A cruz, a morte e a filosofia
Enganam-se os que imaginam que a sexta-feira santa, onde há o beijo na cruz, seja algo exclusivo de religiosos ou que a morte e a cruz jamais foram assuntos filosóficos.
Sócrates tem no pensamento sobre a morte algo essencial, porque permite a alma que se distancie da matéria orgânica e penetre numa esfera essencial onde estaria o verdadeiro conhecimento, e, portanto só então atingiria o saber de forma pura: a sabedoria, por isto estava pronto a morrer e não por acaso, morreu tomando cicuta, sua própria cruz.
Na visão dele o homem é guiado por um gênio ou “daimon” que lhe orientara durante o estágio material na direção de Hades, o reino dos mortos, onde é submetido a um necessário julgamento (sic) e após estagiar aí renasceria num corpo físico, aqui se distancia de Cristo.
Há em Sócrates algo quase despercebido, mas essencial, para ele a verdade não está com os homens, mas “entre” os homens, poderíamos dizer uma categoria alter-ontológica, e filosofia continua a explorar o tema de Platão (428-347 a.C.) a Heidegger (1889-1976) o tema.
Schopenhauer (1788-1860) que é uma das rupturas com o pensamento tradicional moderno, afirmou que: “A morte é a musa da filosofia, e por isso Sócrates a definiu como preparação para a morte?. Sem a morte, seria mesmo difícil que se tivesse filosofado.”
Se a existência é uma verdade, a morte também, por isso Ser é mais que existir, ainda que a filosofia confunda as duas coisas, e Ser talvez seja algo que ultrapasse a morte, então existiria algo do outro lado, mas a passagem é a cruz, a dor diz a mensagem cristã, em seu mestre máximo pregado a uma cruz, talvez a resposta esteja ali no paradoxo: vida além da morte na dor, mas uma dor que tem significado do amor mais profundo: dar a vida pelos semelhantes.
O quadro de Sócrates (A Morte de Sócrates – Jacques-Louis David, 1787) parece dizer sua frase “A ignorância é o único mal”, e o quadro de Jesus crucificado (“Cristo crucificado entre dois ladrões”, pintura de Peter Paul Rubens) parece dizer “Amando, amou a todos”.