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A variação eidética, método e phonesis

30 abr

A filosofia que tentava superar Kant, mas ainda estava de algum modo vinculada a sua tradição lógica é chamada de filosofia continental, Frege é um pouco a partir porque parte para o que ficou chamado de filosofia analítica, com sérias consequências até hoje, mas o assunto é profundo.
Assim a hermenêutica desde Scheiermacher a Dilthey é ainda aquele que por uma certa “construção lógica” chegamos a interpretações dos textos de modo “correto” ou “objetivo’.
Paul Ricoeur e Hans Georg Gadamer nos libertarão disto, traçam uma ontologia onde há um reconhecimento do pré-conceito (a forma de escrever é nossa) e a compreensão final podem ter aberturas e “fusões de horizontes” onde o contexto temporal afeta a ontologia do intérprete.
Esta “abertura” é coerente com os modelos da física, onde o observador faz parte daquilo que é observado, e sua visão de mundo interfere diretamente na sua interpretação, assim tem um aspecto temporal que é no fundo o que Heidegger desvela no “Ser e tempo” (1927), porém a descrição do círculo hermenêutico de modo sistemático só aparece em “Verdade e Método” (1960) de Gadamer e “Tempo e Narrativa” (1983) de Ricoeur, termo muito usado atualmente e pouco conhecido.
Antes de entender a fusão de horizontes, usando a subjetividade kantiana, podemos dizer que há uma intersubjetividade, após um texto ser publicado ele deixa de ter a intenção autoral e está sujeito a interpretação e não há uma única leitura “correta”, porém não significa relativismo.
Um texto de impacto provoca as vivências dos leitores, o método de Gadamer para encontrar a verdade é aquela as quais todos poderiam aderir ao diálogo, aceitando a experiência do mundo real, dita pelo autor da seguinte forma:
“A compreensão e interpretação dos textos não é meramente uma preocupação da ciência, mas pertence obviamente, à experiência humana do mundo em geral” (Verdade e Método, 1960).
Isto é o que supera a atitude meramente teórica (até dos que reivindicam a prática e esconde seus métodos) aderindo ao que os gregos chamavam de phronesis (sabedoria prática), e nos dá a possibilidade de convergir, e torna o diálogo profícuo e útil, o contrário é proselitismo.
O processo pelo qual deve passar a vacina do coronavirus além de cumprir um protocolo, deverá através de sucessivas interações com o mundo real, teste em animais, observação de reações até o uso humano passar por sucessivas análises além da experimentação, é um tipo de phonesis.

 

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