A eclipse de Deus e a pandemia
Martin Buber, que era judeu, dá o nome ao seu livro “A eclipse de Deus” (1952), pois para alguém que acredita, e se crê Deus não está morto, porém inegavelmente algum véu “sólido” o eclipsou na modernidade, que o faz parece em “dissolução”, conforme afirma Buber.
Concordo e é sempre minha análise, que a incompreensão da conjuntura do pensamento atual, já falamos da noite do pensamento nesta semana, Buber também afirma que foi a emergência do pensamento Idealista de Kant que afirma que “Deus não é uma substância exterior, mas apenas uma relação moral em nós”, e Hegel que vê Deus como uma abstração.
Entretanto a síntese hegeliana é tão poderosa, é o ápice do idealismo para diversas leituras que se pode fazer dele, a sua abstração vai confundir o trinitário divino, com uma “abstração absoluta”, usando as categorias em-si, de-si e para-si, onde o “para” não é um além, mas um voltar a si.
Não excluo duas vertentes fora deste contexto, porém o hegelianismo “jovem” de Marx encontrou Feuerbach, também a necessidade de negação do absoluto, e partindo da teologia atéia de Feuerbach (de certa forma também kantiana), o idealismo religioso de Steiner, Bruno Bauer e outros, que os chama de “são” Bruno, Steiner, etc.
O ‘Deus está morto’ de Nietzsche, é decorrente justamente de sua formação fideísta e fundamentalista, vindo de família luterana tentará negá-lo (a Deus) por toda sua vida, porém é importante lê-lo porque desvenda aquilo que chama muita gente a uma fé fundamentalista e pouco “substancial”, isto é desligada da realidade.
Chegamos ao fundo do posso no existencialismo moderno, e a crise pandêmica nos leva de volta a ele, a busca de uma razão para a existência, que procura saber se a insistência na “necessidade religiosa” não aponta algo inerente a natureza humana.
Este é o problema que “atormenta” Buber, que escreveu também Eu Tu onde ele praticamente afirma a existência de um Deus horizontal presente na relação humana, não sendo cristão é curioso pois descobre aquele que está “entre dois ou mais que estão em meu nome” (Mt 18,20), como uma relação com Deus, para os cristão é Jesus.
O problema central, que é o a Trindade, Deus pai, Jesus e o Espírito Santo, não será tratado por Buber, mas ao comentar o existencialismo de Sartre, como parte da crise existencial da modernidade, afirma: “Será que o existir, como o entende Sartre, não significa realmente estar aí ‘para si’, encapsulado em sua subjetividade, ou será que significa estar aí perante determinado X – não um X qualquer, ao qual se devesse atribuir determinada grandeza, mas o X por excelência, o indeterminável e perscrutável?“, questiona Buber.
O problema existencial é que sem o Deus “substancial” e ele existe se acreditamos que Jesus é Deus não é separável do Deus trino, e a fé é inseparável deste “meio Divino”.