Os que não enxergam o Outro: o antidiálogo
O mundo todo conhece Paulo Freire, curiosamente para muitos brasileiros não, diálogo aqui é às vezes sinônimo de hipocrisia, de falsidade ou de mera oposição.
Mas relendo Paulo Freire encontramos até mesmo uma não separação entre sujeito e objeto, fato consumado do idealismo contemporâneo, dito assim pelo autor nacional :
“Toda conquista implica num sujeito que conquista e num objeto que é conquistado. O sujeito da conquista determina suas finalidades ao objeto conquistado, que passa, por isto mesmo, a ser algo possuído pelo conquistador. Este, por sua vez, imprime sua forma ao conquistado que, introjetando-o, se faz um ser ambíguo. Um ser, como dissemos já, “hospedeiro” do outro”. (FREIRE, 1983, p. 162).
Como este “hospedeiro” se instala na educação antidialógica, através de um recurso bastante comum que é o verbalismo, o opressor fala quanto quer e dá um tempo restrito de resposta ou apenas de pergunta, uma vez que o considera sem capacidade de responder, dito assim:
“Este modo de pensar, dissociado da ação que supõe um pensamento autêntico, perde-se em palavras falsas e ineficazes” (FREIRE, 1980, p. 87).
Para Freire a palavra autêntica é práxis44, deve manter o diálogo constante entre teoria e prática. Por isso, também a palavra que é só ação se transforma em ativismo. O diálogo é incompatível com as autossuficiências (as de grupo também) e exige um pensar autêntico: dialógico.
Pensar significa perceber uma realidade historicamente e assim deve-se superar a ignorância conhecendo a história e sendo capaz de superar a dicotomia homem-mundo, tornando-se um homem mundo, capaz de entender outras culturas.
Este homem-mundo, para Freire , diferente são seres do puro fazer (consciente):
“Os homens, pelo contrário, como seres do que fazer, ‘emergem’ dele e, objetivando-o, podem conhecê-lo e transformá-lo com seu trabalho” (FREIRE, 1983, p. 145).
Freire (ibid, p. 156) denuncia que a ideologia opressora promove a absolutização da ignorância.
Dessa forma, os opressores se reconhecem como os que nasceram para saber e sabem conviver com o oposto, no dizer do direito: o “contraditório”.
Assim o diálogo fica impossibilitado e a opressão, a heteronomia se mantém. A desmistificação dessa idéia de ignorância das massas deve ser fruto do processo de libertação, os opressores jamais vão fazer isso, pois eles se beneficiam dessa situação.
Aliás, o antidialógico, o dominador, quer conquistar aquele que lhe é oposto, o seu diálogo é proselitista.