Reforma política: qual democracia
Os reformadores do sistema político brasileiro, com dificuldade de reconhecer a podridão do chamado “governo de coalização”, para alguns “natural” com as compras e vendas de cargos, propõe que olhemos para o sistema norte-americano como se fosse uma maravilha.
Quem a estudou foi Alexis de Tocqueville, jovem francês que chegou a New York em 1831 com 26 anos de idade, com o amigo Gustave de Beaumont, para estudar o sistema penitenciário, mas acabou estudando o funcionamento do regime político e da vida americana.
Vindo do país da famosa “Revolução Francesa” encanta-se com o sistema americano, escreveu sua principal obra A democracia na América (La Démocratie en Amerique), cujo primeiro volume foi impresso em 1835 e o segundo em 1840, para ele a questão da participação e das associações (valores cívicos) são os fundamentos da democracia norte-americana.
Tocqueville atribui um caráter “sagrado” à democracia ao afirmar que querer detê-la seria como lutar contra o próprio Deus, e só restaria às nações acomodar-se ao estado social que lhe impõe a Providência, não é a toa que tanta gente “religiosa” acha isto maravilhoso.
Mas o objetivo não é maior participação, e sim esvazia a democracia para perpetuar grupos no poder, Tocqueville afirma: “(…) A igualdade produz, com efeito, duas tendências: uma conduz os homens diretamente à independência e os pode impelir de repente para a anarquia; a outra os conduz por um caminho mais longo, mais secreto, mais seguro, para a servidão” (1987: p. 512), assim o objetivo oculto é manter determinados grupos no poder (não só econômicos).
Embora manipule a ideia de povo, ignorando o poder econômico e dos grupos editorais, veja o Donald Trump nas eleições, afirma: “O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo”, afirma Tocqueville (1987, p. 52).
O estado como “mediador” das classes é elogiado: “não haverá independência para ninguém “[…] nem para o burguês, nem para o nobre, nem para o rico, mas uma tirania igual para todos; […] se não se chegar mesmo com o tempo a fundar entre nós o império pacífico da maioria, chegaremos […] ao poder ilimitado de um só” (TOCQUEVILLE, 1987: p. 242), mas um só pode ser uma minoria que manipula a opinião pública.
A reforma que se propõe ao sistema brasileiro, ignora que lá Trump poderá chegar ao poder, que Nixon e Reagan, governaram de modo quase imperial com congresso e câmara aprovando guerras pavorosas em todo planeta, a reforma que precisamos é a moral e a social, mas …
TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987