na órbita do planeta, que mudaria a nossa visão do universo, nossa visão da física e quiçá da vida.

Foi possível observar pontos que antes eram inacessíveis aos olhos humanos e eram mistérios para os pesquisadores. Como a Nebulosa Olho de Gato (foto) detectada em 2004, uma nebulosa que está há 3.000 anos luz da Terra, uma nebulosa é um sol que passa a ejetar seus gases antes de se estabelecer como uma estrela solar. Como também a nebulosa Carina, a 7500 anos luz da Terra, formada por gás e poeira que permite aos astrônomos estudarem detalhes da formação de estrelas, a foto foi capturada em 2007.

A revolução copernicana que tirou a visão do geocentrismo, ideia que a terra era o centro do universo, auxiliou a liberar o homem de ideais teocentricos confusos e fazer emergir a ciência e a modernidade, que agora também estão em crise, mas o fato que enxergamos mais longe pode fazer com que nossa miopia seja ultrapassada e passemos a olhar o Outro não como extensão do eu e do Mesmo, mas com iguais direitos que Eu.

A partir da Terceira Meditação Cartesiana, o filósofo Emmanuel Levinas estabeleceu em sua obra Totalidade e Infinito, que há uma ruptura com a categoria da totalidade, que é a partir da relação entre o cogito e a ideia do infinito desenvolvida em Descartes, e de onde Levinas extrair seu projeto de repensar a relação entre o Mesmo e o Outro no plano da ética como filosofia primeira.

“E não devo crer que não percebo o infinito por uma verdadeira ideia, mas somente por uma negação do infinito .. ao contrário entendo de modo manifesto que há mais realidade na substância finita do que na finita e, por conseguinte, que a percepção do infinito é, de certo modo, em mim anterior a percepção do finito, isto é, que a percepção de Deus é anterior à percepção de mim mesmo, pois qual a razão por que me daria conta de que duvido, desejo, isto é, que sou indigente de algo e de que não sou totalmente perfeito, se não houvesse em mim nenhuma ideia de um ente mais perfeito por comparação com o qual conheço meus defeitos ?” (Descartes, 2004, p. 91-92).

Levinas reflete primeiro sobre a sua “duvida de tudo” que é contraditória com a percepção externa da ideia de infinito, uma vez que não é mais o cogito (a dúvida sistemática) que pensa o infinito, mas provém do “eu penso” e deveria ser da própria ideia da substância infinita (agora vista pelo Hubble), o segundo é a inadequação, pois o infinito não é um transbordamento do ideatum, mas a relação exterior que admite a experiência com o novo, o impensado e, portanto, fora da totalidade.

É neste infinito “impensado” que Levinas afirma a relação do Mesmo com o outro, “sem que a transcendência da corte os laços que uma relação implica … “ (Levinas, p. 35), e deste modo Levinas mostra como a modernidade fixa esta relação na base do “eu penso” próprio do racionalismo moderno, e esta é a distância entre a ideia do Outro com o ideatum que está no “ser transcendente, o infinito é o absolutamente outro” (Levinas, Totalidade e Infinito, p. 35-36).

É deste modo que separa a ideia de infinito de Descartes que está na busca filosófica da existência de Deus, enquanto em Levinas está vinculada à procura de uma relação entre o Mesmo e o Outro, que mantenha a exterioridade do Outro, e não presa a ideia do Mesmo.

DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia primeira. São Paulo-Campinas: Editora da UNICAMP, 2004.

LEVINAS, E. Totalidade e Infinito, Lisboa-Portugal, Edições 70, 1988.

 

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